Um Novo Mundo- RENÊ PAULAUSKAS
Hoje chove e as gotas me separam de sair lá fora. Assim como
a falta de juventude, suficientes para tomar um banho de chuva. Assim como os
mais novos se separam da mesma vida por estarem ligados aos micro computadores.
Este mundo virtual com o qual se relacionam é tão presente como a presença de
chuva para mim, tão real quanto, algo que possa molhar. Não sei se talvez pela
minha idade, ter crescido num mundo sem essa realidade (virtual), possa
discorrer sobre este assunto com alguma crítica ou isenção de valores tão
atuais.
Toda a diferença entre o virtual e o real está num pequeno
detalhe, o da coisa ser ou não transmitida ao vivo ou reproduzida como por um
aparelho de computador, como no caso de uma conversa online. O fato é que mesmo
no telefone existe uma alteração daquilo, da voz, se caso fosse transmitida ao
vivo, e no caso de uma conversa escrita, é colocada em códigos, como eram
escritas as cartas antigamente. E sobre uma reportagem, por exemplo,
transmitida ao vivo, nunca é em tempo real, existem frames de segundos de
atraso, mas ainda é muito próximo do real. E em última instância, todas as
coisas que vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos e degustamos mais todos os outros
novos sentidos que ainda estão sendo estudados como equilíbrio e inúmeros outros
são sentidos e processados pelo nosso cérebro, fazendo pouca diferença o fato
de uma mensagem ser transmitida ao vivo, em tempo real ou não.
Essa inúmera ou quase nula diferença é a grande questão do
início do nosso século. Fazendo-nos perder o substrato da vida em nome de
tantas novidades tecnológicas, me pergunto se vamos achar uma saída para esse
grande labirinto onde entramos. Hoje os mais novos interagem em jogos explícitos
de sexo por meio de havatares que agem por seus comandos. Hoje em dia pessoas
se utilizem de material pornô proibido pode ser denunciado e punido. Ao que
parece existe hoje uma permeação do virtual no real e do real no virtual. As
duas coisas, como disse antes, estão e passam a ser, cada vez mais, a mesma
coisa. Lembro-me que quando minha ex mulher me flagrou vendo uma revista pornô,
indignada, falou que se eu continuasse com esse hábito, paqueraria pessoas pela
internet como pelo antigo MSN. O fato é que ela teve ciúmes de uma imagem fotográfica
impressa num papel e eu, por outro lado, não imaginava a possibilidade real dela
conhecer pessoas pelo MSN.
O fato é que ao sermos invadidos em nossos sentidos por
alguma coisa, fica difícil racionalizar sobre a questão existencial dessa mesma
coisa, seja ela uma revista, um jogo, um vídeo ou até uma conversa pelo
computador nos tempos do início do MSN. E vamos continuar a ser cada vez mais
encharcados de novidades tecnológicas que nos tragam novas confusões e ciladas.
O perigo é o de sermos substituídos por coisas artificiais
em vez de coisas reais. A definição de coisa artificial ou real não ajuda
muito, entrando sempre no mesmo problema da interpretação dos nossos sentidos.
Mas existe algo perverso na criação e uso de ferramentas outros inúmeros meios
viciantes para controlar dados e conseguir montar um novo mercado mundial com
uma nova economia globalizada que pode resultar num novo poder. O poder de usar
seus dados, independente de sua vontade seja para fins econômicos ou policiais.
O trânsito de um poder baseado em papel, para um novo informatizado, esta em
agencias que todos utilizamos e em muitos casos somos viciados nelas.
O perigo em não saber se alguma coisa é real ou não, pode
piorar quando começarem a usar os seus dados e as suas imagens para dizer para
outros que você não é você, ou seja, usar nossos dados em troca de favores
políticos ou econômicos.
Outra questão de importância é o fato de em países com o
Coreia do Sul, as crianças terem sérios tipos de problema devido ao vício em
celulares e micro computadores que tem atrapalhado os estudos e a vida como um
todo. Imagine um futuro onde as pessoas nas ruas não são mais vistas, olhadas
ou indagadas pelo contato humano, onde você vai a um restaurante e todos estão
enfurnados em suas redes sociais em seus celulares. Este é nosso tempo e pode
piorar.
Com todas minhas ressalvas, continuo escrevendo nesse blog,
tenho facebook, uso o google e sou tão vítima da tecnologia como vocês. O fato
de usar ou não estes serviços não faz diferença, é preciso nos conscientizarmos
de nosso tempo para não nos perdermos neste labirinto que vai reduzindo e
botando tantos ruídos e estratégias de mercado, controle e economia, que fica
difícil nos reconhecer neles.
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