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Mostrando postagens de maio, 2019

Ao Vinil- Renê Paulauskas

Ao enorme amigo, Vinil (Vinícius Teti Sila), que foi comigo um dos idealizadores deste coletivo, que hoje sobrevive como blog. Esquizofrenico, catatônico, quando fumava um, desatava a falar. Sua inteligência inspirava nossos ouvidos e mente. Era tão bom, que queríamos que não parasse. Infelizmente, após alguns cigarros, voltava lacônico. Enorme pessoa. Artista. Crítico. Desajustado. Queria que ainda estivesse aqui. Saudades do meu melhor amigo, Vinil.

Grátis- Renê Paulauskas

Eu tenho conhecido pessoas. Antes de estreitar um laço, conheço outra. E assim esquecendo o passado vivendo o presente. Apresento a eles minha peça, minha música. Apresento meu melhor. Espero ver frutificar alguma dessas relações uma hora qualquer. Mas que seja gratuita, como são todas relações que valhem alguma coisa nesse mundo.

Tapa olho- Renê Paulauskas

De todas pessoas que conhecemos, só se salvam de 3 a 5 porcento. A imensa maioria só faz o trabalho de sustentar e apoiar o sistema. Já fui um deles. Hoje, nessa vida de pirata, é mais difícil. Porém, mil vezes enchergar com tapa olho, que ser cego de óculos. Batalha, luta, temos que nos resignar. Mesmo assim, não há um careta que não tenha um pouco de louco. Nem um louco que não tenha um pouco de careta.

Assustada- Renê Paulauskas

Sei que muitas vezes não percebo regras sociais sutis porque internamente acho que não as tenho. Mas ver a cara de assustada da moça que há poucas horas pedira meu contato, quando me coloquei à disposição para procurarmos um banheiro, sendo que eu também estava apertado, me fez um tanto mal. Sei que grudei nela, afinal pediu meu tel para sairmos para ver ou trocar figurinhas sobre teatro. Sim, grudei. Enfim. Não grudo mais. Era tão bonita, foi simpática, confundi tudo. Mais sorte pra mim na próxima. Essa, já não tem volta. Mas aprender, sempre!

Regras- Renê Paulauskas

Onde estiver um homem que seja, há regras. Malditas, nos aprisionam, pelo menos nós, loucos, anarquistas, artistas, marginais. Seria tão bom o contrário, um mundo livre, criativo, sem pudor, sem regras. Teia invisível gritando, ordem! E travam nossos movimentos, nos colocando à ordem, na fila, às regras do trânsito. Queria voar.

Longe- Renê Paulauskas

Destrava, meu coração, tão carcomido pelo tempo. É tempo esticar os músculos, espriguiçar. Jogar conversa fora, flutuar. Sem medo da cortina dos carros, dos prédios vazios. Destrava, minh'alma. Melancólica, brisa do mar. Me leva pra longe, longe.

Valéria Dim- Renê Paulauskas

Somos todos Valéria Dim, porque puros, esquisitos e ingênuos. Imersos no sistema, sem poder ver ou prever suas engrenagens, nem ao menos podendo sermos donos de nossa própria história. Carentes, infantis, vítimas da sensibilidade tão subjugada na lógica do capitalismo.

Não é poesia- Renê Paulauskas

Sou um poeta de uma só poesia. Cria sonhos e trancafia. Come beiradas, é furacão. Sou um poeta com uma poesia. Vai em trincheiras, revolução! Flutua em miragens, desilusão. Sou um poeta sem poesia. Fala da vida em construção. Refugia o tormento em uma canção. Dispensa a rima sem pulsação.

Só- Renê Paulauskas

Tanta solidão, depois de ter excluido a garota do aplicativo. Depois de não sair com meu amigo numa sexta. Depois de ir pra rua sozinho, procurando o que fazer. Inquieto tentando me conter. Com comida, bebida, doces. Ninguém interessante pra conhecer. Somente o vazio no meio da cidade. Nenhum vento, nenhum alento. Somente só.

Imerso- Renê Paulauskas

Submerso catando algo no fundo do mar pra me alimentar. Cansado, lento, pensativo. A escuridão não me deixa enchergar. Mas acalma, o silêncio também. Sou algo imerso no todo e em mim. Lento, pensativo. Agora mais relaxado.

Valha-me deus!- Renê Paulauskas

Quando penso em relacionamentos, é alguma coisa que acontece, deslancha. Ou, não acontece. Infelizmente há muito tempo pra mim, muito pouca coisa tem acontecido. Sinto saudade dos meus dez anos de vida boa, dos 19anos aos 29anos. Vida, relacionamentos, trabalho. Tento me resignar a atual vida monástica, mas é difícil. Sinto falta de namoradas, amigos, trabalho. Sou o aposentado sem pensão mais novo que conheço. Valha-me deus!

Aplicativo- Renê Paulauskas

Entrei num aplicativo de encontro ontem, hoje conversei com uma linda jovem que me deixou muito animado por várias horas. Mas, sem motivo, parou de falar comigo, como deve ser usual nesse mundo líquido de encontros por aplicativo. Voltei a mim, desinstalei o aplicativo e de volta a solidão e inquietação como sempre.

TV- Renê Paulauskas

Tô meio enjoado de tudo e de todos. Preciso beber duma fonte qualquer que me rejuveneça. Tô ficando velho e chato. Às vezes nem eu me aguento. Falta um pouco de tudo. Vejo minha avó, com a televisão como única companhia, dá até medo. Ainda não cheguei nesse ponto, mas às vezes parece um destino certo. Fujo desse fim, mas ele me alcança quando ligo aTV.

Chuva- Renê Paulauskas

Diz o paulistano em sua casa, acompanhando as goteiras dentro de casa: ''Se parasse essa chuva talves eu saisse''. Pensa a alma penada: ''Se tivesse vivo concerteza tomava essa chuva!'''.

Draga- Renê Paulauskas

A vida é suja, não aceptica, milhões e milhões de bactéreas. Vivo limpo demais. Às vezes tenho repulsa dessa vida ordinária em que a todos pulsa como uma draga. Que age sozinha sem pensar. O impulso. Fatal. Natureza. Chama. Chamam isso de vida. Pode ser. Mas sem sutileza, é só uma catástrofe.