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Mostrando postagens de outubro, 2018

Ser humano- Renê Paulauskas

Que tipo de coisa sou eu, que não aceita ser contrariado, que declara guerra aos inimigos, que não tem paciência nem piedade? Essa coisa, por mais que tentem esconder, é o ser humano.

Flor- Renê Paulauskas

A falta de sentido fez nascer a flor da destruição. As paredes do templo não foram tão grossas para impedir os sussurros nos ouvidos da criança. Tempos difíceis que vivemos. Mas nunca foi fácil, nunca foi fácil.

Equilibrista- Renê Paulauskas

Volto a esperar demais. Esses olhos fundos. Labirinto. Sede.  Um pé no mundo, outro no além. Sem se perder na mata dos delírios. A arte equilibrista. O desejo de ser pássaro com pés no chão.

Cegos- Renê Paulauskas

Apaguem todas as luzes. Ceguem os olhos dos surdos. A venda velha, carcomida, cheirando mal. Os ratos novos na vagina. Os fios elétricos no anus. Batam palmas! Risos histéricos. Soldados rasos. A vítima é uma estudante, um artista, uma intelectual? Não! É você. Você que se expressou aquele dia. Aquele dia em que todos deveriam estar calados. Mas por que esses pássaros não param de cantar? Não seguem leis? Sem hierarquia, sem respeito. Como é difícil controla-los. Pois mesmo cegos, cantam ainda mais.

Talentos- Renê Paulauskas

Talvez eu nunca tenha acertado a pedra. Quem sabe meu lugar não estivesse guardado. Fora da fila me criei. Outsaider das ruas, cem porcento improviso. Tive passagens em lugares estabelecidos graças a ajuda de alguns que acreditaram em mim. Mas na maioria do tempo vivi sem regras, longe das hierárquicas estruturas. Fui feliz assim, longe do peso do sucesso, perto do aqui agora. Não posso reclamar do meu caminho, apesar de quando criança imaginá-lo diferente. Queria ser desenhista, ilustrador, uma vida estável. O mundo me fez caricaturista, trabalhando em eventos, trabalhando nas ruas. A vida se faz, tem sua própria lógica. Lembro quando criança, vi um poeta de rua vender seus poemas, pensei "isso não quero ser". Hoje me dedico mais a escrita por não ter alcansado um bom lugar como desenhista. Se foi tão difícil com o desenho, imagino, o que terei que passar como escritor?

Sempre segui a mim mesmo- Renê Paulauskas

Sempre segui a mim mesmo, mesmo errando e corrigindo minhas pegadas. Mas hoje me sinto cansado, querendo seguir a alguém que tenha nos pés o caminho percorrido mesmo antes da largada, por mais que saiba que isso é impossível. A vida não está fácil. Uma nuvem negra ronda nossas cabeças todos os dias e noites antes de dormir. A vida selvagem se confunde e mescla na civilização da barbárie. O medo é exalado pelos poros, ninguém está imune. Agora sei como se sentiam os judeus e entendo também sua impotência diante de toda uma estrutura social mais o Estado contra ele. Agora podemos ser nós: os progressistas, artistas, sociólogos, intelectuais, enfim. Precisamos juntar forças. Fora da resistência agora é quase impossível sobreviver. Mas precisamos de mais, de vida! Fazer ecoar do chão nossas raízes. Fazer nascerem brotos de todos os tipos e sabores. Não sei se antecipo aqui uma era das mais difíceis que minha geração há de viver, mas assim desabafo aqui e agora na missão de somar

Poe na conta- Renê Paulauskas

Crise mundial. Não tenho mais trabalho mas tá tudo bem com o Brasil, poe na conta. Racismo. É um problema de séculos, poe na conta. Homofobia. Ainda somos muito atrasados, poe na conta. Golpe de Estado. Temer e o atraso, poe na conta. Entrega das estatais. Tá cada vez mais difícil enxergar um futuro nesse país, poe na conta. Fascismo no Brasil. Poe na conta. "Desculpe, seu crédito terminou".
Pneu furado, farpa de bambu. Dia nublado, esconderijo no meu quarto. O cinza tinge o rosa. Gotas de chuva no choro da manhã. Respiro fundo, o mundo não acabou.

Fragmentos de erupção- Renê Paulauskas

O sonho está latente em mim. É um vulcão que quer explodir. Explodir o mundo, fazer revolução. Mas o mundo está fechado em si mesmo. Contornando retas, abafando vapores. Queria ser só uma criança. Teria o mundo aos meus pés. Mas a inocência, quando se perde, não volta atrás.