Castelo de Areia- Renê Paulauskas

 Ele chegava em casa, tirava a roupa e tomava um banho. Em seguida punha um pijama e chinelos. Sentava na poltrona da sala e ficava somente com as imagens dos objetos em volta, luzes e sombras e o barulho de sua respiração junto aos ruídos da vizinhança. Um pensamento ou outro passava pela sua cabeça, mas nada que o perturbasse. Nunca fizera yoga, nem curso de meditação. Achava ridículo alguém achar que, ficar olhando os objetos da sua sala sem muito o que pensar, fosse algo digno de elogios ou algo parecido. 

Mas em outras horas era tragado por seus pensamentos onde sua aparência era de quem estava fora do ar. Ao mesmo tempo tinha uma mente limpa que era carregada por pensamentos complexos.

Tinha muito tempo livre, e às vezes, não sabia o que fazer com o excesso de horas do dia. Pensava: "seria tão melhor se as pessoas trabalhassem menos e tivessem mais horas pra si". Para ele, inclusive. 

Se sentia às vezes afastado do mundo. Como se tivesse numa redoma de vidro. Como se não fosse de carne e osso. E tinha muito medo de se machucar. Por isso quase não saia de casa, e quando saia, na volta, tomava um banho pra tirar toda "energia ruim", segundo ele.

Assim, tinha poucos amigos. Com quem saia para longas caminhadas. E longas e profundas conversas, que o aliviava do dia a dia e da rotina em casa.

Sua família era muito importante para ele, pelo menos seu núcleo menor. Falava constantemente com todos afim de saber se estavam bem. 

Tinha tido algumas namoradas, mas não era do tipo que paquerava em locais públicos. Apesar de algumas vezes se deixar levar pelo entusiasmo de uma atração independente onde estivesse.

Mas ultimamente preferia ficar sozinho a se meter em enrascada, já não tinha vinte e poucos anos. Estava na meia idade e pouco que tinha, tinha que valer a pena, inclusive o amor.

Então se sujeitava a sua vida monástica sem grandes emoções. Distante do que queria, mas com uma reserva enorme contra o que não queria.

Assim se fechava "no alto de sua montanha" tão miserável como ele mesmo. Como são todas as vidas e suas escolhas: um castelo de abstrações da alma, tão sólido, como um castelo de areia.

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