O Tocador de pífano_Renê Paulauskas


Todas as tardes, um homem atravessava a cidade até um parque. Saia de casa com um banquinho e uma flauta, subia a rua mais alta de seu bairro, descia para o bairro vizinho, atravessava uma ponte e entrava por uma porta pouco conhecida. Dentro do parque, lá estava ele, tocando junto a pássaros das árvores envolta.

Um homem, que trabalhava num escritório enfrente observava pela janela. Um dia teve a coragem de perguntar:

__Bom dia, senhor! Por que você vem sempre a esta mesma praça?

__A primeira vez que vim, cheguei aqui as 11horas e sem perceber já eram 16horas. No dia seguinte, achei que seria diferente, então trouxe minha flauta e sem eu perceber, de novo passou o tempo. Logo comecei a reparar nos pássaros e conhecer seus cantos. Tocamos juntos já há oito anos.

__E o senhor já pensou em se apresentar em público?

__Não, ainda não estamos preparados, tocamos para nós mesmos. Mesmo porque, acho que o compromisso com o público talvez exigisse responsabilidade demais para nós no momento. Tudo o que queremos é passar o tempo.__E o senhor de casaquinho marrom pega seu pífano e volta a tocar. De fundo se ouve vários pássaros, mas de um jeito que seria difícil para alguém perceber que aquilo fosse música.

O homem volta para o escritório meio confuso, deixando o tocador de pífano no parque.

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