Delírio na passeata- Renê Paulauskas

 Ele estava andando na rua quando avistou uma multidão. Era uma passeata em favor da democracia. Foi chegando mais perto, avistou o Lula, que olhou no sentido dele e disse: ''Tudo isso que estamos fazendo é por você.''. O Homem sentiu um frio em suas pernas, os remédios controlados pareciam parar de funcionar. Pensava: "Seria eu o sentido de tudo, e ao mesmo tempo, tudo seria falso?" Caminhou contrário a multidão olhando pro chão. Vez ou outra sentia que estavam falando dele, nas referencias de filmes, alguns programas de TV. Tomava remédios fortíssimos para que essas impressões não o desvirtuasse da realidade. Mas por mais que estivesse bem ultimamente, aquela tarde deixou dúvidas mais uma vez.

Chegou em casa, sua mãe tinha saído, a casa estava vazia. Teve medo de surtar. De ser amarrado mais uma vez na cama depois de tomar um "sossega leão" no Pronto Socorro Psiquiátrico e ter que tomar aqueles outros remédios que travavam sua fala e movimentos. Quando chegava depois de caminhadas onde tinha delírios, sempre tinha uma ambulância o esperando em casa para o levar. Por isso preferiu começar a tomar os remédios corretamente e parar com o uso da maconha que sempre o deixava eufórico.

Mas isso tinha ocorrido há mais de dez anos... Nos primeiros três anos nunca mais havia tido delírios. Bem na verdade, depois daquela viagem em que tinha fugido de casa para não tomar um medicamento que haviam imposto a ele. Foi lá, de frente pro mar, já há dois dias longe de casa, dormindo na praia, que em estado de vigília à noite, avistou quatro ''deuses africanos'', vindo caminhando por cima das águas e passando por ele. Até um deles perceber seu corpo deitado na areia e colocar uma minhoquinha fluorescente em sua espinha dorsal. Ele sentiu um repuxar em sua coluna e apagou. No dia seguinte estava lúcido, fez algumas caricaturas na praia e voltou pra casa.

Depois disso nunca mais surtou, tinha momentos de segundos que faziam sua imaginação ir mais longe, mas logo voltava. Ver o presidente falando pra ele o impactara, mas, relaxado em casa, bebendo um copo d´água, percebera que não passava de uma impressão equivocada. Que daquela distância seria impossível o presidente enxergar com nitidez sua figura na multidão. Por precaução, tomou mais duas miligramas de antipsicótico e sua mãe chegou.

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