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Mostrando postagens de março, 2023

Mini celular chinês- Renê Paulauskas

 Ontem meu celular pifou. Nem tinha pifado ainda, só precisava repor o chip, mas estava tão nervoso que quebrei o mini celular chinês sem querer. No dia seguinte tentei por o chip em outros dois, parados aqui sem uso. Nada. Depois de desistir vi o por do sol e pensei ficar uns dias sem celular nenhum. Depois de uma hora, a falta de um celular. De me comunicar com o mundo. Que mundo? Que quase ninguém se comunica comigo, que nunca tive trabalho formal. Realmente acho uma ótima oportunidade para me desintoxicar.  

Medos- Renê Paulauskas

 A idade foi me fazendo medroso. Medo do carro parar, medo de pessoas estranhas, medo de ser feliz. Lembro quando, aos 29 anos, viajando de avião pro Rio de Janeiro, o avião passando rente ao mar e eu calmamente pegando minha mochilinha com documentos, pronto para sair de lá nadando caso fosse preciso. Hoje tudo é mais difícil. Sair pra rua, viajar, se arriscar. Mas corajoso não é aquele que não tem medos, é aquele que mesmo com medos os enfrenta, é isso que em parte estou tentando agora.

Artista Palco- Renê Paulauskas

 O artista de cabelos brancos pintados de azul parece eterno. A eletricidade vem de seus pés tortos, subindo até as mão onde se mistura com sua guitarra em transe. Se pronuncia a emergência do gesto, em harmonia com todo resto. Si bemol ululante, até romper a sexta corda. Improvisa com a quinta e sétima sem quase se notar. O artista palco, talco, tal como um fato. Palmas! Palmas, nos incitando a criar, a sentir, a amar.

Lázaro- Renê Paulauskas

O trabalho de um cineasta começa quando o filme termina. Divulgar e distribuir o filme é a parte mais trabalhosa e, porque não, chata. Vejo pessoas como minha irmã, atriz, trabalhar com produção de outras peças e a admiro. Meus pés não estão presos no chão como os dela. P ercebo, que no meu caso, trabalhar seria, procurar agencias de eventos como caricaturista, editoras como ilustrador, concursos literários como escritor e bandas como compositor. Esse trabalho que não faço e que é preciso fazer. Ou será meu fim, produzir sem ninguém saber.

Intenso- Renê Paulauskas

 A juventude foi intensa. A cena da mãe grávida da minha filha ameaçando se jogar de cima de uma janela do nosso apartamento por ciúmes sem motivo. Meus primeiro surto agressivo de bipolaridade depois de dois anos ela me contar que tinha ficado com um trompetista da banda.O termino de uma amizade por termos, eu e um amigo, tido um relacionamento com a mesma mulher casada, cinco anos depois. A  morte de meu pai por câncer, anos após termos saído na mão por ele sempre me tratar mal. A morte de um dos meus melhores amigos após parar de usar remédios que controlavam sua esquizofrenia. A derrota depois de mais velho numa briga com um amigo dez anos mais novo.  Se hoje estou calmo, sereno, tranquilo, não foi por falta de ter vivido. Minhas cicatrizes, minha história, fatos que, na marra, me colocaram na linha, sabendo os perigos em cada esquina. Hoje me refujo nesta casa tranquila, que também tem histórias intensas, mas passa por seu momento mais calmo. Me refujo em pessoas serenas, tranquil

Alguém (filosófico) - Renê Paulauskas

 Eu sobrevoo o reino das aparências. Neste lugar o belo esconde o feio, o feio esconde o belo, quando não o feio e o belo de fato é. Vejo máscaras, do cinema ao escritório, do trabalho à família. Eu queria mergulhar no reino das profundezas, onde de dentro se consegue ver. Onde se escondem os mais belos pássaros e também os demônios. Mas a educação me ensina a esperar e dar ao tempo a descobertura das camadas que nos protegem do mundo. Por isso demora tanto para se conhecer alguém. 

''Talento''- Renê Paulauskas

 O talento profissional não se restringe a técnica, mas um conjunto de coisas como: técnica, traquejo social, oportunidades, capital financeiro, capital social, estratégia comercial, estratégia de marketing etc. Então, se você não decolou, como eu, não se culpe, o mundo é muito mais complexo do que seu ''talento''. Mas continue com sua arte, ela nos dá força para continuar nesse mundo tão sinistro e kafkaniano.

Ideia torta- Renê Paulauskas

 Fui contaminado por uma ideia torta, me salvem! Dessas engenhosas que tudo abarcam. Dessas que envergam a alma. Mas não era uma fake news, era algo que eu mesmo inventei. Não declamo nas ruas ou entre colegas, sei que é uma ideia torta, que me envergou a alma, mas uma ideia que grudou em mim como uma cola. Uma cola negra como petróleo. Negra como a bomba de Hiroshima. Negra como é perversa a alma humana. Como a fantasia negra do Homem Aranha 3. Agora escrevendo, está se diluindo. Como é bom escrever. Como somos levados por elas, as ideias. E se não as limpamos, que horror! Somos seres totalmente irracionais, digo, na maior parte do tempo.

Desabafo- Renê Paulauskas

 Vocês que não queiram fazer inveja com seus carrões, queremos caminhar, não andar pra trás. Que não tentem vender com propaganda de margarina que comemos manteiga, e de garrafa! Sem esteriótipos de olhos azuis, que somos negros, índios e mestiços. Queremos rios e um mar limpos para brincar, se banhar e velejar. Queremos um mundo, mas que seja inteiro, de verdade, como nós. Para viver sem sermos explorados por vocês, que nada disso querem, que nada disso veem valor. Porque não somos europeus, somos brasileiros, com mais orgulho do que vós, que não são nada, nem aqui nem lá. São só o preconceito, o mesmo do qual não percebem, são vítimas. Fiquem ricos logo, tirem seus passaportes, não voltem mais! Esse Brasil é nosso, dos que ficam, seu povo, sua terra. Aliados estrangeiros, temos aos montes, milhões já viraram brasileiros, são nosso povo que se integrou, do português ao japonês, do árabe ao judeu, são nosso povo, pouco ligo se viajam para fora, é seu direito, ser livre. Digo sim dos qu