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Mostrando postagens de agosto, 2023

Humanidades- Renê Paulauskas

 Fui dormir, acordei normal. Querendo sucesso, não muito, o suficiente pra viajar a América Latina e poder ajudar com a faculdade da minha filha. Mas não sou normal, nem posso exigir que meus amigos e familiares o sejam. Como acordar me sentindo normal e defender o contrário?  Cada um tem um jeito de ser, com todas suas qualidades e defeitos. Cabe a cada um respeitar as diferenças para viver em harmonia. Mas lá fora, no mundo normal, exigem tudo de você, um verdadeiro moedor de carne, pouco importando se você tem ou não problemas. Precisamos resistir para não adoecer. Os que adoecem, às vezes acordam com diagnósticos pouco favoráveis. Esquizofrenia, bipolaridade, depressão, toc, a lista é longa. Mas mais do que normais, ou não, somos humanos.

Enigma- Renê Paulauskas

 Serei eu um títere desse mundo? Mas como me desvincilhar daquilo que meus olhos vêem, apenas nas certezas traiçoeiras da mente, que martela coisas impronunciaveis? Tenho mais dúvidas do que certezas, mas desliso por um fio que assegura o caminhar dos meus pés. Senão, o desatino me arrastaria tão profundo como um precipício. Trago minha sentença como um trabalho de detetive, sem ter certeza de decifrar o enigma.

Faísca - Renê Paulauskas

 Ah, suicidas! Não querem morrer, querem outra vida. Mais intensa, mais viva. Talvez uma sem as limitações da gravidade, da fome, da dor. Uma vida como uma faísca em chamas. Enquanto essa vida não vem, se arrastam os suicidas em suas cadeiras, se escondem em camas malditas, sonham outros mundos afora. Maldito não é o suicida, é a vida, esse inhame insonso que governa o dia a dia dos mortais. Essa engrenagem imensa e massiva que gira tão lenta a nos matar em câmera lenta. Mas herói não é o suicida. Um covarde, um fujão, ao menos que não seja um suicida altruísta. Esse sim é herói. Se sacrifica por algo maior. Tem em mente um mundo inteiro, além de seus pés. O suicida clássico não tem essa paciência. Sem que já perceba, já se matou.

Ventos- Renê Paulauskas

 Memórias são como ventos em nossa direção. Cheiros, tons, raivas e risos, nos perdendo em segundos. Nos perdendo, não, nos achando. Perdemos, sim, tempo em querer mudar o passado. Esse tempo eternizado em nossas mentes. Só nos resta andar, caminhar, seguir novos rumos, se deixar levar. Mesmo que isso pareça piegas como uma sessão da tarde. Se vierem ventos que te deixe tenso, não esqueça de respirar, eu sempre esqueço.

Seres- Renê Paulauskas

 Tu não me entende, porque há muitas coisas acima de sua compreensão, que são presas por fios tão finos, que jamais conseguirá enxergar. Segue o teu caminho tranquilo, não perde tempo, nem com as pedras, nem com o céu. Uma vez me disse da dificuldade de entender metáforas, risos, esquece este texto também. Tateia com sua razão o que restou do mundo. Ri, bebe e sonha os teus segredos. Nada mais importa, somos seres mortais.

Loucura.doc- Renê Paulauskas

 Hoje fui tomar banho, e fazendo a barba, nem me cortei. Limpei a espuma do sabão e vi o resquício de uma cicatriz antiga no pescoço, coisas de juventude em tempos difíceis, onde a mente estava dominada por seres sem íris, um verdadeiro inferno na Terra.  Hoje estou pleno, porque posso falar sobre a loucura, sem estar louco. E isso reforça minha arte, como se fosse um caminho seguido, sentido, e hoje entendido, o suficiente para escrever sobre ele. Muito antes de surtar, quando criança, a loucura já captava minha atenção. Lembro de com uns sete anos ver uma exposição completa das obras de Arthur Bispo do Rosário, nada antes me tocara daquela maneira. Suas obras como reinvenção do mundo a partir de seus surtos, só mais tarde fui entender, mas a imponência de sua obra, me deixou embasbacado. Adolescente conheci os vídeos do Leon Hirzsman, Imagens do Inconsciente, sobre o tratamento através da pintura dos pacientes psiquiátricos da Nise da Silveira. Nesses vídeos mostrava como o tratament

Eu vi!- Renê Paulauskas

 Eu vi! Eram luzes se avolumando e dispersando, sempre do mesmo ponto, crescendo e dispersando. Era criatividade ali expressa em imagem. Donde surgem as coisas, a vida. Eu vi, num quarto escuro, onde os outros não enxergavam nada! Onde surgia minha vida, tão rota e abandonada. Na noite escura, sem lua, sem nada. Eu vi donde surge a vida, espessa, compacta. Vi na noite mal dormida, de vida cansada. Essa que cria, enquanto pensa, outra vida pra nos alimentar.