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Mostrando postagens de janeiro, 2020

Vida nua- Renê Paulauskas

A vida nua é assustada. Anda olhando pro chão, procurando algo quando ergue a cabeça. Mas esquecida, é quase um trapo. Pobre vida. Mas se cultivada, desabrocha. Fica forte, confiante, bonita. Difícil é só deixar de ser tão desconfiada.

Noite fresca- Renê Paulauskas

Tão bom estar sereno, sentado na poltrona sem camisa nessa noite de verão. A sala silenciosa depois da visita da minha irmã, que gosto, mas como fala... Comi um brownie fora de hora, tenho refluxo, hoje durmo no sofá. Por isso mesmo minha despreocupação com as horas. Uma paz. Minha mãe já está dormindo, silêncio. Não precisamos de muito pra viver bem, pena que às vezes nem isso temos.

Meu olhar- Renê Paulauskas

Tudo é e tudo não é. O mesmo fato pode ser entendido como coincidência por um cético, ou como cincrônicidade por um místico. Tudo depende do ponto de vista. Cada olhar carrega suas virtudes e fracassos em si mesmos. Bom é ser coerente consigo mesmo, mesmo sabendo que às vezes estamos equivocados.

Muito mais- Renê Paulauskas

Cada passo rumo a uma vida normal, percebo como a loucura me salvou. Desse olhar vazio, desse mundo crú. Cheio de inspiração sobrevivi até aqui. Hoje mais sereno, mais pé no chão, sei que o mundo é muito mais do que uma ilusão, uma casca sem vida. A vida é muito mais que a razão.

Monstros- Renê Paulauskas

No corredor do banheiro, com as luzes já apagadas e minha mãe dormindo, apareceu um estranho ser em meio as sombras. Parecia uma pequena cobra de menos de dez centímetros. Estava com uma ponta volumosa. Tive que acender a luz do banheiro. Toquei no bicho com a ponta do chinelo, se contorceu em gestos rápidos contraindo o corpo elástico. Ainda não dava pra ver, pois a luz do banheiro não iluminava aquela parte do corredor. Acendi a luz de fora para iluminar um pouco a sala e por consequência aquela parte do corredor. Ainda pouco iluminado o jeito foi ir empurrando o ser esquisito até a luz do banheiro. Lá estava ela, uma mihoca cheia de poeira e fios de cabelo. Levei-a até o canteiro e fui dormir.

Che Guevara- Renê Paulauskas

Ainda no ginásio, na escola em que odiava estudar, lembro de uma garota passear no intervalo com uma boina a lá Che Guevara. Me aproximei e ela desatou a falar sobre política, coisa que nada entendia naquela idade. Procurei ela em outros intervalos mas nunca mais a ví. Desapareceu da escola. Acho que seus pais a transferiram para uma escola melhor.

Amigos- Renê Paulauskas

Sou um pouco de cada. Bom como o Tiago. Marginal como o Anderson. Audaz como o Caio. Louco como o Vinil. Chato como o Cristiano. Calado como o Renato. Todos melhores amigos.

Sabiá- Renê Paulauskas

Dizia a placa ''Praça das ilusões''. Tudo era vazio e passageiro. E eu ali parado, no banco da praça, esperando. E mesmo se corresse, me empenhasse, seria como segurar o ar. Dei por mim que nada alcançaria naquele lugar. E um Sabiá começou a assobiar.

Fragmentado- Renê Paulauskas

Fragmentado é o por-do-sol. De tanto correr pra ainda alcansar o sol, quando chego, não estou mais lá. De noite é mais fácil, basta olhar as curvas da lua. Desapareço no caminho, só assim estou vivo. E sim, depende da companhia. Se posso ser eu, escutar e falar sem nem perceber. Tão difícil. Com tão poucos. De resto, tudo tão artificial.

Adubo- Renê Paulauskas

Vidinha de merda, todo mundo tem uma. É preciso separar o lixo, separar o orgânico em adubo, cuidar da horta. Mesmo assim um tanto enfadonho, acho que até as plantas sentem tédio, só não é científico.

Sala- Renê Paulauskas

É tão vago o espaço da sala. Diferente dos dias de visita, cheios de luzes, sons, cheiros. De luzes apagadas, sou somente um rato. Que se alimenta, espera, e sai. Sou como a barata que vive no banheiro, mal acomodada. Às vezes olho o jardim, segundos depois, não vejo nada. Nenhuma semente a brotar. Nem plantas e cheiros. Nem canteiros, festa ou luar.

Milhões- Renê Paulauskas

Meu amigo é um escravo moderno. Mas nem pensa em ter outro emprego. Trabalha doze horas e só folga um dia por semana. Mas o trabalho é do lado de casa. Não tem consciência de classe, nem sabe o que é isso. Admira seu patrão e prefere ser explorado por eles do que lutar por uma vida mais digna. Meu amigo é complicado. Complicado como a maioria desse povo brasileiro. Que cresceu sem acesso a educação, cidadania e a cultura das classes dominantes.

Revoluções- Renê Paulauskas

Como tudo de desenvolvimento no mundo, aqui no Brasil, acontece cem anos depois, bem que poderíamos copiar a Revolução Russa, de 1917. Apesar de só poder ter sido realmente socialista até 1924, quando morre Lenin e daí em diante Stalin toma o poder transformando a União Soviética numa ditadura sangrenta e implacável. Outra coisa que não sabia é de como a Primeira Guerra Mundial foi importante para armar o povo Russo e deflagrar a revolução. Sem contar a primeira Revolução Russa em 1905, como grande inspiradora para de 1917. Apesar das diferenças é incrível quantas semelhanças vivemos hoje. Governo formado por banqueiros, ruralistas e religiosos (evangélicos aqui). De como seria importante uma reforma agrária, uma democracia direta do povo, um banco popular com juros baixos. Mas como é perigoso termos um grande ditador, como foi Stalin. Por isso se faz necessária a defesa do sufrágio universal. Se não fossem os atuais golpes na América Latina, só através de políticas reformistas, esta

Crias- Renê Paulauskas

Feliz, passeando semi nú pela casa. Minha filha está bem, tudo está bem. Voltando de um passeio com ela. Pais são seres estranhos que ficam felizes quando suas crias também estão bem.

Quase- Renê Paulauskas

Quase entramos numa guerra nuclear. Por pouco não fomos extintos. É urgente que as coisas comecem a melhorar, urgente! Não vou aguentar mais um ano de Bolsonaro, de quebra de barragem de lama, de poluição de petróleo no mar, agora, risco de terceira guerra mundial?! Pelo idiota do Trump?! É bom as coisas irem melhorando, não foi isso que eu pedi a Deus!

?- Renê Paulauskas

Por mais que esteja são, que os remédios façam efeito, acho que sempre serei dois. Um doido a lá Jesus Cristo, que acredita como Deus o mundo em volta de seu umbigo. Outro são, usando a razão em quase tudo, desvendado o isso do aquilo, o aquilo do aquilo outro. Um que sonha alto, acreditando que tudo é sonho e ilusão. Outro examinando atento o caminho por onde pisa. Serão todos assim?

Meu medo atual- Renê Paulauskas

Meu medo é de que do equilíbrio se faça um túmulo, ainda vivo, mas apagado. Que todas músicas só eram faces do meu descontrole, e quando ouvidas depois, ruidos. Que todo artista é meio louco, e que a minha já acabou, não passando de um mero desenhista de frases soltas, perdidas.

Vinícios de Moraes- Renê Paulauskas

Amava de modo desesperado. Alcoólatra, carente, tipo de gente que sente. Casou nove vezes já sabendo de suas finitudes claras e quase óbvias. Mesmo assim, gênio, poeta, músico. Amava assim desesperadamente a vida.

Bigorna- Renê Paulauskas

O mundo tá uma pólvora, tá uma bigorna. A gente tenta levitar com corrente nos puxando pro chão. Esse mundo tá maior que a ilusão. Tá um verdadeiro mundo cão.