AO CAIR A MOEDA- Renê Paulauskas
Ao cair a moeda o medo de se tornar como seu amigo, naquele
quarto sujo cheio de moedas espalhadas pelo chão como se não tivessem valor. Um
segundo antes se orgulhara, queria ser como ele, gostava dele, mas não aquilo
da desordem, isso queria longe.
Sentado ali, de frente pro mar, olhando as gaivotas
sobrevoarem o farol dentro de sua imaginação, sentado à noite em seu quintal.
Quando estava com a cabeça longe ficava mais bonito; acho isso porque as moças
o olhavam nessas horas. Estava descobrindo algo novo. Acho que era que não
precisava fazer nada, mas que tudo estava ligado. Longe de ser, pensava no que
poderia tímido.
‘’Eu queria ser azul, pra não existir nesse mundo’’. Pensou
varias vezes, até o mundo se impor devagarinho, como uma gorda que vai te
conquistando aos poucos, dando doces de um em um, até sentir que já não vivia o
inferno, que existia para cada dia bom, um ruim e quando aceitou, veio o lugar
onde podia viver um dia bom com outro bom e assim. Às vezes recaia com medo de
perder os pés do chão.
Imagens são só imagens. As coisas eram como o rabo de seu
gato, às vezes preto, às vezes peludo ou carinhoso. A tênue medida, que não
carregava emoção de mais, nem ficava oca, era a medida para realizar o mundo.
Longe de ser normal, era louco, mas sabia como viver normalmente. Isso o deixou
feliz.
‘’Que coisas aquelas que vi aquele dia?’’ era o mundo, banal
e traiçoeiro, prestes a se tornar medíocre, mas ainda surpreendente. Pensar
sobre tais assuntos lhe dava dor de cabeça, preferia voltar ao seu mundo. A
chuva cobrindo a casa lhe dava paz.
Tinha medo de retratos, como índios aos espelhos. Sua
coragem era pequena perto de um mundo tão grande, então ignorava o mundo e o
engolia e o vomitava. Dali nasciam brotos que depois de dormir e acordar,
lembrava em si coisas que ignorava, digeria o universo rapidamente.
Então ligou para seu amigo e esse sorriu como quem engana o
mundo pela milésima vez: ‘’sim, estou ótimo’’.
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