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Mostrando postagens de dezembro, 2014

O AVENTUREIRO- RENÊ PAULAUSKAS

Um homem, cansado de sua história, de ver sempre as mesmas paisagens e recorrer às mesmas memórias, resolveu deixar tudo para trás e sair de sua terra natal, um pequeno oásis no meio do deserto. Ele andava em meio às dunas, enfrentando o mais terrível deserto, acreditando que o mundo era muito maior do que aquilo. Estava já no segundo dia andando tentando se guiar pelas estrelas rumo ao sul. Tinha água e pães para três dias e três noites. Não duraria muito mais se algo como um milagre não acontecesse. Na noite do terceiro dia, já esgotado e sem mantimentos, sem esperanças deitou no deserto para dormir e não pensar mais em nada. Na madrugada em vigília, viu três homens africanos o levar para outro lugar. Quando acordou de manhã estava num palácio de paredes azul turquesa com fontes por um longo caminho cercado de palmeiras imperiais. Levantou e estava disposto e animado como se não tivesse andado por três dias seguidos, como se alguém ou algo tivesse tirado seu cansaço. Logo vieram d

O Jovem Tímido- Renê Paulauskas

Ele andava com a cabeça levemente inclinada para baixo. Olhava para o chão, mergulhado em pensamentos de sua vida que vinham e iam como ondas do mar. Olhava também para o céu e quando havia lua, essa o compenetrava de um jeito como se levitasse por uns instantes e não sentisse mais seus pés. Renan Era jovem ainda e como todo jovem chamava a atenção e os olhares das moças, que ele quase não percebia sempre entretido em seus pensamentos. Mas quando ficava sabendo de algo, por vezes através de outras línguas, ficava eufórico quando não perdia o controle. Nos encontros era tímido como um ratinho. Olhava o tempo todo para o chão calado e tenso. Após elas irem embora, aos poucos ia voltando ao normal, tomava coragem, ficava mais confiante, querendo de novo encontra-las menos tenso e mais sadio, mas elas já não queriam mais nada com ele. Foi vivendo assim, de timidez em timidez até seu primeiro beijo, já no segundo colegial. Era uma menina tão diferente como ele apesar de serem complet

Um Novo Mundo- RENÊ PAULAUSKAS

Hoje chove e as gotas me separam de sair lá fora. Assim como a falta de juventude, suficientes para tomar um banho de chuva. Assim como os mais novos se separam da mesma vida por estarem ligados aos micro computadores. Este mundo virtual com o qual se relacionam é tão presente como a presença de chuva para mim, tão real quanto, algo que possa molhar. Não sei se talvez pela minha idade, ter crescido num mundo sem essa realidade (virtual), possa discorrer sobre este assunto com alguma crítica ou isenção de valores tão atuais. Toda a diferença entre o virtual e o real está num pequeno detalhe, o da coisa ser ou não transmitida ao vivo ou reproduzida como por um aparelho de computador, como no caso de uma conversa online. O fato é que mesmo no telefone existe uma alteração daquilo, da voz, se caso fosse transmitida ao vivo, e no caso de uma conversa escrita, é colocada em códigos, como eram escritas as cartas antigamente. E sobre uma reportagem, por exemplo, transmitida ao vivo, nunca

A Folha em Branco- Renê Paulauskas

A folha em branco. A folha estava em branco e me relaxava o fato de ser tudo possível e não definido. Agora surgiram as palavras, estas mesmas que insistem em dar relevo, cheiro, tato. Antes era uma nuvem molhada de coisas que estavam por vir, e que poderiam deixar de existir caso desistisse de digitar na sua tela coisas tão inúteis como essas. Minha vida, os próximos meses, os próximos anos, são um enigma para mim. Acabo de fazer trinta e seis anos, mas estou otimista, acho que não vou morrer. Antes acreditei que sim, talvez tenha morrido em parte naquele dia. Mas hoje não. Hoje sou como eu renascido e acreditando na vida mais um pouco, e considerando todas suas facetas impossíveis. De qualquer forma, não vou demorar anos para escrever este texto. Certamente falarei de coisas ao longo de alguns dias, pontuando memórias, reflexões e acasos. Talvez esse não seja o texto com começo, meio e fim que esteja acostumado, mas não sei escrever de outra maneira. O homem se via só. Tão

DISSIPAÇÃO -VINICIUS TETTI SILLA

No inferno é gélido Palidos ficamos E na longa montanha a subir Até nos cansamos Mas quando chegamos ao pico E avistamos o verde vale O frio se dissipa Aquelas visões de fantasmas Evanescem E vamos ao paraíso Comer do fruto proibido Para ter juízo E essa lugar de bonança É na terra mesmo

Tentativa de um autor preso em sua obra- Renê Paulauskas

A vida, não a vida, a vida invertida, escrita, pensada, imaginada, esta limitada e glorificada em paginas escritas, como os sonhos, os poemas, as coisas que fazem nexo, que são lembradas, absurdamente verdadeiras e não menos falsas, esta vida, é a qual mais me motiva, deixando a outra vida, cada vez mais em segundo plano, abandonada, esquecida, como substrato dessa vida formada de palavras. Assim por ela, imagino minha vida invertida, como vida paralela à verdadeira e almejada de outro plano, que não o terrestre, como dizem os físicos, um mundo paralelo quem sabe possível através dum buraco negro. Quem sabe não exista um outro eu neste momento escrevendo e imaginando uma vida como a minha, tão terrena e despropositada que somente um escritor altamente inspirado possa imaginar. Os medos se perderam pela selva em folhas e paisagens repetidas. Agora só restava a fome. O gesto e o afago foste vago, brando, esquecido. Os olhos não viam outra coisa se não o chão. Assim mesmo não se via

Ideias- Renê Paulauskas

São as ideias que movem o mundo. Elas são geradas ou absorvidas por nossos cérebros e modificam nossa química cerebral, às vezes como remédio, outras como droga. Uma ideia pode mudar um homem, para o bem ou para o mal. Pode mudar todo um pensamento de uma época, mudar o mundo. Mas a consciência que este processo se dá através das ideias é mais importante para mim neste momento do que querer provocar qualquer mudança em mim ou fora. Este mecanismo precisa ser estudado. Uma ideia sobre o que é uma ideia Uma ideia pode ser expressa por um símbolo: um desenho, uma escrita, um gesto, mas não é definida por seu símbolo, e sim pelo interpretador de seu símbolo que ao incorporar conteúdo à mensagem lida, define uma ideia ao seu símbolo. Esse processo se dá quase automaticamente, prestando pouca atenção a ele. Para exemplificar, talvez seja mais fácil quando esse processo é consciente, como num trabalho. Para escrever este texto tive uma ideia primeira e depois fui prolongando seus con