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Mostrando postagens de novembro, 2019

Caolho- Renê Paulauskas

O preconceito me olhou. Me pôs uma máscara. Em seguida desviou o olhar. Esse olhar caolho, errado e certeiro. Tantas vezes esse preconceito me furou os olhos, hoje, ele me olhou. Me maltratou um pouco, só um pouco. A ponto de me fazer sentir ódio. A ponto de fazer eu tirar a barba mal feita, vestir uma camiseta menos larga. Mas não foi só comigou. O preconceito tapa muitos olhos, vestindo à todos como bem quer.

Os quarenta- Renê Paulauskas

Eu pensei que aos quarenta ia expandir, mas descobri que é mera expansão por constatar um desolado recrudecimento, tanto de energia como de perspectivas. É como nadar contra as correntezas, mas fraco. A mente, congelada no tempo, ainda é jovem, mas o corpo perdeu vigor. Uns mais, outros menos, mas todos desesperados para alcansar a outra margem do rio como uma grande vitória. Eu, que nasci velho, envelheci jovem, hoje, honestamente, não estou muito feliz com a minha condição.

Breve- Renê Paulauskas

No fim da minha juventude, com 29anos, tive um caso com uma escritora casada com um professor de literatura. Dessa aproximação, tanto dela, como de seu marido, nasceu uma amizade entre artistas que tinham em comum o prazer de desenhar, esculpir e escrever. Meus primeiros incentivos à escrita devo a esse casal. Um grande amigo da época, também escritor, a conheceu, e se apaixonou. Esse período terminou com o fim das quatro relações envolvidas  e marcou nossas vidas com profundos ressentimentos. Olho para trás, vejo quantas coisas boas vivemos naquela época. Quão destemidos éramos, jovens e ignorantes. Mesmo assim, sabíamos amar. Nunca mais nos vimos, pelo menos, não com a mesma franqueza. Só para você ter uma ideia, demorou mais de dez anos para escrever esse breve texto. Gostaria de vê-los denovo, mas não como seria, depois da distância de mais de dez anos. Como se fosse possível voltar no tempo, mas sem ser tão ignorante. Por esse motivo, esse evento marca a passagem do fim da mi

Vermelho- Renê Paulauskas

A camiseta vermelha sobre a bermuda, lembra sangue. Pomba ferida, quer voar mas não pode. Somos atacados constantemente, até pelos que se sentem perseguidos. Sangue! Até quando vamos nos odiar, dar o troco? Olho por olho, dente por dente, deixou a humanidade cega, já dizia Gandhi.

Equilíbrio- Renê Paulauskas

Em casa reponho as energias. O mundo lá fora as suga, como fogo pegando em papel. É preciso se cuidar. Mas é lá fora que o mundo gira, as coisas acontecem. Não dá pra só se esconder em casa. É preciso um equilíbrio. Éssa talvez seja a parte mais difícil.

Aprender- Renê Paulauskas

Deus me livre de ser doutor e ter mais certezas do que dúvidas, um burro com certificado. Quero estar sempre aprendendo sem precisar passar na prova. Estudando coisas inúteis que só tem sentido pra mim. Me moldando, me descobrindo. Ser uma criança, não importando a idade.

Pipoca pós-moderna- Renê Paulauskas

''Pipoca aqui, ali, pipoca aqui. Desanoitece a manhã, tudo mudou'' Pipocam novamente novas ditaduras na América Latina. Dessa vez com a tecnologia de manipulação das massas através do controle da grande mídia e de disparos em massa de fake news. Essa estratégia, chamada guerra híbrida, se mostrou mais eficaz do que o controle pela força.

Abuso sexual infantil- Renê Paulauskas

Milhões de crianças são abusadas sexualmente no mundo inteiro. Normalmente por parentes próximos, vizinhos de confiança, ou pessoas próximas. Isso gera um trauma indissolúvel pro resto de suas vidas, paralizando pra sempre esse momento em suas cabeças. Desconfiança no próximo, insegurança, tristeza, são características típicas pós trauma. Podendo retardar o desenvolvimento natural de sua sexualidade, assim como a paralizá-la nesse período da vida, causando possíveis fixações em indivíduos da idade em que foram abusadas. Esse processo é muito doloroso e só passa a ser parcialmente resolvido, quando passado pelo período, ou períodos, de conscientização e luta para vencer o trauma e ter uma vida normal. A pessoa acometida desse tipo de trauma, se culpabiliza pelo ato, tendo muita vergonha, o que dificulta o processo de poder falar sobre o ocorrido.  Tabu e proconceitos só atrapalham nesse processo, às vezes paralizando ainda mais. Mas em muitos casos há uma significativa melhora se  bem t

41- Renê Paulauskas

Agora, perto de fazer 41anos, vejo as coisas um pouco diferentes. Não perdi o interesse pela vida, ainda gosto de rir como era jovem. Mas tenho menos pressa. Já vivi um pouco um bocado de coisas para saber que nada vale tanto. Não desisti de viver, apenas estou mais cansado, calejado. É triste, mas começo a acreditar que não terei mais grandes alegrias, que não seja uma vida tranquila, sem grandes sofrimentos.

Portas- Renê Paulauskas

Abro portas, uma parede tapa a passagem. Abro outra, dezenas de objetos perfurantes. Respiro, deixo passar. Olho o dia ensolarado, sem portas para abrir. E o que é esse labirinto, onde os outros são portas? No canto da sala, com sua porta aberta, escrevo.

Celulares- Renê Paulauskas

Como viver o mundo se está do avesso? Eu mesmo, dentro deste ônibus voltando pra casa, tantas vezes voltei conversando com vizinhos, ou até desconhecidos, hoje sozinho escrevendo pra você deste celular. Volto de uma aula que tentava ensinar como seria bom se entendessemos nós e mundo como uma coisa só, como pensam os índios. Em vez, cada vez mais fragmentados, vazios. Acabou de sentar uma mulher ao meu lado. Ela também está no celular.

Prece- Renê Paulauskas

Quando quero muito alguma coisa, peço a Deus. Ele sempre dá o que foi pedido. Mas tomo muito cuidado ao pedir, pois ele entende tudo ao pé da letra, não adivinha nossos desejos. Uma vez pedi uma namorada, não muito bonita, pra que tivesse outros valores, mas isso não falei na prece. Veio uma mulher feia, que se achava linda. Pedi também que trabalhasse com eventos, pensando que ela poderia me agenciar. Resultado, ela de fato trabalhava com eventos, mas não queria misturar a relação pessoal com a profissional. Por fim, pedi que fosse meio maluquinha. A mulher tinha surtos comigo todo mês não durando seis meses nossa relação. Então é isso, Deus sempre atende as minhas preces, difícil é traduzir pra ele o que realmente eu quero.

Garrafa- Renê Paulauskas

A mensagem está dentro desta garrafa. Ouça-me, leia-me. E mostre algo, para que eu tenha o mesmo privilégio. Mas correntes marinhas são traiçoeiras, às vezes mensagens são esquecidas, ignoradas ou nunca encontradas. Às vezes até, não traduzidas, compreendidas ou lidas. Mesmo assim as mando, daqui da ilha. Onde ficaria louco se não as mandasse.

Mendigo não! Eu tenho nome- Renê Paulauskas

Me perco num átimo de segundo, me acho no vazio da cidade fria, atravessando a floresta da minha cabeça. Me movo no chão duro, até encontrar o conforto entre a reta do meu corpo com o horizonte. Mas sempre algo me dá um soco de realidade. O vento gelado, as formigas, sem contar os fardados que chutam, nos levam as roupas, quando não nos matam. O único jeito de dormir é apagar. Seja o álcool, a pedra, que nunca tem esses nomes na quebrada, mas pra vocês faço uma dublagem. Viver na rua não é escolha de nínguém, é a falta dela.

Vapores- Renê Paulauskas

Quando brotaram os primeiros vapores, deixando o ar morno e úmido, tudo era mágico e novidade. Mas fora só segundos, que fizeram parar o tempo. Em seguida o tempo agiu rápido junto à aridez do mundo. Racionalizei e me afastei daquele instante como algo reprovável. Depois fui entender que o que me conduzira naquele dia fora um gesto. Um gesto limpo que me dava base de sustentação para outras coisas. Ou teria interpretado assim. Mas declinei. Esperaria outros gestos em outras pessoas que estivessem mais ao meu alcance, ou em circunstâncias mais afáveis. Mas ainda sim sabia que o gesto poderia me tocar, fosse ele por quaisquer gênero ou orientação fosse ele feito.

Solidão- Renê Paulauskas

A vida é solidão que vem, solidão que vai, solidão que volta. Fragilidade de um corpo mortal em meio a cidade grande que te devora. Não poder se firmar, se não em outros. Não poder ser só, ter mais a aprender. Mas existem aqueles, que tão sós, falam consigo em voz alta. Exaltados já não enxergam quase ninguém, por serem invisíveis a muito tempo. São chamados de mendigos, loucos, indigentes. Ficaram sem quem os ouvisse tanto tempo, agora nínguém tem corágem de os escutar.

Lula livre!- Renê Paulauskas

Lula foi solto. Depois de muita luta, o que já parecia impossível, enfim aconteceu. A ficha ainda não caiu totalmente. Queria ir pra rua comemorar, mesmo com essa chuva em São Paulo. Voltar a sonhar. Imaginar pretos, pobres, minorias galgarem direitos. Num futuro existir menos diferenças sociais. Menos privilégios dos mais ricos. Agora com Lula solto é hora de voltar a sonhar. Evoé Luis Inácio Lula da Silva!

Mosca- Renê Paulauskas

Passo, precipício. Renasço, eterno retorno. Eu já morri, renasci muitas vezes. Sou como uma mosca presa numa redoma de vidro. Nasce da larva de outra mosca, até virar mosca e deixar outra larva antes de morrer. Redoma de vidro, você não é o mundo, só a jaula à que venho perecer. Quebrai o mundo, quebrai! Pra que outros mundos venha a mosca conhecer.

Perfeccionista- Renê Paulauskas

O artista perfeccionista busca um equilibrio que não tem. Procura algo para apaziguar a falta, a dor e demônios. Debruçasse com empenho nessa tarefa, mesmo às vezes sendo preguiçoso. Chega a ser ansioso para conseguir alcansar tudo aquilo que vem a sua mente, mente essa, desequilibrada.