Postagens

Mostrando postagens de março, 2025

Pequeno poder (poema) - Renê Paulauskas

Meus poder É uma intuição  Tão forte Que mais parece previsão  Nas horas e minutos Nos dias como serão Nas relações de afeto  Numa morte futura Nada posso mudar Apenas abreviar Com resigno ou lamento O que logo virá É pouco, eu sei Diante da vastidão do mundo  Antecipar Como o mundo irá me afetar.

Seres (poema) - Renê Paulauskas

Eu dependo de afetos Não minto Nada se faz sem esses seres do acaso Minha rota binária Com cada um Uma sede de alcançar o óbvio no improvável  Me descubro Onde posso Criando um terreno seguro Mas quando surto Sai do chão  Um terremoto tudo destruindo Alguns fogem Outros não  Só os mais fortes vão ficando Que afloram leves E aqui povoam Uma geografia de caatinga do meu sertão

Breve (poema)- Renê Paulauskas

Décadas para acabar E a ânsia de curtir  Antes que seja tarde Antes que tudo mude Meu pai morreu jovem Minha mãe foi jovem muito tempo E os velhos? Não existem? Meu avô foi velho Minha avó era velha e divertida  Minha bisavó era jovem, até demais Morreu depois de sua festa de cem anos Mas o que fazer Depois de não mais couber Onde exista vida E não puder enxergar Demorará Esse dia ainda Pois o que vejo Ainda me anima E se antes chegar Que seja como uma nuvem Que vem cobrindo Quase sem se notar.

O tempo e a memória - Renê Paulauskas

Na engrenagem da vida o tempo é peça fundamental. Marcador de histórias, que nascem, são vividas e morrem. Mas há outra peça fundamental que se encaixa ao tempo. É a memória.  Sem ela impossível acompanhar essa imensa engrenagem da vida. 

Sala fechada (poema) - Renê Paulauskas

Primeiro caíram todas as folhas A mesa já não era posta há anos  Até fecharem a sala definitivamente A tataravó falecera com cem anos A bisavó, com noventa Sobrara só a avó, os pais e netas Que de uma hora pra outra ficaram mudos.

Encarnado (poema) - Renê Paulauskas

É encarnada a carne Tão dura e dolorida  Porque dói na mente A mesma que sonha Fosse somente a carne Já desgastada e penosa Fria e ausente Mas a criança grita E degela a erupção  Da pele rompida Infeliz equação  O espírito e o corpo  Um prenúncio de morte No meu coração.

Naquela rua (poema) - Renê Paulauskas

Naquela rua não tinha nada Havia o eco que me engolia E eu sorria, sorria As tardes frias me possuíam Não para não dizer nada Mas pra não precisar nada falar Era a felicidade vaga A quietude das folhas  O entardecer de um dia frio.

Antes de dormir - Renê Paulauskas

Antes de dormir, deitado na cama, fecha os olhos e em silêncio começa a pensar nos mosquitos, nesses tempos de verão. Conforme os dias passam passa a percepção de que esses mosquitos sempre aparecem depois dele pensar neles. Às vezes consegue controlar sua vinda passando a não pensar neles. E um dia percebeu que assim como os mosquitos antes de dormir é a vida, esse sonho denso.