Seus Olhos- Renê Paulauskas

Caminhava olhando para o chão, acreditando ter que fazer pegadas desenhando coordenadas, como se essas definissem os próximos passos de sua trajetória. Assim, caminhava até o bar.
Lá era um homem normal, ninguém sabia de seu problema ou pouco se importavam. Em algumas ocasiões se descontrolava eufórico, coisa que incomodava seus colegas de copo, mas nada que ao se desculpar não fosse aceito em seu grupo. O engraçado é que ao contrário do que ele imaginava que, nessas crises de euforia, que fora aceito como um homem valente, forte, vigoroso e na sua fantasia até temido.
Também se achava irresistível e mais atraente para as mulheres do que de fato era. Tinha um ego fenomenal. Fazia fantasias inteiras com mulheres que tinha tido pouquíssimos contatos de uma maneira que lhe cobriam o vazio de falta de relações humanas de modo que tudo o que imaginava era irrepreensivelmente maior do que a coisa em si.
E desse modo se tornara um exagerado, não de dar ênfase de modo a trazer pra si atenção, mas pelo simples fato de fantasiar e achar mais importante o contar do que os fatos em si.
Queria mesmo ter uma vida farta de romances, aventuras e fatos pitorescos, mas vivia em sua casa junto a sua mãe e avó. Também tivera quando jovem sua parcela de pequenas aventuras e romances e tinha certeza que não tinha mais ânimo para viajar sozinho e sem destino como um adolescente. Em vês disso, imaginava sem saber, pequenos enredos ali mesmo em seu bairro em qualquer lacuna ou espaço que ele pudesse preencher como queria. Assim vivia sua vida insignificante para os outros, mas pra si de uma complexa responsabilidade.

E nesses enredos, tramas e novelas, tinha sua história como uma vida comum. Tão simples e corriqueira como qualquer outra. Cheia de empecilhos e contradições e contrariedades como deve ser. Enfim, era um cara normal.

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