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Mostrando postagens de fevereiro, 2024

Caixas- Renê Paulauskas

 Num planeta uma coisa chamada vida se desenvolveu por um sistema de reprodução e alimentação onde uns comiam os outros. Bilhões de anos após essa cadeia ter iniciado, uma forma de vida se destacou. Viviam agrupados aos milhões em pequenas caixas donde saiam para serem agrupados em tarefas ditas por outros em troca de crédito para comida, roupas e pagar os recursos das caixas de moradia. Esses seres tinham criações de outros seres só para se alimentarem. Assim como criavam uma enorme quantidade de produtos para gastarem com seus créditos. Quase não saiam de suas caixas fora dos dias em que faziam tarefas para os de caixas maiores, que também faziam tarefas para outros que viviam em caixas ainda maiores e que viviam de caixas gigantescas de onde vinham e eram fabricados os créditos. Se agrupavam em pequenos bandos de parentes consaguineos ou de pares em casal ou até mesmo sozinhos. As relações afetivo- sexuais desses seres tem início pelos símbolos sonoros desenvolvidos por um filamento

Castelo de Areia- Renê Paulauskas

 Ele chegava em casa, tirava a roupa e tomava um banho. Em seguida punha um pijama e chinelos. Sentava na poltrona da sala e ficava somente com as imagens dos objetos em volta, luzes e sombras e o barulho de sua respiração junto aos ruídos da vizinhança. Um pensamento ou outro passava pela sua cabeça, mas nada que o perturbasse. Nunca fizera yoga, nem curso de meditação. Achava ridículo alguém achar que, ficar olhando os objetos da sua sala sem muito o que pensar, fosse algo digno de elogios ou algo parecido.  Mas em outras horas era tragado por seus pensamentos onde sua aparência era de quem estava fora do ar. Ao mesmo tempo tinha uma mente limpa que era carregada por pensamentos complexos. Tinha muito tempo livre, e às vezes, não sabia o que fazer com o excesso de horas do dia. Pensava: "seria tão melhor se as pessoas trabalhassem menos e tivessem mais horas pra si". Para ele, inclusive.  Se sentia às vezes afastado do mundo. Como se tivesse numa redoma de vidro. Como se nã

Carnaval do Capeta- Renê Paulauskas

 O evangélico abstêmio sai de casa para ir à igreja. O ônibus muda o trajeto por conta dos bloquinhos de carnaval. Desce e vai a pé. Uma loira de mini saia o para no caminho dizendo "Gostei!" Passando a língua nos lábios e sorrindo. Ele segue seu caminho pensando "Isso é coisa do demônio". Para pra comprar água de um ambulante que diz "Só tem cerveja!". Segue em frente naquele calor do cão, pensa "Faltam só quinhentos metros" quando vê a rua de acesso fechada. O bloco de carnaval o atropela. Passam a mão na sua bunda. Despejam bebida em sua boca. Seus olhos arregalam. Solta um riso demoníaco e pega um latão, beija na boca dos transeuntes. É levado pela multidão. Furtam-lhe a carteira e o celular. Passa mal no caminho. Vomita. Furta uma vodka, sai correndo bebendo no caminho. Fica aceso como um capeta. Dá uma risada demoníaca que ecoa no carnaval.