Garimpeiro (filosófico) - Renê Paulauskas

 Mira, eu sei. Mas mira errado. Olha o céu e as estrelas, mas não olha do lado. Tenta alcançar o improvável, com sede de conquistar, mas não vê onde está. Se miraste tua flecha no macaco mais próximo para somente te alimentar, estaria certo, como um índio. O mesmo que divide seu afeto com outros bichos. Mas quer engolir o céu! Teu desejo é maior que sua boca. E enfim tu te torna mais um em um bilhão, de escravos de suas bocas famintas cheias de solidão. Mas foi o ouro, me diz, tua primeira perdição? Ou já olhava torto nas matas sonhando com arranha-céus? Ou a sede do ''progresso'' que tem por origem uma evolução tão falaciosa como tantas do homem branco. Quando? Quando rompeste a tradição de viver em harmonia com seus ancestrais? Mas, não te julgo como homem, que se perde em fantasias e delírios, que sim, nos engolem por dentro, dentro de sonhos tão lindos como os comerciais mais belos de margarina. Mira, eu sei, mas não viste tua aldeia ser estuprada? Teus iguais, contaminados? Tua selva liquidada? Foste atrás de um sonho que mais do que esperava, se tornou sombrio pesadelo. Foste ingênuo, eu sei. Não carrega a ilusão do mundo sozinho. Nem tão pouco sua vil trajetória. Sentiste tão breve o poder do anel, que não é outro, se não, este.

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