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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Viver- Renê Paulauskas

Quero quebrar e sair inteiro. Me aventurar sem sair daqui. Olhar as coisas escondidas no nada. Anoitecer de manhã, amanhecer de tarde. Mas existem máscaras. Camadas infinitas de bom teatro. Fechaduras. Segredos. Quem desvendará esses nós? Quem tem as chaves? Na maior parte do dia, autômatos. Piloto automático. Fluxo. Civilização. E o índio ouvindo ruído. Desvendar. Escolher. Viver.

Bom natal- Renê Paulauskas

Neste natal me solidarizo com todos os sem famílias. Os detentos, os doentes mentais trancafiados, os asilados, os exilados, os moradores de rua, os viciados, às prostitutas, os travestis, gays excluidos da família e à todos e todas que neste momento estão separados de suas famílias ou nunca tiveram uma família estruturada. À todos um bom natal. Que resistamos a este dia como um dia de boa solidadriedade humana em tempos difíceis.

O olho e a visão- Renê Paulauskas

Aqui na Terra, nos animais, inclusive no humano, tudo é dividido. Existe o corpo físico, seu organismo, sua química. Do outro lado, sua personalidade, sua psicologia, cultura e espiritualidade. O organismo molda o segundo como um tempero, temperamento. O segundo molda a pessoa à sua hera e às suas afinidades, se tiver escolha. Um não existe sem o outro. Um é o olho e o outro a visão.

Buscar- Renê Paulauskas

Buscar valhe a pena quando se vê os resultados. Pelo menos tem sido assim comigo no quesito, relações sociais. Tudo porque meu melhor amigo arrumou uma namorada e não tinha quase tempo se quer pra ele. Assim fui me virando como podia. O resultado foi uma ampliação da minha rede social, conhecendo pessoas novas, mas sobre tudo, fortalecendo laços antigos. Quando já tinha deixado meu melhor amigo em paz, ele aparece em casa. Falo das novidades e me sinto bem em ver quanta gente interessante, novos contatos, antigos amigos, vi nesse período.

Sem trégua!- Renê Paulauskas

O pulsar animal humano não é mais humano. Virou máquina, negócio, exploração. O capitalista querer sempre mais não é novidade. O conter, tentaram vários. O extinguir, já pensaram. Até que seja exigido que todo, ou toda, capitalista devolva à sociedade tudo que roubou dela mesma através do acumulo de capital por meio da exploração do trabalhador, e volte a ser humano, não sossegaremos!

Ciência-Renê Paulauskas

A memória, não é perfeita. A interpretação, traiçoeira. Quem sabe a razão pode estar doida. Ou haja lucidez na loucura. Desde que não seja um idiota estilo acadêmico. Quem sabe o muro se rompa. Haja menos regras, mais beleza. Mais verdade, menos certezas. Quem sabe já mudou o mundo milhões de vezes e só falta você saber.

Lado de fora- Renê Paulauskas

Tristes não são os trancados do lado de fora, são os que trancam. Muitas histórias ouvi da solidariedade dos que vivem nas ruas. De suas leis, de sua ética. Já aqueles do outro lado dos portões, não digo nada. Um amigo morador de rua me confessou uma vez que tinha preferido as ruas à sua família. Que com todas as dificuldades, está melhor assim. Que sua família é de evangélicos fanáticos. Por isso preferiu sair de casa. É uma pessoa tranquila, amorosa e sorridente. Penso em quantos como ele. Mas não sinto pena dele, ou de nenhum outro. Sinto pena dos que não os enxergam. 

Conjugação- Renê Paulauskas

Se ela aparecesse talvez eu melhorasse. Mas ela não vem, não porque não quer, de quem já foi e não é mais. Porque ela se quer existe. É mera especulação. Sendo assim, eu vou. Fosse o contrário seria mais simples, de fato. Mas não é. Então saio daqui a pouco, esperando o que houver, pois sei, que melhor que esperar ou imaginar, é agir e atuar.

Contra a corrente- Renê Paulauskas

Na cidade grande o ''eu'' parece maior do que ''outro''. Existe o individualismo. O resto não é visto como gente, são somente ''serviços'' para nutrir a um ego solitário errante. Desse destratar, desidratando a humanidade, funciona o motor da cidade. Dessa catástrofe feita encima de um capitalismo arcaico, o ser humano tenta continuar humano, mesmo lutando contra a corrente.

Tapete de areia- Renê Paulauskas

Atrás de um por-do-sol tem sempre um nascer do sol. Coisas vão, outras vem. É desse complexo quebra-cabeça nossa vida. Seja budista. Como quem se despede de um longa pintura de areias coloridas após ser levada pelo vento. E em seguida começa a pintar outra. Falar é fácil, eu sei. Mais fácil quando chega a novidade.

Leveza- Renê Paulauskas

A gente é feliz quando é aceito, e pode amar com leveza. Tem sempre alguém contrário, no lugar errado, que não é feliz, pelo menos naquele momento, com aquelas pessoas. Mas isso passa. É verdade que antes de se achar tem de se perder. Mas depois, tudo fica mais fácil, mais leve.

Que medo- Renê Paulauskas

Tenho medo da ''Pompeia sem medo''. A classe média em peso desfilando com seus cachorros todos iguais. Os cachorros identicos, uns dominando os outros, subindo, copulando, exercendo poder. E o dono lourinho ainda criança falando: ''Isso, Tobi, porrada!''. No evento, o único negro estava lá para entreter os brancos. Foram todos aprender maculelê, onde ouvi um dizer: ''Aqui só tinha mendigo, temos que ocupar essas praças''. Onde todos se conhecem e não cumprimentam estranhos. Tenho medo!

Envelhecer- Renê Paulauskas

Depois de certa idade percebi que nada mais vinha de graça, tudo era luta. E como quem perde a vida, fui encolhendo, ficando pequenininho. Já não tinha rosto. Já não tinha sexo. Era como um ser deficiente. Com o tempo fui ficando sem voz também. Era um estorvo, um inválido. Até me largarem aqui, esse quarto esquecido. Envelhecer é realmente uma bosta!