Postagens

Mostrando postagens de abril, 2020

Renê Paulauskas

Coletivo Calangos- Renê Paulauskas

Toda vez que vejo cenas do filme do Wim Wenders ''Hotel de um milhão de dólares'' me emociono. Como são lindos os marginais, tão autênticos, por isso mesmo, fora do sistema. Vejo como o Vinil (Vinícius Tetti Silla) e eu demos uma parcela, pequena, mas importante criando esse blog como uma oficina experimental de trabalharmos nossas loucuras como arte. Escrevemos, tocamos, saímos do óbvio. O projeto inicial, junto ao Cris (Cristiano Mancuso) e meu pai (Faifi) que era de conseguir projeção e trabalho foi substituído aos poucos por uma vontade louca de fazer coisas novas que sentíamos na hora. Por isso o desenho, que já estava treinado há anos, foi sendo trocado por textos improvisados ou músicas. Mas isso talvez fosse muito pouco se eu e Vinil não tocassemos no que mais nos enquietava, a loucura. E desse modo demos nossa contribuição mais verdadeira, falando sobre nossas experiências com a dita cuja. O Vinil faleceu e eu continuei escrevendo depois de uma pausa. Enfim, no

Covid 19- Renê Paulauskas

Um amigo testou positivo para Covid 19. Está internado, vi ele numa maca sorrindo pra foto. Fóda! Quando a doença chega a adoecer um amigo é muito diferente de ver estatísticas ou jornais. A situação se torna real. Luz, cor, calor. Densidade, angústia, lembranças. Esse vírus mata, nem todos, mas uma porcentagem que mesmo não sendo tão alta, assusta. Hoje, fui contaminado pela terrível realidade do coronavírus: o medo de perder alguém próximo para essa pandemia. Há poucos anos perdi meu melhor amigo para H1N1, que também ataca o sistema respiratório, mas com uma letalidade muito menor. Esse amigo fumava cinco maços de cigarros por dia, o que foi decisivo para sua morte junto a Sars daquele ano. Hoje tenho medo por todos com deficiência respiratória, pessoas de idade, ou qualquer um que tenha o quadro agravado se testar positivo para o novo coronavírus. Essa guerra hoje molhou meus pés, abalou o sistema nervoso, mas ainda tenho muito ar para respirar. Estou sem palavras.

Peça- Renê Paulauskas

Peça ''Um breve passeio pelo bosque da loucura'' de Renê Paulauskas. http://bosquedaloucura.blogspot.com

Sol- Renê Paulauskas

Hoje eu acordei de um mal que foi embora. Como nos contos de fada, o surto que tirara meu humor deu lugar a um dia de sol. Mais leve tomei meu café da manhã e respondi algumas mensagens no celular. Que bom.

Mental- Renê Paulauskas

Mania de perseguição, idéias de conspiração, egocentrismo exagerado, são sintomas dessa minha doença. Que sem remédio, é como viver num filme sombrio de ficção. Quase sempre mais atrativo que a banal e insignificante vida real.

6mg - Renê Paulauskas

Ontem, depois de anos estável, dei uma pequena surtada. Tenso, nervoso, à noite não conseguia dormir. Tomei 2mg de risperidona a mais e consegui relaxar e dormir. Parece que nunca vou conseguir me livrar desses remédios.

Bike - Renê Paulauskas

Há alguns anos gastei o final do dinheiro que tinha guardado na compra de uma bicicleta. A idéia era voltar a andar como fazia vinte anos atrás, mas na verdade andei até hoje menos que dez vezes. Vendo ela parada, pensei em vendê-lá. Pra minha surpresa, valia menos que um quarto do valor que tinha comprado quatro anos antes. Até que um amigo pediu emprestado para trabalhar como entregador. E esse foi o fim da minha fantasia de voltar a ser ciclista.

Movimento - Renê Paulauskas

Todos erros e acertos fazem parte. De uma roda que respira, se fecha e se abre. Movimento da vida, pulsação de vida e morte.

Celular - Renê Paulauskas

Essa caixa da onde saem as palavras dos meus amigos e parentes mais próximos. Donde quardo sons e textos pra depois espalhar aos ventos. Que tira dúvidas sobre tudo o que penso. Que me dá o mundo, mesmo que limitado.

Ficar em casa - Renê Paulauskas

Sempre acreditei que o movimento está na rua, lá as coisas acontecem. Porém, com o passar dos anos, essa natureza foi sendo substituída por um acúmulo de solidão. Sair às ruas simplesmente, não significa nada. Encontrar pessoas interessantes, sim. Só o encontro nos dá a liberdade de nos conhecer, e a outras coisas, com curiosidade.