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43- Renê Paulauskas

 43, amanhã às sete da manhã faço 43 anos. Como disse um amigo outro dia, estou muito bem. Melhor que muitos anos que não estava mal, mas a elocubração da minha cabeça não me deixava enxergar. Me sinto jovem, disposto, pronto pra começar a vida. A mesma que brota um novo fruto quando a casca envelheceu.

Cindido- Renê Paulauskas

 Cindido! Quebrado, machucado, rompido. Cindido mais uma vez! Transformado, renascido, restaurado, revivido. E agora ando sem bengalas, mas ainda com dor nas costas, porque nada é esquecido.

Mágica- Renê Paulauskas

 Quando nós conseguimos ver as coisas de cima? Nunca! Somos produtos do meio, afundados em questões, conflitos, emoções e prazer desse mesmo meio. Fadados à superfície enquanto engrenagem da qual os artistas tiram sua mágica. 

Vitrine- Renê Paulauskas

 Vitrine de humanidades: para ser feliz basta estar vivo, para sofrer também. Não há critérios para viver, viva! Mas não se acostume com tudo, ache seu lugar. E um estranho há de vê-lo em seu habitat, dirá: Vitrine de humanos: a felicidade é um privilégio de poucos.

Morder- Renê Paulauskas

 Quero morder, mas quando mordo sangra. Gosto intragável dentro da garganta. Cicatrizes, dores de dentro e de fora. Inevitável força de fraqueza!

Cair da ficha- Renê Paulauskas

 Só agora caiu a ficha: ''Tô sozinho no mundo''. E por mais que isso tenha um peso, me alivia de não precisar estar com quem eu não gosto. Posso ser eu mesmo o tempo todo. E nada me impede de me relacionar com quem eu gosto. E de ficar de olhos abertos, que nem sempre as pessoas são aquilo que parecem. E confiar no destino, que sem isso nada vale.

Crônica 1-Renê Paulauskas

 Acabei de compor uma música no chuveiro, mas quando gravei e ouvi a gravação me assustei com minha voz. Definitivamente não sou cantor. Na TV ligada estava o João Bosco contando como conheceu Gilberto Gil na casa do Vinicius de Morais, desliguei. A nata, sempre ela em todos os lugares! Quase liguei o computador para ver um filme pornô, mas seria vazio demais. Então me refugiei nesse blogue abandonado.

Novo- Renê Paulauskas

 Do fim do casamento nasceu meu gênio estourado. Do temperamento normal passei à tolerância zero. Hoje me equilibro graças a remédios fortíssimos. Mas voltei a ter uma vida. Volto a pensar no futuro. A escolher meu presente. Tudo está errado mas tudo tem conserto. Não o casamento, nem os amigos errados. As novas escolhas.

Jaula- Renê Paulauskas

 E prometeram ao primata: ''Você ficará protegido dos seus predadores. Terá comida e bebida sempre à disposição. Não precisará mais caçar ou coletar como seus ancestrais. Terá tempo livre para fazer o que quiser a hora que quiser. Caso queira o ócio, ninguém o obrigará do contrário''. E foi assim que o macaco aceitou sua jaula.

Minha queda- Renê Paulauskas

 Minha queda foi depois de tentar evitar todas aquelas pessoas, por seus defeitos, foi perceber que todas eram humanas. Foi conversar com uma mulher acompanhada sem perder o encanto apesar da companhia de seu namorado. Foi ouvir, mais sentir do que dizer. Assim eu fui me acomodando também naquela forma humana. Minhas asas foram se desfazendo. Era eu imperfeito e com saúde. Quando voltei pra casa, depois de dormir algumas horas, uma tremenda ressaca. Mas ainda me sentia ligado àquelas pessoas.

Brasis- Renê Paulauskas

 Tem dois Brasis no Brasil. Um que entrou na universidade Federal, que estudou nos melhores colégios, conseguiu trabalho na sua área e antes de entrar pode sonhar. O outro está fora dos interesses dos governos, passa fome. Está longe dos projetos das cidades. Tem problema de habitação, saúde, educação, transporte, trabalho. É o Brasil esquecido. Que foi obrigado a continuar trabalhando na pandemia. Que pega o ônibus lotado quase todos os dias. E quando vai se divertir não tem mais medo de não usar máscara. Que mais morre nas estatísticas. Que ouve um pagode alto. Que dança, bebe e estravaza. Que sonha um mundo melhor dentro dessa bolha. Bolha sufocada pelos grandes centros onde estudantes repetem que aquele barulho distante é reflexo da indústria cultural de massa. 

Reflexos pandemicos-Renê Paulauskas

 Vejo amigos que depois do vírus se acostumaram a não sair mais de casa para ver mais ninguém. Pessoas que tinham vida social agora morrem de medo de sair de casa, mesmo com a situação mais controlada. Uma amiga outro disse ter se acostumado a ficar sozinha em casa. Nada contra curtir a casa sozinho, mas se é por medo de sair de casa, isso é um problema. E digo mais, um problema de saúde pública. Milhares de pessoas estão nessa situação. Que trabalho fazer para ajudá-las para voltarem ao normal é algo que precisa ser pensado. Essa pandemia foi um trauma pra muita gente. Vi um filme espanhol que um homem passou anos escondido em um buraco durante a guerra. Quando acabou a guerra ele não sentia mais segurança para sair do buraco. Foram anos até que sentisse coragem para pisar na rua novamente. O que está acontecendo com a pandemia é muito sério. Acredito que mesmo com a situação totalmente estável terão milhares de pessoas "acostumadas" a não mais sair.

O delírio - Renê Paulauskas

 O delírio, visto como processo de desencadeamento de sons, imagens ou sentimentos, pode ser entendido como uma inteligência. Não no sentido mais fraco, de resolução de problemas, mas como inter relação de conteúdos gerando uma cadeia de sentidos que é o próprio delírio. Esse processo se dá de modo inconsciente, não sendo de fácil acesso seus motivos. A substância dopamina, responsável pelo prazer entre outras coisas, se produzida em excesso pode gerar esse tipo de delírio conhecido como surto psicótico. Esquizofrênicos e certos tipos de bipolares produsem dopamina em demasia. Mas ainda há muito o que descobrir sobre os processos do delírio. Deixar de estigmarizalo como loucura já seria um bom começo. 

Queima- Renê Paulauskas

 Queimei, queimei as cartas que me prendiam à ela. Foi queima tardia depois de dezoito anos separados. Queimei agora, pra voltar a viver, agora com quarenta e pouco. Mas mesmo assim me deixou mole, cansado, desanimado. Tanto tempo perdido. Agora enfim me desliguei. E na queima, voltou alguma coisa. Uma fagulha de cinza que entrou no meu peito. Agora é esperar. Decompor. Aí sim, quem sabe, estarei outro.

Arte digital- Renê Paulauskas

 Os NFTs atualizaram a arte. Como produção, registro e comercialização da arte digital. Enfim a materialidade do objeto se perdeu. Até o comércio desse modo de arte é feito em moedas digitais. Para registrar uma imagem ou vídeo precisa ter dinheiro, mas é muito mais democrático do que ter que passar por um aval de uma galeria. Tudo o que fora descartável por ser criado através  do computador agora passa a ser super valorizado como arte. Expressão do nosso tempo. Agora podemos dizer que em matéria de arte entramos no século XXI. 

Celular- Renê Paulauskas

 O vício do celular confunde minha vida com o aparelho. A ansiedade faz eu dar voltas e voltas pela casa. Como se tivesse preso num looping à espera de mensagens que apitam de tempo em tempo. Não é vida, é a vida em função do aparelho. Nele abasteço redes como whats app, Facebook e Instagram. Escrevo neste blogue, gravo músicas e as adiciono no soundcloud. É uma vida toda voltada para esta máquina. Tento me desplugar mas não consigo, medo de me tornar uma ilha. Então olho o celular. A pandemia acirrou ainda mais essa dependência. Isolado em casa o aparelho me reporta o mundo. Um mundo de pessoas plugadas como eu. Com possibilidades de vida perdidas em algarismos. As redes nos consomem e nem nos damos conta.  É um caminho sem volta. Até a preocupação em não viciar já está inclusa nas novas plataformas. Mas a possibilidade de viver sem um aparelho é cada vez mais remota.  É uma troca do empírico pelo virtual. Como se quase não tivesse diferença. É dessa forma que somos dominados sem perc

Bolsonaros- Renê Paulauskas

 Vejo o Bolsonaro nas ruas, bebendo sem máscara. Nas casas, espancando suas mulheres. Nos quartéis, abusando do poder. Na mediocridade humana. Na vil e torpe descrença no futuro. No erro banal. Vejo ele em tudo. Ele é a regra não a excessão. 

Língua - Renê Paulauskas

 A dica que eu dou pra quem tá começando a vida agora é: Enfie a língua toda. Enfie a língua toda em outras línguas, outras bocas, outros corpos. Que essa língua tem o poder de guardar texturas, gostos, sentimentos. Aproveita enquanto ela é maior do que sua cabeça. Pois quinze anos depois já começa a envelhecer. Sente a vida sem preconceitos. Depois terá uma razão que não te abandona. Olhos que pouco enxergam, pois não verá o mundo com sua língua. Meta a língua toda!

Revolta- Renê Paulauskas

 A revolta vem da alma. Cansada, esgotada, acha força não se sabe da onde, mas revitaliza eufórica, mais viva do que nunca antes para travar sua guerra. É um surto, algo que não se controla, que vem de anos, décadas reprimido, pedindo fôlego, pedindo ar. Quando vem não mais vai embora, se âncora, faz seu porto. Passa uma década, quase passam duas. A alma se refaz aos poucos, mais frágil, menos eufórica, mais humana. Agradeço a essa força que tive, sem ela nunca teria como voltar a ser somente eu.

Sonho- Renê Paulauskas

 O sonho me assustava e acordava no meio da noite. Era um aluno dentro da classe. De repente tudo começou a levitar, as carteiras, os alunos, e bati uma foto. No segundo depois entreguei a prova pro professor com aquela foto. Saímos no intervalo, fomos à praia, mas não podia entrar no mar, estava de cueca. Quando voltamos o professor me cumprimentou dizendo que tirei dez. Fiquei apavorado e de longe disse que tinha tirado zero.  Acordei assustado. Com a sensação ainda muito real do sonho. O medo do desatino. Voltar a surtar. A sensação de as coisas aconteciam por minha vontade, ou da minha cabeça. Mas depois voltou tudo ao normal. Sonhos são assim mesmo. 

Bolor- Renê Paulauskas

 Bolor, esse fruto deveria ter sido mordido vinte anos atrás. A moral sufoca a vida, essa não perdoa. Ou não, não teria sido mais que a beleza da fruta por si mesma. E a separar das outras, simples escolha. A fome faz lembrar daquilo que rejeitamos. E agora já é um fruto velho. Que desperdício.

Buraco negro- Renê Paulauskas

 Existe um buraco negro dentro de mim. Por isso componho, escrevo, desenho e às vezes até faço humor. Quando digo buraco negro, não confundir com depressão, é mais uma bomba atômica, ou todas juntas aniquilando essa coisa que se chama vida. Por isso tenho outro lado. O que não mata o inseto, que reza, que sonha. Que acredita num mundo mais justo, menos desigual. Que ama os amigos, a família, os iguais. Que acredita no amor. Para que eu não me torne nesse buraco negro, que quer tudo engolir.

À grande deusa - Renê Paulauskas

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Do alto- Renê Paulauskas

 O burguês joga pedras do alto de seu prédio no telhado da casa pobre do seu vizinho sem se preocupar com nada. O rico tudo tem, direitos, polícia, liberdade. O pobre nada tem, a não ser a fé. Se segura nessa corda bamba com rezas, pedidos, prometendo graças, confiante da vida, sorrindo pra ela. Até que um tiro certeiro te atravessa. E toda molhada no chão desfalece. O tiro certeiro do guarda. Tão certeiro como o lixo do burguês jogado de sua janela. Morre seco, sem direitos, sem liberdade. Vive o porco burguês de sua janela. Removem o corpo, está tudo limpo mais uma vez. Joga o lixo mais uma vez.

Ciência - Renê Paulauskas

 

Falta de ar- Renê Paulauskas

 Nessa pandemia, a falta da rotina da vida de antes, o confinamento e estreitamento social, acirra os surtos e delírios como um desvio de percurso procurando ar. A ansiedade aumenta, as possibilidades de extravasar diminuem. Surtos, depressão, delírio, Ansiedade. Tudo num caldo de mundo apocalíptico, quase sem brechas pra respirar. A catarse se faz no exagero, no descontrole, na imaginação. Ou morre na falta de ânimo, perspectiva. O novo normal é ser esse monstro. Esse ser adoentado com sequelas desse tempo louco em que nos encontramos. 

Galã- Renê Paulauskas

 

Surto psicótico - Renê Paulauskas

 

Despedida- Renê Paulauskas

 Me despedi da minha mãe e fui dormir no quarto que era do meu avô. Acordei no meio da noite com um som de um cachorro gemendo. Sabia que não podia ser um bicho de carne e osso, parecia mais um espírito, e tentei voltar a dormir um pouco assustado. Pouco depois senti como uma lambida gelada nos dedos do meu pé esquerdo, que coçam sem parar, desde aquele dia em que terminei com Astrid depois de perceber que eu era seu amante e há ter chutado e quebrado o dedo indicador do meu pé. A lambida fria parecia do meu antigo cachorro Tony, mas quando senti na virilha, lembrei da Astrid. Pensei que depois de todos esses anos, com coceira e sem mulher ela estaria lambendo minhas feridas para eu recomeçar. Realmente, depois dela, nunca mais tive relacionamento com ninguém, isto é, ninguém que fosse casada ou comprometida. No final ouvi ela dizendo alto com a voz da minha mãe: ''Engraçado, Paulo!''

Terra infectada (micro-conto) - Renê Paulauskas

 A Terra foi infectada há milhões de anos por uma coisa chamada vida. Essa coisa tem por finalidade a sobrevivência e reprodução de sua própria espécie. Passando metade de seu tempo gasto com a sobrevivência e outra metade descansando e procurando se multiplicar. A última ramificação de sua forma é a vida humana. Que conseguiu meios de prolongar o tempo de vida de sua unidade sem diminunir sua reprodução superpovoando o planeta. Essa forma de vida mais recente chamada humana gasta parte de seu tempo mais recente procurando vida em outros planetas sem se dar conta que a própria vida é uma infecção. 

Quando um acaso vira sincronicidade- Renê Paulauskas

 Foi na copa de 2002, final nos últimos minutos, quando eu acelerado, chamando a atenção do meu pai que não tirava a atenção do jogo na televisão da sala, falei: ''Não vai me escutar, então vou acabar com esse jogo'' E passei o dedo na tela direcionando a bola do jogo ao vivo até o gol, no mesmo instante que foi gol do Brasil, encerrando como campeão mundial da copa naquele ano? Voltei para meu pai e disse: ''Agora podemos  conversar?'' Meu pai ficou assustado. Sua namorada tentou o tranquilizar dizendo: ''É gravação''. E meu pai: ''Não é gravação, é ao vivo!'' Ela ficou ainda mais assustada. Pouco depois ouvi uma voz dizendo na minha cabeça: ''Tem um novo jogador aqui. Seu nome é Renê Paulauskas da Rocha''. Se não fosse aquela voz, acredito que tudo teria sido diferente. Eu não acreditaria ter feito o gol da copa daquele ano. Tudo teria sido apenas uma grande coincidência. Demoraram quase vinte anos, toman

Lispector - Renê Paulauskas

Hoje estava inspirado para ler. Sim, existe inspiração para se ler, como tudo. Lí algumas crônicas de Clarice, da época que escrevia em casa para o jornal. Ela descreve tão bem coisas que já vivi. Como gosto dessa mulher. Que faz eu me conhecer em suas palavras desde minha adolescência. O livro era pra minha filha. Natural querermos que os filhos leiam o que nos inspirou. Talvez ela não goste como eu. Ser pai é aceitar as escolhas da filha. Talvez ela goste. Antes, vou terminar de ler.

Fracasso- Renê Paulauskas

O fracasso me alcançou. Entrou como um grude na sola do sapato. Foi difícil de perceber no início. Era uma coisa aqui, outra ali, mas nada me abatia por esse lado. Fui andando pleno, confiante. Até sentir o grude prendendo meu passo. Continuei, mancando, mas ativo. Até começar a sentir o cansaço. Os caminhos iam se fechando, as ruas se estreitando. Os corredores derrepente se viam vazios. Com o tempo fui ficando sem ar. Meu otimismo, quase imbatível, deu lugar ao deus dará. Toda força que parecia inata deu lugar a um ser que mal consegue caminhar. Estou cansado. Cansado de lutar. Quero descansar num canto. Estou cansado de tanta coisa. O escuro me acalma. Talvez precisasse desse dia. Desse morrer. Sentir esse dia como um um pouco morrer, mas ainda estar vivo. Ainda respirar. Mesmo que em silêncio. Ouvindo as gotas da pia. Que a vida não depende de mim. Que posso fracassar. Que o mundo não é perfeito. Que as pessoas morrem. Que existe fome no planeta. Que utopias são sempre utópicas. Qu

Silêncio - Renê Paulauskas

 O peso das horas me prende no chão. Subsolo de imagens e recordações. Respiro, tão bom não pensar. Olho, me vejo. Tão bom calar. Desejo, penso. Volto a me angustiar. Queria ela, um vinho, uma trançada de pernas e o silêncio.

O mau acadêmico -Renê Paulauskas

 Uma dica que eu dou pra quem está entrando na faculdade agora. Questione seus professores com argumentos além da instituição. Expresse suas idéias em sala de aula e em provas. Estude além do pedido o que lhe interessa. Aprenda mais com a vida do que com os professores. Ou copie e cole tudo que seu professor mandar SIC a SIC e se torne um ótimo acadêmico burro.

, (micro-conto) - Renê Paulauskas

 A vírgula estava me matando aos poucos. No começo achei que era somente uma pausa entre uma coisa e outra, quando vi estava mudando o sentido de tudo. Começou como uma tosse e foi virando tuberculose. Com o tempo já não era eu que falava, ela dizia por mim. Ainda estou meio viciado nela, mas digo, estou tentando mudar. Aos bons amigos peço se por descuido meu, a ignore quando for demasiadamente. Agradeço a todos a compreensão. Espero voltar dessa mais forte e sábio.

Amor- Renê Paulauskas

 Queria de novo encontrar o amor. Numa esquina, como uma borboleta branca, pequena, divertida. Pensando bem o encontro sempre, só não o prendo mais. 

A hora da colheita - Renê Paulauskas

 Sinto que agora, depois de ter passado maus bocados, é hora de me vingar. Não fazendo o mal, ou dando o troco, simplesmente me separando definitivamente dessas pessoas. Me diferenciando delas, suas maldades, suas escolhas. Sendo eu, diferente delas, alguém que não quer fazer mal.

Enterro das horas- Renê Paulauskas

 Amanheço ansioso para o dia começar, mas ele não vem. Vou me enterrando aos poucos conforme o passar das horas. A tarde chega sem respostas para já tanta inquietação. Desmarco meu compromisso ainda no início da tarde, antecipando um possível não. Mas olho, minuto a minuto, esperando ainda uma surpresa. Fim da tarde, escrevo esse desabafo enterrando o dia que não veio.

À minha vó- Renê Paulauskas

 Vó, há pouco tempo não tínhamos saída, éramos trancados longe da família, maltratados com eletrochoques. Éramos banidos, ignorados, invisibilizados. Hoje ainda temos uma estrada a percorrer, de luta de direitos. Mas hoje estamos mais fortes, mais conscientes, mais assistidos. Não posso dizer qual o caminho, se devemos buscar a razão ou defender a loucura. Acredito que cada qual deve achar a sua voz. Mas, vó, hoje já não nos calam! Tem muito preconceito  ainda por aí. Mas cada vez mais é normal ter algum transtorno ou doença mental. Depressão, Transtorno Bipolar, Ansiedade, TOC... A lista é longa. E todas as pessoas com essas e outras doenças tem uma vida normal. A luta antimanicomial, iniciada na Itália nos anos 70, ganhou o mundo! Aqui hoje as pessoas são tratadas em CAPS, voltando para casa todos os dias. Em casos menos graves a pessoa faz tratamento em postos e UBS com atendimento psiquiátrico e remédios. Minha vó, gostaria que soubesse o quanto avançamos. Queria mais, que viesse c

Sonhos- Renê Paulauskas

 Quem dera os sonhos se materializassem, sem dúvidas ou imperfeições. Só os sentidos plasmado-se no todo, engrenagem divina de um mundo etéreo. Mas acordo e caio no asfalto áspero, desilusão. Mundo cão! Cheio de falsas ilusões! 

Afazeres- Renê Paulauskas

 Não quero meu ego inflado, quero alcançar as pessoas que ecoam em minha cabeça. Não quero fama, quero servir como auxílio. E que amanhã é um outro dia, que eu tenha outros afazeres.