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Mostrando postagens de fevereiro, 2020

Flor- Renê Paulauskas

Plantei flor e não vingou. Venho plantando flor desde o fim de um outro amor. Mato cresce, se espalha, mas a flor nunca brota. Vou rezar dessa vez pra ver se vem alguém. Um broto novo neném. Pra meu coração voltar a bater. Pra eu também não perecer.

Meninas sinceras- Renê Paulauskas

Ah, sapatas! Como são lindas. Não todas, mas as bonitas. Diretas, francas, ousadas. Com suas peles delicadas de pequenas amazonas seguindo viagem. Sem medo fazendo amizade. Fico encantado com tanta beleza, sapatas sinceras.

Simples peido- Renê Paulauskas

Um simples peido é antes um intestino com gazes, por mais que não associemos na hora. Cada coisa traz em si um desenrolar. Até nos sonhos é assim. Só não percebemos por acúmulo de tarefas ou ações. Assim as coisas funcionam.

Caminhando- Renê Paulauskas

Tudo que eu penso vem do mundo, mas não é o mundo. A chuva que cai esbarra em mim, mas cai com uma densidade muito mais forte sobre o chão. Ainda não sou tão insignificante como um em bilhões, mas me moldo, pouco a pouco, a ser um indivíduo cosciente. Como todo ser, cheio de potencialidades.

Ônibus- Renê Paulauskas

Ontem de madrugada, esperando o ônibus pra casa, apareceu na estação uma menina de verde que me chamou a atenção. Sentou do meu lado e começamos a conversar. Falei do meu amigo que depois que fica bêbado não quer mais voltar pra casa. Ela disse que tinha tomado uma baita de uma chuva no carnaval. Esperávamos o mesmo ônibus, em trajetos opostos. Depois de partir pensei como seria legal reencontrá-la. Mas na hora nínguém tinha ou pensou em pegar no celular. Deu um sentido aquele pequeno trocar de ideias. Como se estivéssemos certos e o mundo tivésse errado.

Ocioso- Renê Paulauskas

Para quem tem excesso de tempo livre, não mais estuda, nem trabalha, administrar o tempo pode ser uma tarefa árdua. Muito mais fácil seria se deixar explorar por subempregos numa era de fim dos direitos trabalhistas. Mais fácil, não melhor. Estudar já pode ser uma saída, já que não se pode viver só de lazer. Mas depois de formado, muito melhor a liberdade de ser autodidata. O problema é que continua faltando o caráter de socialização, que mais faz falta para quem não se encontra num trabalho ou numa escola. Quando era mais novo estudei numa escola de desenho que foi fundamental para minha formação, muito mais do que a escola de primeiro e segundo graus. Estava envolvido com o tema do desenho de modo apaixonado. Consequentemente conheci outros com o mesmo propósito. Quando fiz teatro na adolescencia senti o mesmo. Fui acolhido pelo grupo que me identifiquei ficando quatro anos com eles. Depois voltei para a escola de desenho, virei assistente do cartunista que era fã e comecei a trabalh

Canto dos pássaros- Renê Paulauskas

Acabo de ouvir daqui de casa dois pássaros diferentes cantando juntos. Enquanto um fazia uma voz, o outro, entrava em seguida com o segundo canto. A prova de que realmente estávam cantando juntos, e não somente ao mesmo tempo, foi quando pararam o canto juntos em perfeita harmonia.

Necessidade/Desejo- Renê Paulauskas

Me sinto isolado, abatido, quase morto, preso. Preciso sair, encontrar pessoas, me encontrar. Preciso de conexões. Incendiar. Só depois descansar.

Branco- Renê Paulauskas

Nem a chuva se decidiu, se cai ou não. Página em branco no meu caderninho. Queria que toda loucura estivesse em debates pela cidade. Queria participar. Mas esse mundo, tão chato, não me acompanha. E eu aqui sentado, esperando o que não vem. Se pudesse reinventar o mundo, não sei mais se posso. Até sonhar é difícil. Relampágos no ar, e a chuva que não vem.

Hippie- Renê Paulauskas

Todo lugar é fechado. Aberto, quando sim, pra visitas, pro consumo e evento, mas sempre fechado em sua cúpula de organizadores. Não importa se é anarquista, socialista ou de contra-cultura, é assim que se organizam os centros, coletivos, grupos, sempre fechados. Uma prática de poder às vezes inconsciente, outras não. Acho que os únicos que se abriram pra mim, fora a família e alguns amigos, foram os hippies, mesmo assim alguns, não todos.

Trabalho- Renê Paulauskas

Trabalhar ocupa a mente e preenche o tempo. Trabalhar fazendo o que se gosta é isso sem perceber o tempo passar. Trabalhei minha vida toda como desenhista, fosse ilustrando livros ou fazendo caricaturas. Sinto falta de trabalho já há alguns anos. Nesse período praticamente fiquei sem desenhar. Ocupo meu tempo escrevendo e compondo, mas é diferente, é mais um hobby. Não estar trabalhando com desenho me faz muito mal.
Música projeto sociopolítica

Sonho- Renê Paulauskas

Sonhei, e no meio do sonho percebi que era todas as personagens, percebi também que era o narrador. Tudo isso automático, só pra mim. Que bom seria fazer um livro com toda essa facilidade.

Eternos- Renê Paulauskas

São eternos o amor, a arte, as amizades. É temporal o homem, o mundo, sua miséria. O animal humano pensa a eternidade, sonha, cria, se realiza. Este, que só pode imaginar deuses e imortais, logo perece. Tão caricata sua vida, ele ao menos sonha, já não mais sonham nossos mortais.

Mundo- Renê Paulauskas

Mundo contemporâneo, onde estão teus filhos, que a sociologia, a psicanálise já te desmascarou? Que podem eles, se não, gritar, gemer num mundo de fim de mundo sem ter pra onde correr? Mundo velho, tuas máscaras cairam, teu projeto rachou! O novo virá, resignificando o mundo, o broto. Estarei velho, mas mais vivo do que nunca!

Consumismo- Renê Paulauskas

O consumismo confunde a necessidade com o desejo. Cria ''necessidades'' ilusórias num mundo onde as verdadeiras necessidades, sejam elas, materiais, biológicas, psicológicas ou culturais estão escondidas atrás de outdoors, comerciais e marketing querendo vender sempre mais. O ser humano perdido no meio dessas engrenagens do capitalismo moderno, muitas vezes, não tem a quem recorrer, se não, ao consumismo desenfreado. Prova disso é a doença moderna de acumulares, onde a pessoa compra e guarda coisas totalmente desnecessárias sem conseguir se desprender delas. Não é a toa que o país onde há maior número desses disturbios é nos Estados Unidos, onde está instalado o mercado mais capitalista do mundo.

Portais- Renê Paulauskas

Muito já se falou da psicose como desrazão de uma maneira negativa, eu, depois de vário surtos psicóticos, posso falar da mesma como experiência prática de abrir portais. Através das sinapses aceleradas é possível se alcançar outras frequências de realidade, que mudam conforme o pensamento. Similar aos efeitos alucinógenos, o surto abre caminho para uma realidade interior tão forte como o exterior que marca sua história de vida de um jeito perturbador. Sendo o maior conflito, muitas vezes, poder conviver harmonicamente com o mundo real e seu mundo interno. Remédios podem ajudar a desacelerar a mente e voltar a viver mais normalmente. Mas aprender e entender os conteúdos acessados através de surtos psicóticos, é materia pra uma vida inteira.

Robôs-Renê Paulauskas

A segunda metade do século XXI vai ser, entre outras coisas, de implementação da robótica e crescente substituição da mão de obra por essas tecnologias. Diminuindo o número de profições e vagas de emprego, as sociedades que implementarem essas inovações, terão que pensar como ocupar e sustentar um enorme número de desempregados. Sendo necessário um fundo criado a partir dos lucros das empresas robotizadas para esses desempregados terem, inclusive, como consumir seus produtos. Esse processo deve ser de muita luta e pressão social, pois os capitalistas nada fazem de graça, mas se vitoriosa iniciará uma nova era em que o homem será sustentado pelas máquinas. Parece ficção mas está logo alí.

Felicidade- Renê Paulauskas

Sonhei que vagava entre colegas da minha escola de desenho, mulheres, boêmios. Mas só quando cheguei em casa, comendo um bife do lado da minha esposa, é que encontrei a verdadeira felicidade.

Controle- Renê Paulauskas

Existe um leão dentro de mim. É preciso domá-lo. Caso tenha que pagar por seus estragos. Sua sede, quase insaciável, pode por tudo a perder. Todo controle conquistado depois de anos de remédios fortíssimos. Agora sou eu, eu que tenho que controlar o leão. Deixá-lo manso, como um gato qualquer.

Anônimo- Renê Paulauskas

Ontem, antes de dormir, pensei ser minha sina ser um cara anônimo. Um cara anônimo controlando o Universo. E no Multiverso, vários como eu. Será?