Meio louco meio são- Renê Paulauskas

O pobre menino de trinta e seis anos, meio louco meio são, achava que já tinha visto de tudo um pouco e de um pouco quase tudo. Já tinha se imaginado Jesus, Deus, Deuses, se chara no mundo alguém especial, e agora depois de quase um tudo, só faltava dentro de sua cabeça achar que se achava um cara normal. É meio complicada esta parte, já que não acreditar em nada achava impossível, mas achava que dentro deste impossível ele era um cara normal. Como se dentro duma fábula, ao passar em não acreditar mais em nada, só nas coisas banais, traria harmonia a vida como um deus despercebido, uma força da natureza. E deste modo se esforçava para ser um cara normal, para que um dia pudesse sentar em seu trono de pessoa insignificante, esquecido por todos inclusive por ele mesmo. Esta é a história deste rapaz.
Pragmatismo seria a maneira de entender as coisas pelo sentido prático. Mas o que acontece quando tivemos experiências “impossíveis de terem ocorrido neste mundo de leis práticas”? Simplesmente ignoramos. Seguimos com nossas vidas para não sermos chamados de loucos. Tentamos realmente acreditar que tudo foi um truque de nossas cabeças. É uma luta contra nossa memória, daquelas lembranças que só agora podem ser vistas como ocupadas num momento em que a mente estava alterada. E a certeza que a mente pode tornar uma fantasia real e você ao mesmo tempo não suporta ou quer acreditar nisto, você só quer ter uma vida normal, com leis físicas que definam a realidade ao redor.
A doutrina de não pensar demais seria uma ótima opção, desde que eu conseguisse viver assim de modo clean. Às vezes penso ser possível que crie fantasias e pensamentos o tempo todo como modo de dar algum sentido a minha vida realmente insignificante e despropositada. Mas na maioria do tempo acredito mesmo em minhas ideias, por mais fora do consenso que elas possam parecer. E não tendo a saída de não pensar, procuro saída pensando.
Um dia, já depois de terem ocorrido vários fatos “impossíveis de terem acontecido”. Desconfiado da existência de Deus, falei alto do meu colchão: Se é verdade que existe, apareça! E imediatamente apareceu uma luz da parede até o teto azul saída do vídeo cassete. Assim penso que deus pode ser apenas uma luz no vídeo cassete, mas realmente não acredito nisto. Tantos outros fatos curiosos me ocorreram, que por serem “irreais” ou “impossíveis” ao invés de chamar atenção do leitor acabam pelo contrário por fazer este abandonar o texto.
É isso que foi definido até como alta literatura, o realismo. O realismo fantástico nunca pode competir com o realismo pragmático. Deste modo não creio fazer sentido contar a minha história, que se inicia na fantasia e desemboca na loucura e sobrevive na dúvida e tentativa de um novo realismo.
Já algum tempo meu cérebro produz dopamina em grande quantidade, fazendo-me viver uma vida sempre eufórica e com tons acentuados, seja pra vida pessoal e a arte. Não gosto de me descrever segundo a psiquiatria, que caminha limitada, mas tenho noção que as substâncias produzidas ou não produzidas pelos nossos cérebros podem ser responsáveis pelas paixões, criatividade, e outras como a serotonina, que pouco produzo, pelo amor.
O complicado pra mim, não é achar que as coisas que “impossíveis de terem ocorrido” foram fruto da minha imaginação, o difícil é aceitar que elas realmente aconteceram com testemunhas e a mesma surpresa, para não dizer susto, no momento em que “coisas impossíveis” aconteceram. Aceitar que estas coisas existem e ocorrem é muito difícil pra mim.

Gostaria mesmo de não acreditar ou poder refutar como fazem os filósofos. Mas sinto que não vou me livrar dessa sina tão cedo. Assim como penso que ainda resta um longo caminho para me tornar um ser humano realmente normal, esquecido e insignificante.  

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