Do pensamento ao fato- Renê Paulauskas


A veracidade das coisas se dá por materializações. Não se tem certeza do pensamento antes de pronunciá-lo de modo que possa ser entendido, antes pelo próprio autor, segundo pelos outros. Esse é o primeiro passo para compartilhar uma ideia.
O segundo passo está na validação da ideia transmitida, em sua aprovação. Esse processo pode tanto passar por especialistas, que vão analisar e refutar ou aprovar seu conteúdo. Ou ser absorvido pelas massas, como é o caso de conteúdos da indústria cultural de massa.
Mas como se chega a uma ideia?
Essa resposta talvez seja incompleta. Mas de modo geral armazenamos conteúdos através da memória e os relacionamos com outros conteúdos já interiorizados. E reproduzimos com nossa marca, que pode ser desde uma cópia da ideia absorvida, ou uma interpretação que até contradiga o pensamento original.
Não quero ser racionalista e acredito que tudo à nossa volta é absorvido pelo inconsciente, e assim, somos plenamente capacitados para criarmos ideias novas o tempo todo. O problema é que sem uma projeção dessas ideias, pelo próprio fato delas serem originais, não se dá o devido valor a elas.
A cultura é permeada de repetições. A originalidade não é um valor em si mesmo. Existem fórmulas de como escrever um roteiro para filmes comerciais, por exemplo. Assim como uma cartilha de como você possa transmitir ideias próprias através de ideias de autores consagrados. São como receitas de bolo que estão em todos os níveis de diferentes tipos de manifestações na nossa cultura.
Se não fosse tudo isso, ainda tem o problema da legitimação daquilo que produzimos em relação à sua veiculação. Se aquilo é profissional, se teve projeção, ou se teve aprovação, seja de técnicos ou amadores. Nesse sentido, deixa-se de lado a ideia, para focar no aspecto se o autor da ideia pode ou não ser considerado socialmente, se é ou não respeitado por isso.
Assim, as ideias originais são esquecidas em nome de uma indústria cultural que tem outros interesses menos elevados. Que, ao contrário, molda nossas ideias para fins de não sermos livres pensadores, mas sim, seguidores de ideias. Que nos resignemos a um conjunto limitado de possibilidades de pensamento, dando ilegitimidade à nossa capacidade de pensarmos por nós mesmos, legitimando os especialistas, consagrados, ou ídolos criados por veículos de meios de comunicação de massa.

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