O MENINO QUE SUMIU NO VIZINHO- RENÊ PAULAUSKAS

Viviam ali, lado a lado, dois vizinhos que não se conheciam há três gerações. Até que um dia um neto do filho do construtor da primeira casa, começou a espiar a casa ao lado. A casa de muro alto, deixava folhagens à vista, um pé de amoreira, outro de goiaba, limão; e o menino muito pequeno queria o muro pular.

Pôs com quatro anos de idade, uma escada no pé do muro, ninguém sabe como, e foi lá ver mais o que tinha. Fora as árvores, trepadeiras e uma horta, sentia o cheiro dos sucos daquele pomar, apareceu o maior cão já visto por ele, um Pastor Alemão preto, que corria como um louco. E o menino pasmo, vendo seu fim desesperado, caiu da escada, proibido de bisbilhotar o vizinho mais vezes.

Um novo morador do vizinho, neto do construtor da casa, parecia uma pessoa especial. Tinha muito jeito com as pessoas, mesmo tendo defeitos, como às vezes ficar gritando com sua mãe por motivos bobos, como: ‘’onde você escondeu as pilhas do meu gravador?!’’ (quando ele mesmo escondia de si quase tudo o que mexia). Mas foi num dia desses, quando brincava com sua sobrinha no quintal, que viu aquele pequeno menino de óculos espiando os dois. Arregalou os olhos e acenou. O menino surpreso se escondeu atrás da porta, voltando à espiar menos de um minuto depois. O moço sorriu, se aproximou do muro e perguntou: ‘’Você quer vir aqui brincar?’’. O garoto coçando a cabeça, pois a mão nas grandes lentes confirmando. O homem estendeu os braços por cima do muro, e pegou o menino.

Aterrizado em novo quintal, se sentia em marte. Mas feliz da vida, como procurando marcianos por trás da geografia. Brincou com a menina, uma menina daquela família, no começo ficou tão emocionado que ficou segundos sem balbuciar uma palavra. Conheceu a avó da criança, uma mulher grande, mas muito sorridente e bonita, meio esquecida das coisas como seu filho. Até que diante dum segundo portão, que separava a casa do quintal, o moço abriu a porta e viu vir correndo o gigante cachorro, babando como um leão. O garoto se  escondeu por trás da porta, e o moço, percebendo seu medo, primeiro deixou que os dois se conhecessem separados pela espessa madeira. Depois foi abrindo frestas para que o menino visse o animal. Colocou a mão, fez carinho, até que o menino tocou o animal. Por fim abriu o portão de madeira verde e o cachorro começou a lamber o garoto, deixando-o todo molhado.

Passaram pra casa e foram tomar um lanche. Na mesa , diversos sucos de amora, goiaba, tamarindo, do tipo que o moço fazia quando era ainda garoto com os meninos do bairro. O moço lembra uma vez que para pegar amora, subiram no telhado para esticar as mãos e pegar mais amoras. O teto ruiu tão depressa, que ficou seu amigo debaixo dele e ele a a gritar: ‘’Fabio! Cadê você?!’’.

O menino junto com a Sofia, brincavam de esconde-esconde à todo vapor pela casa toda, em meio à moveis antigos, coisas velhas do mundo hippie da avó e até o quarto empoeirado da bisa. À noitinha, tocou a campainha. Era o pai do Renê, desesperado, perguntando se estava ali seu filho. A dona da casa, dona Ciça disse que estava brincando e disse: ‘’Vou chama-lo, só um minuto.’’ Abriu o guarda roupas, passou a mão por dentro das colchas, porta à porta, e pensou: ‘’Ele sumiu’’.

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