Vinil (conto) - Renê Paulauskas

 Vinil era um jovem inteligente que adorava contar suas histórias de ter prestado o Exército no fim dos anos noventa. 

Seus amigos o adoravam e contavam que adolescente ele escalava o prédio em que morava na avenida Pompéia até seu apartamento no quinto andar.

O conheci na escola de desenho por um amigo em comum. Conversamos rapidamente mas logo me convidou pra sair junto com sua amiga.

Fomos numa Have no Bexiga. Passei meio mal e disse a ele que estava indo embora. Ele disse:

__Vai com meu carro!

__ Eu não sei dirigir. __ E rimos.


II

Vinil começou a me visitar em casa. Eu contava os sonhos que tinha tido com riqueza de detalhes. Ele falava das viagens que tinha tido com ácido.

Até que depois de um tempo ele começou a falar umas coisas sem sentido. E começou a piorar.

Eu não sabia bem o que estava passando com ele e preferi me afastar.


III

Longos anos se passaram até que o reencontrei, quando já estava terminando a faculdade. Trocamos telefones e marcamos de nos encontrar.

Fiquei sabendo que ele tinha tido um surto psicótico e passado por uma internação. Seu diagnóstico era de esquizofrenia.

Falei que tinha passado por coisas semelhantes e que meu diagnóstico era de transtorno bipolar.


IV

Comecei a frequentar seu quarto no apartamento de seus pais, com bitucas de cigarro por todos os lados.

Começamos a escrever juntos. Mais tarde a tocar juntos. Acabamos por fundar um coletivo de arte junto com meu pai e alguns amigos.


V

Vinil apesar de tomar os antipsicóticos, como eu também tomava, continuava ouvindo vozes em sua cabeça.

Os remédios tinham o transformado num ser cada vez com menos expressão. Mas pensava em aumentar a dose da risperidona pra oito miligramas, sendo o máximo recomendado seis.

Falei com ele e quando voltei ao apartamento, estava mudado.


VI

Disse que começaria a trabalhar como técnico de computador. Que iria se mudar. E perguntou se eu não queria ir com ele. E ele de fato se mudou.

Fui visitá-lo no apartamento novo bancado pelos seus pais. Ainda assim ele queria sua independência. Tentou trabalhar como freelancer com alguns conhecidos. Mas não se adaptou.


VII

Meses depois tinha cortado os medicamentos e começou a entrar em crise. 

O que estava por trás disso tudo era sua não aceitação em ser esquizofrênico. 


VIII

Poucos meses depois um amigo dele me liga dizendo que Vinil foi encontrado morto com H1 N1 em seu apartamento. 

Lembro de sua empolgação em publicar seu pequeno livro "Esquizofrenia" e depois dele deletar. Onde escreveu algo como: "Os deuses haviam judiado demais daquele mortal".


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