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Mostrando postagens de janeiro, 2019

Talentos e seus oficios- Renê Paulauskas

No ano 2000, tinha 21 anos, estava desempregado a um ano. Meu último emprego tinha sido como assistente de um cartunista de que era fã. Tinha passado mais tempo desenhando, dentro ou fora da escola de desenho. E pensava, ainda quando era assistente, em desenhar as pessoas na rua. Certo dia, peguei um bloco de folhas e fui oferecer de fazer caricaturas nos bares próximo da casa do meu pai, onde estava morando. Em pouco tempo estava ganhando mais do que como meu antigo emprego. Depois fui convidado a fazer eventos, onde cobrava por hora. Em 2008 cobrava três vezes o valor por hora do que cobrava em 2000. Tinha feito uma turne fazendo caricaturas no Brasil inteiro, viajando de avião, ficando nos melhores hoteis, mesmo não ligando para essas coisas. Daí veio a crise mundial, acabando com todos investimentos e gastos com entretenimento e cultura. Desde então o trabalho de eventos praticamente acabou no Brasil. Trabalhos que fazia em menor escala, como ilustração pra livros, também pior

Escapando da morte- Renê Paulauskas

Começo a vislumbrar a possibilidade de voltar a ser normal. E o que é ser normal, se não, um estado de plena desilusão com tudo. Uma desesperança misturada a sentença de estar a todo tempo chegando cada vez mais próximo da morte. Pensando bem, escapar da morte, já pode ser uma esperança. Que seja!

Vida ordinária- Renê Paulauskas

Vidas ordinárias, em ordem, ordinárias. Sim, nossa sina é viver. Com meia ou uma dúzia de afazeres. Pouco ou nada entendendo. Pouco ou nada. Sina. Sem poder alçar voos. Pés prezos no chão. Vida. Vida ordinária. Em ordem com o caos.

"Parceria" (micro-conto) - Renê Paulauskas

Ele nem percebia que quando falava para seu amigo parar de cantar, que aquilo era uma violência. Não se dera conta que sua amizade foi construída graças a esse prazer, o de fazer música. Seu amigo ouviu decepcionado a primeira vez ele dizer das primeiras composições juntos: "Mais ou menos" com um despreso incutido. Se separaram por um tempo. O de voz ruim voltou a compor sozinho, mesmo sem voz e tocando violão muito mal. Ele, tirava músicas populares no violão, pouco tinha de compositor. Quando se reencontraram para tocar, seu amigo deixou ele tocar e cantar sozinho. Começou empolgado. Foi desidratando. Quando chegou no final estava já sem ânimo algum. Soltou um "é chato cantar sozinho" e foram caminhar em silêncio.

Minha voz- Renê Paulauskas

Não tenho voz. Isso me mata por dentro. Quando faço uma música, gosto do que eu ouço, me leva pra vários lugares. Mas depois de gravada, quando ouço no dia seguinte, parece outra música, muito pior. Não gosto da minha voz gravada. É anasalada, abafada, dissonante. Gostaria que fosse limpa, afinada. Mesmo assim, continuo insistindo. Tendo melhorias à passos de uma lesma. Fazer o que, adoro fazer músicas.

Limbo- Renê Paulauskas

Por já querer e mudar a ordem das coisas, estou no limbo a bastante tempo. Para que eu não cause desordem novamente. Mantenha a sala, suas estátuas, sua ordem intáctas. Saber demais as vezes da nisso. Mas não acredito que seria melhor caso fosse um ignorante. Estou a margem, mas estou vivo.

Vida e arte- Renê Paulauskas

A vida é sempre mais complexa do que a arte. É a matriz de onde emergem todas as visões de mundo. É o mundo e é além. Algo, sinceramente, impossível de ser pronunciado. Porque é tudo e uma em cada uma vida. É o inesgotável. A chama. A inspiração. Mas tudo isso não é a vida, é minha vida.

Mulheres- Renê Paulauskas

Mulheres, com seus olhares, sorrisos, nos tiram do caminho, do chão. E seguimos elas por onde vão. Até nos abandonarem. E quando nos damos conta nem sabemos onde estamos, como viemos. Só queremos voltar pra casa, em meio a escuridão.

A raiz do problema-Renê Paulauskas

As coisas a minha volta funcionam como ecos de meus pensamentos. Não sei se sou parte principal ou periférica desse sistema. Se penso, logo existo, não há dúvidas que tenho participação efetiva em tudo que ocorre. Mas, ao mesmo tempo, parece mais uma conexão como uma interconexão via rádio. Como se usasse minhas palavras pra dizer o que quer. Sim, já interferi no direcionamento da realidade algumas vezes. Mas isso não acontece o tempo todo. Caso contrário teria certeza que nada haveria além de meus impulsos e desejos. Acredito ser uma especie de sistema programado em um nível de realidade que somos incapazes de alcançar. Onde temos parcela dentro deste sistema como um programa específico para fins específicos. Descobrir nosso propósito nesse sistema, ou para o sistema, parece algo inalcansável. Nos limitamos aos impulsos e desejos internos aos quais estamos encerrados.

Invisibilidade- Renê Paulauskas

Até acredito que é impossível ir contra o sistema. Mas acredito também que essa é uma das minhas funções. Minha mãe conta que antes de eu pronuciar as palavras: papai e mamãe, disse: não. Sempre fui do contra. Encontrava, enquanto jovem, a antítese como ferramenta da dialética, mesmo se não chegasse a um consenso. Hoje sou bem mais tranquilo. E isso se deve ao fato de tomar remédios que controlam minha impulsividade natural. Mas estou bem. Continuo lutando contra os sistemas, político, social, e até, metafísico ou invisível deste mundo. Acredito que muito do meu esforço, ao contrario do que gostaria, gera mais invisibilidade e descrédito do que gostaria. Mas tenho que continuar sendo fiel, antes a mim, do que aos outros.

Cão- Renê Paulauskas

Um Deus impotente, do avesso como um cão. Esse sou eu. Aquele que deseja e pouco tem. Mesmo assim se conforma. Ser pensante que vê parte de suas frazes em termos contrários. Difíceis tempos. Difícil vida. Seria mais fácil ser um cão.
Textos são reflexões, estão longe de serem verdades. Digo isso me referindo a textos como "Amizades" e não a textos políticos.

Brasil 2019- Renê Paulauskas

O PT, partido dos trabalhadores, sempre foi o partido mais democrático brasileiro. Nunca acreditou no comunismo. Todas as conquistas foram lentas respeitando a constituição e o congresso. Não a toa, foi no governo do PT que graças a sua postura democrática, se iniciaram o Mensalão e a Lava-Jato. Graças a postura democrática da Dilma, contra a sensura das massas manipuladas pela Rede Globo e parte do congresso golpista, foi tirada do poder sem nenhuma prova de crime de responsabilidade que seria em seguida absolvida. Por acreditar nas mesmas instituições democráticas, o ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso, ainda com seu processo em trânsito, por um crime sem provas. Hoje vivemos o momento mais antidemocrático após a democratização depois da ditadura de 1964 carecterizado por uma esquizofrenia em que se culpa o PT fazendo críticas fantaziosas de serem um partido extremista comunista, quando é justamente o contrário. Essa fantasia leva junto uma estratégia de poder e mark
Os textos menos lidos geralmente são os que mais tem a dizer.

Realidade?- Renê Paulauskas

A realidade infelizmente não é o que parece. Ela tem dois modos distintos de funcionamento. O primeiro, através das aparências de um mundo real e além de nossa existência. O segundo é o qual mergulho, impossível de se provar, mas tenho plena convicção e experiências. É um mundo onde não existe diferença entre o que pensamos e sentimos e o que acontece. Somos interligados em tudo o tempo todo sem percebermos. Gerando e alimentando realidade. Cada palavra pensada, que ecoa na televisão ligada, à um pensamento mais complexo, refletindo em acontecimentos, tudo relacionado aos impulsos de nosso cérebro. Infelizmente essa é uma verdade que só se acredita experimentando. Ou depois de se ter algumas experiências. Mesmo assim, na maior parte do tempo, vivemos alienados acreditando que um mundo real realmente existe.

Amizades- Renê Paulauskas

Sinto meu crânio latejar das primeiras dores de cabeça de uma amizade que parece chegar no seu fim. Foram sete anos desde que começamos a nos relacionar. Sete anos é um bom tempo para uma amizade, depois disso coisas desagradaveis começam a aparecer, isso quando não é o proprio desinteresse de ter conhecido o outro e esse não trazer mais novidades. Amigos ajudam a moldar nossa personalidade. O mais cruel é saber que tudo começa, se desenvolve, e termina. Com as namoradas é ainda mais rápido, mas com os amigos isso também acontece. Amizades se fazem ao longo dos anos. Há pessoas que nos conectamos de imediato por varios motivos, afinidades. Mas só o tempo faz o interesse aliado ao conhecimento do outro brotar algo que os una em uma cumplicidade.