O AVENTUREIRO- RENÊ PAULAUSKAS

Um homem, cansado de sua história, de ver sempre as mesmas paisagens e recorrer às mesmas memórias, resolveu deixar tudo para trás e sair de sua terra natal, um pequeno oásis no meio do deserto.
Ele andava em meio às dunas, enfrentando o mais terrível deserto, acreditando que o mundo era muito maior do que aquilo. Estava já no segundo dia andando tentando se guiar pelas estrelas rumo ao sul. Tinha água e pães para três dias e três noites. Não duraria muito mais se algo como um milagre não acontecesse.
Na noite do terceiro dia, já esgotado e sem mantimentos, sem esperanças deitou no deserto para dormir e não pensar mais em nada. Na madrugada em vigília, viu três homens africanos o levar para outro lugar. Quando acordou de manhã estava num palácio de paredes azul turquesa com fontes por um longo caminho cercado de palmeiras imperiais. Levantou e estava disposto e animado como se não tivesse andado por três dias seguidos, como se alguém ou algo tivesse tirado seu cansaço.
Logo vieram dois soldados que o carregaram para ver o imperador: Um homem bonito e delicado que controlava aquele lugar com extrema eficiência. O imperador o olhou de cima de seu trono dourado e cauteloso disse: “Você veio aqui roubar algo de meu reino e meus súditos não terão piedade. Não posso fazer nada para impedi-lo. Mas preste atenção a uma coisa, este reino não lhe dará liberdade como almeja, será um prisioneiro de suas responsabilidades e sua aventura terminará.” O homem confuso ouvindo tais palavras, disse que estava tendo um equívoco, que ele não almejava roubar nada e que se o rei permitisse ele iria embora procurar outros lugares a conhecer.
As portas do palácio foram abertas e ele saiu ao mundo para conhecer aquela terra próxima do palácio. Milhares de pessoas passavam fome. Moscas se misturavam à crianças magras  como alvos fáceis aos abutres que espreitavam. A violência tomava conta de tudo, uma verdadeira desordem social. Aos poucos foi saindo de lá entrando num novo deserto, não de dunas de areia, mas de chão seco e rachado. Nem pensou no fato de poder ficar preso mais uma vez em terras áridas e foi seguindo. No segundo dia mesmo orientado pelas estrelas percebeu que via os mesmos lugares repetidamente, e continuou aquele caminho até o amanhecer. Saindo do deserto viu uma casa e depois outra e outra, e foi andando até chegar a uma nova cidade.
Era uma cidade de pessoas pobres, não miseráveis. De lá pensou que poderia conhecer lugares melhores, ansiava por ver água. Entrou num ônibus e viu uma mulher linda que retornou o olhar. Ela se aproximou e sorriu, “Oi! Você parece estrangeiro (rindo)”. “Posso descer com você?”. E ela acenou com a cabeça.
Entraram em um bar onde ela comprou uma estranha substancia alucinógena que usaram no pé da escada de uma casa dali próximo. Ele aos poucos ia percebendo que era muito nova, apesar de muito bonita e resolveu ir embora. Essa o seguiu e quando se despediram lhe beijou a boca. O beijo o fez sentir o que procurava, uma sensação boa como se tudo estivesse no seu lugar, não precisando mais caminhar longas léguas para chegar a algo, estava tudo ali.
Pagou um hotel próximo ao centro e foi procurar um trabalho. Sabia ler e escrever e pensou em vender seu trabalho como escrivão, bibliotecário ou coisa do tipo. Naquela cidade não tinha quase bibliotecas e foi obrigado a ir à outra cidade mais rica.
Foi lá que de dentro de um ônibus viu um rio caudaloso passar em seus olhos, refrescando o dia quente e sua alma. Desceu e foi ali molhar os pés. Molhou seu rosto e ficou um tempo à sua margem pensando na vida.
Sentia saudades de sua família, de seus amigos, pensou em voltar. Mas voltar agora, depois de ter passado dois desertos, agora que começara a procurar trabalho? Não teve dúvidas, voltaria para casa de seus pais. Mas antes se despediria dela, a moça encantada.
Voltou para a cidade a procurando nos mesmos bares onde haviam passado. Lá estava ela, com uma amiga. Ficou surpresa quando o viu. Ele cumprimentou sua amiga e olhando emocionado para ela, a moça encantada que fizera ele se sentir tão bem no dia anterior falou: “Estou gostando de você!”. Essa olhou para baixo, atravessou a rua e beijou o primeiro transeunte que passara. Incomodado, foram os três em outro bar num porão ali próximo. Dessa vez ele beijou sua amiga para lhe provocar ciúmes, que perguntou se poderia dormir com ele.
Ao chegarem ao hotel, já tarde madrugada, ele pensou em dormir um pouco. A moça subiu em seu corpo pedindo que a deflorasse, estava apaixonada.
Já tinham passado semanas e ainda estava na cidade e seu dinheiro acabando. Após alguns meses estavam os dois sem dinheiro algum. A moça não se incomodava. Estava apaixonada.
Com o tempo percebeu que não estava feliz naquele lugar que tinha que fazer algo sem saber direito o que. Até que um dia ela lhe dissera que ela queria um filho dele. Nesse momento fez suas malas de madrugada e voltou para a casa de seus pais.
Após caminhar dois desertos quase sem mantimentos, avistou sua terra natal. Um pequeno oásis, com uma população onde todos se conheciam, mas sem misérias ou complicações, enfim estava em casa para contar sua breve aventura.

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