FORMIGUEIROS- RENÊ PAULAUSKAS


Passava antes longas tardes sem dizer nada. Agoniado entre a solidão e a falta de o que fazer, era ele um ansioso corpo, querendo prazeres e novidades. Descobriu um modo de passar o tempo. Cuidava da casa, mantinha-se o máximo ocupado e quando ia fazer alguma coisa como ouvir musica, tomava o cuidado de fazer outra coisa junto para distrair a mente. Não aguentava mais passear sozinho, chegou a ter ódio de passeios culturais sem perceber que o que marcara era a falta de ter com quem partilhar tanta novidade. Até que descobriu seu passa tempo preferido.

Possuía um jardim que fora muito bonito e pomposo no passado. Agora, parecia mais um quintal. Vários formigueiros se instalaram e a maioria das plantas já não tinham flores enquanto que as trepadeiras tomaram conta até do telhado, precisando urgente de uma reforma. Como não possuía prédios ao redor de seu quintal, estava acostumado a tomar banhos de esguicho desde criança, sem nenhum incomodo de ficar pelado. Banhos de sol, esguicho, balde, tudo isso passou a ser ocupado pelos formigueiros. Removeria enfim os formigueiros e faria de novo seu jardim.

Pegou o esguicho e começou a esguicha-los. Mas estavam tão duros que nada aconteceu. Teria que derruba-los com algo duro. Pegou um pau de vassoura e começou a destruir. Euforicamente, passou a destruir em segundos aqueles que seriam os lares de milhares e milhares de formigas em desespero. Foi aí então que tirou a roupa.

As mordidas causavam-lhe euforia de tal forma como só um fetiche bestial pode ser descrito. Em alguns minutos se estrebuchava no chão enquanto milhares de formigas o mordiam. Mordidas atrás de mordidas enquanto ele parecia feliz. Até o segundo momento, em que seu corpo exausto começou a se estrebuchar de desgosto, das picadas, da dor física que o afligiu por inteiro. 

Com esforço físico, saiu do quintal e foi direto para o chuveiro se lavar. Tomou um banho demorado, pois uma roupa e foi se deitar. E sonhou. Era um gigante nu do tamanho de um arranha céu que vinha pra acabar com tudo. Seus habitantes, milhares de cidadãos engravatados que mordiam sua perna em vão em meio da anarquia e destruição causada por ele. Eram como formigas insignificantes, era agora o homem mais poderoso, com a cidade aos seus pés.

No dia seguinte ao passar pelo jardim, viu as formigas trabalhando sem parar para refazer os formigueiros destruídos. Dia após dia sem cessar para terem suas vidas de novo no controle. Seriam semanas até que seus lares fossem totalmente reerguidos. Mal sabiam elas que aquele se tornara o passa tempo preferido daquele homem, que passava a maioria das horas sem fazer nada.

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