Transtorno Bipolar - Renê Paulauskas

 Hoje, dezoito anos depois daquele dia da nossa separação, começo a entender melhor o que aconteceu. 

Depois de uma história de muitas descobertas com criatividade e tesão, nosso sexo já não era mais o mesmo entrando no nosso quarto ano de relacionamento. Foi então que ela disse uma vez não se importar em não gozar. Percebia que se aproximava do trompetista da banda. Eu cuidava da nossa filha, com um ano na época. Pagava sua escola, a levava cedo, buscava, dava banho, comida, botava pra dormir, éramos muito próximos. A mãe chegava do trabalho depois que já estávamos dormindo. 

Um dia não aguentei mais e pedi a ela que me contasse se tinha acontecido alguma coisa entre ela e o trompetista. Ela disse que eles se beijaram. Conversamos rapidamente com calma dizendo que o mais importante era ficarmos juntos, como se nada tivesse acontecido. Fomos deitar e aconteceu.

Acordei em surto de agressividade a colocando pra fora de casa. Surtos como esse seriam normais dali pra frente como epoisódios de mania desencadeados por uma doença herdada da minha avó: síndrome maníaca depressiva ou transtorno bipolar.

Hoje com alguns anos a doença totalmente controlada consigo entender melhor o que aconteceu comigo.

II

Apesar desse episódio inicial, só fui diagnosticado meses depois, após meu primeiro surto psicótico depois duma festa na faculdade ingerindo álcool e maconha. 

Esse primeiro surto está descrito em detalhes no meu trabalho de conclusão de curso na FESP sobre Loucura e Manicômios, como meu primeiro episódio de internação em um pronto socorro psiquiátrico.

Demoraram anos até que eu, um jovem de vinte e poucos anos conseguisse parar de fumar maconha e conseguentemente parar com os surtos psicóticos.

Passada essa fase, já sem uso de desencadeadores de psicose e tomando os remédios com responsabilidade, ainda tinha impulsos de mania que me deixavam agressivo.

Após um acidente com uma faça onde fiz um corte na mão da minha mãe, resolvi aumentar a dose do antipsicótico. E deu certo.

Desde então tenho uma vida normal. Sem episódios de mania, sem euforia descontrolada, sem excessos de agressividade. 

Tudo que quero agora é gozar de uma vida equilibrada sem negar em tempo algum meu passado e as coisas incríveis que aprendi nesse período em que estive doente. Coisas que mereciam um outro texto bem menos formal como este.

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