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Mostrando postagens de abril, 2023

"Beleza" - Renê Paulauskas

 A beleza é a prova mais cabal da nossa animalidade. Quando achamos uma pessoa bonita estamos sendo guiados pelos instintos mais antigos de perpetuação e preservação da espécie. Somos submetidos a esses instintos estéticos sem nos darmos conta, e acreditamos piamente que somos diferentes dos outros animais. Não sugiro fugir de tais impulsos, mas perceber que existem coisas importantes do que os mesmos. A empatia, a isonomia junto a solidariedade são, sem dúvida, muito mais importantes que a estética.

Além- Renê Paulauskas

 Tentei abandonar a arte, fiquei mal humorado. A arte me faz falta, é como um respiro, uma clareira. Talvez nunca seja um artista reconhecido, e isso é penoso, mas não posso deixar de produzir as coisas que dão sentido ao meu mundo. Se outros compartilharem dos seus significados, isso não cabe a mim. Continuarei buscando nas frestas um sentido pra respirar. Se o mundo se beneficiará, isso é coisa do mundo, falo das coisas além.

Cadeia alimentar- Renê Paulauskas

 Bilionários influenciam políticos que influenciam o povo que influencia seus bichos domesticados que matam pequenos bichos sem donos. Para quem não vê o poder, tudo é invisível, só se vê o animal. Como uma cadeia alimentar onde os mais ricos tem mais poder sobre os outros que exercem poder sobre outros mais pobres até chegar aqueles que não tem direito nenhum se não ser sobreviver. Mundo esse onde um tem mais poder do que milhões, mesmo com corpos tão parecidos. Não há diferença entre pessoas da mesma espécie que possa sustentar tais diferenças a não ser numa abstração tão engenhosa como é esse sistema de poder. Onde as polícias e os exércitos servem a essa lógica milenar. Onde cada um dentro dessa sinistra cadeia adula os de cima e critica os de baixo sempre querendo acender socialmente.  Com pouca crítica  e uma inércia fomentada por discursos ora liberais, que pregam a competitividade entre eles, ora de meritocracia, para se sentirem no seu lugar de privilégio. Tal absurdo não é ób

Zé Preto (conto) - Renê Paulauskas

 Jaime Oliveira Santos, também conhecido como Zé Preto, trabalhava como telemarketing de cobrança na capital. Fazia tudo para conseguir chegar a meta do fim de mês, mas dava desconto sempre pra um ou outro aposentado pobre com que se apiedava. Tinha parado de beber. Só trabalhava o pobre diabo, seis por um, na sua folga ia pra praça com seu amigo. Ficava quieto, apenas via o por do sol.  Até o dia em que foi desligado da empresa para não registrarem sua carteira. Zé Preto foi pra praça. Nada descia, nada falava. Seu mundo caia. Foi aí que tomou um gole, um copo, uma garrafa de cachaça. Se transformou... Virou malandro, jogador de capoeira, o famoso comigo ninguém pode. Seus pés deslizavam no ar feito folhas secas pelo vento. Ria um riso louco com olhos arregalados. Falava com todos, de todos era amigo. Quando passava a euforia, dormia, acordava fraco. Começou a gastar o que não podia. A não voltar pra casa da tia. Mas sempre, dias depois, se arrependia. Zé Preto sofria. Passava os dias