Breve ensaio sobre a "loucura" como poder mental- Renê Paulauskas


Chamar alguém de louco é o mesmo que ignorar seu discurso a estigmatizando de doente mental. É um artifício político usado de modo alienado por falta de informação, ou, em último caso, por razões fascistas. Quando na verdade o que acontece entre uma pessoa em estado alterado de consciência, seja por uso de psicotrópicos, ou não e uma outra, em estado normal, é uma diferença estado mental em relação à dinâmica e velocidade das sinapses cerebrais. Cada dinâmica e velocidade definem um estado mental x, e sua alteração um estado y. Só sendo possível uma mediação entre estados mentais x e y quando os estados ocorrem na mesma pessoa, sendo mediado pela memória. Esse processo dialético entre os estados alterados e, através da memória, sua reflexão em estado normal gera uma síntese, que é a consciência além dos limites da razão. Essa consciência é revolucionária e só pode ser alcançada por quem tem ou teve experiências de alteração de consciência. Por isso, na maioria das vezes, essas pessoas são chamadas de loucas, ou doentes mentais por psicólogos, psiquiatras ou simples ignorantes.
Sendo assim, tratar uma pessoa em estado alterado de consciência como se não esteja usando    a razão é um preconceito. O que acontece é que os acontecimentos lógicos gerados em estados alterados não podem ser provados em estado normal de consciência por uma questão de que são os estados mentais que, ao contrário do que dizem, criam a própria realidade.
Penso logo crio, é muito mais que uma filosofia, é uma prática que através de evocar o pensamento cria literalmente a realidade. Assim, ao contrário do que se imagina, o pensamento é anterior à própria realidade, e ao mesmo tempo, a cria através do próprio pensamento enquanto prática, que pode ser ou não consciente. Assim, não existe realidade à priori, no máximo, pensamentos à priori. A ilusão da realidade como uma coisa material que existe além de nossa existência, como disse, é só uma ilusão. Ilusão essa que nos aprisiona com toda sua “realidade” material, gravidade, dor. A descoberta da realidade como prática do pensamento e não como realidade material anterior à própria existência se faz individualmente e pode chegar a ser impossível para a maioria das pessoas. Assim esse texto tem sentido contrário a auto ajuda no sentido que se quer pode ser pensado pela maioria das pessoas. Mesmo assim, publico na esperança remota de que algum pensador, no sentido prático da palavra, sinta-se feliz em achar-me contra toda corrente de pensamento da nossa cultura tão enraizada no caráter material das coisas.
Toda “realidade” é ilusão, apesar de ser uma ilusão com todas as características matérias que “comprovam” sua realidade. Para perceber a diferença, faz-se necessário um auto exame em que é perceptivo a reverberação dos próprios pensamentos na “realidade”. Coisa que seria impossível se esta fosse realmente real. Lembrando que é possível que tudo a sua volta, absolutamente tudo, faça parte de ilusão. De modo que fiquemos sem alternativa de atuação, vivendo como meros seres controlados em cativeiro. Cativeiro este, que seria a própria “realidade”.
Vivemos um mundo de aparências, como no do mito da caverna de Platão. Quem consegue fugir da caverna e ver a realidade das coisas além das suas projeções no interior da caverna, quando volta, e conta o que viu, é morto como louco, por perturbar a ordem das coisas. O ser humano comum está aprisionado à “realidade” das coisas como sua verdade e a defende como tal e por ela vive sem nunca notar que faz parte de uma farsa. Farsa essa criada com qual propósito?
Não sabemos ao certo, mas uma das teorias, como na do filme Matrix, é de esse sistema se alimentaria de nossa energia. Acredito que esse sistema se alimente de nossa energia sim, mas muito mais de energia psíquica mental do que dos outros órgãos. Esse sistema se alimenta de nossos pensamentos para construir a própria ilusão de realidade.
Primeiro vem o pensamento, que em seguida é materializado em matéria. A matéria viva, toda sua realidade e comprovação, dão a ilusão de que a matéria existia antes do próprio pensamento. Esse fenômeno pode ser chamado de materialização das coisas. Mas é muito mais recorrente e comum do que os chamados milagres religiosos.
As próprias intervenções espirituais, que existem de fato, se dão dessa maneira também. Aliás, é esse o ponto mais importante deste ensaio, nosso poder mental.

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