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Mostrando postagens de setembro, 2023

Não (micro-conto) - Renê Paulauskas

 O homem, já de meia idade, por dizer tanto sim, um dia, regogitou um não. Simplesmente saiu de sua boca. Primeiro sentiu uma ardência na garganta, que um não é sempre corrosivo, mas depois se sentiu mais leve. De tanto sim tinha parado em cada cilada, que deus nos acuda. Lugares desagradáveis com gente desagradável. Depois se arrependia, se recompunha, passava um tempo, e voltava a dizer sim. Mas dessa vez saiu um não. Ficou mais tranquilo, mais caseiro. E deixou o sim só para quando era sim de fato.

Ponto - Renê Paulauskas

 O Ponto de Economia Solidária do Butantã, conheci através de uma amiga, a Riso. A princípio ofereci minha ajuda como ilustrador, mas foi muito mais do que isso. Tive apoio das pessoas ligadas à casa logo de início para ensaiarem uma peça que tinha recém escrito sobre o assunto da loucura. Participei de vários saraus que tinham no começo. Lá conheci a Mariana e o Keith, que conheceram minhas músicas e sempre me deram muito apoio como compositor. Para mim o Ponto é uma rede que faz um trabalho de reinserção social através do trabalho, afeto e cultura, mas também é uma rede de amigos que se apoiam por imaginarem um mundo melhor. Muito mais do que apoiador sempre tive muito apoio das pessoas desse espaço. Hoje, mais do que tudo, tamo junto! Viva o Ponto, isso é só o começo!

Janela- Renê Paulauskas

 Um passarinho me contou como é importante voar. Viver no chão por muito tempo acaba nos fazendo tropeçar. Às vezes em correntes que nos levam pro subsolo. Escolher novos trajetos, se inspirar, tiram o peso do dia. Nos deixam mais leve.

Remédio - Renê Paulauskas

 Desde que descobri que tenho transtorno bipolar sou dependente de dois remédios diários, o carbonato de lítio, pra regular o humor, e o resperidona, pra controlar e evitar os surtos. Posso dizer que me adaptei muito bem a esses remédios, nem todos tem essa sorte. Muitos tem grandes efeitos colaterais, outros, efeitos ineficazes para suas doenças. Cada caso deve ser medido e dosado segundo o próprio usuário. Desconfio da corrente que prega o fim do uso de medicamentos psiquiátricos em doentes mentais. Como não apoio um tratamento somente baseado no uso de tais medicamentos. A arte é, sem dúvida, é um ótimo processo de catarse que também deve ser vinculado ao tratamento de saúde mental. Basta ver os filmes de Leon Hirzsman sobre o tratamento dos pacientes da Nise da Silveira para constatar suas melhoras através das artes plásticas.  O lado afetivo e social é outro pilar que deve ser prioridade no tratamento de nós doentes mentais e que é esquecido pelo tratamento psiquiátrico. Também pe