Ele- Renê Paulauskas

 Ele andava hora olhando pro chão, hora pro céu, e achava graça nas pombas e seu jeito mímico de andar. Era tímido, guardava o mundo pra si. Falava pouco, era um bom ouvinte, mas ficava irritado com pessoas que falavam demais. Mesmo assim, tinha com seus poucos amigos, uma grande dedicação.

Com um amigo, conheceu uma garota. Ela era punk. Se encontraram algumas vezes até começarem a namorar. Ele dava vazão a um espírito novo de aventura onde iam. Ela era baixista e quando não estavam em shows estavam namorando em lugares proibidos. Foi ficando corajoso, mas ainda com traços de timidez. 

Passaram um ano entre viagens, shows e sem esperar, ficaram grávidos. Para ele foi de longe o dia mais feliz de sua vida, para ela, nem tanto. Mesmo assim juntaram as trouxas e foram morar juntos. 

O bebê nasceu, ou melhor, a bebê. E o casal começou a dar sinal de suas primeiras falhas. Ciúmes excessivo por parte dela e perderam a casa onde moravam.

Já em outra casa, ele cuidava de tudo. Acordava bem cedo e levava sua filhota brincando no carrinho da casa até a pré escola. Ia pra faculdade, depois pegava sua filha da escolinha até em casa. Dava banho, comida e antes de sair à noite pra fazer caricaturas, a colocava pra dormir.

A mãe quase nunca estava em casa. Trabalhava e tinha começado a fazer a mesma faculdade que ele. Até ele descobrir que ela estava tendo um caso.

Nesse momento seu mundo caiu. Tentou negar pra si o que estava acontecendo até que surtou. Explodiu de uma maneira nunca feita antes. E os dois se separaram.

Uma semana depois a avó materna da criança foi buscá-la. Sua filha o chamava: "Mamãe!" e a avó falava: "A mamãe tá em casa...".

Sem sua filha e sua esposa uma sombra surgida naquele dia de separação foi tomando lugar. Foi quase um ano morando sozinho e desequilibrando aos poucos. Até surgir as primeiras festas sem dormir  acompanhado de alucinógenos e Kabum! Estava feito o estrago. Diagnóstico: Transtorno Bipolar.

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