FÊNIX-VINICIUS TETTI SILLA

Ele desesperadamente cachimbava; por entre os indigentes se metia-seres renegados pela sociedade que acumula. A paranoia subia-lhe a cabeça, e num estalo estava no céu, ilusão efêmera- pois num instante já estava na fissura de dar mais uma paulada.
Quando avisavam "Lá vem a loira" era o código de que a polícia estava perto. Até que os policiais eram tolerantes, às vezes pegavam alguém com uma pedra e nada faziam; mas se fosse traficante...
Muitos indigentes já tiveram família, entretanto de tanto aprontarem foram parar no meio da rua, outros já nasceram na barriga da miséria, quase...sem oportunidade.
Tinha muita treta; eram desconfiados de tudo. Se mexeram nos seus pertences, se lhe roubaram uma rocha. Mas eram como anjos caídos à espera de uma mão que os levantasse. Ou que dessem a volta por cima...
Tinha treze anos um rapaz chamado marco. Começou fumar crack aos 11 e já estava totalmente envolto na névoa dela.
Vivia pedindo dinheiro para os passantes; até fazia uns furtos- mal sabia ele ao que isso ia lhe levar.
Havia um garota de dezesseis anos chamada Rosa. Ela e marco se conheciam à pouco tempo. Brincavam muito um com outro; até que começou surgir um afeto- sinfonia na fedentina que poderia dar samba...
Um dia uma assistente social, Graça, abordou-os e perguntou se não queriam um tratamento. Eles ficaram desconfiados:"será que vão nos mandar pra Febem ou ela é uma X9. Meio que relutantes aceitaram.
Ficaram internados entre pessoas descompensadas; e eles sofreram um bocado nos primeiros dias- quase como um parto difícil. Depois de desintoxicados há que se preencher o vazio e foram encaminhados para arteterapia. Marco começou aprender a tocar violão. E rosa a pintar. Deus os observava de algum lugar do Universo- ou seria todo. E deu-lhes livre arbítrio para seguir em frente, escolherem entre a foice precoce que era quase certa, ou o horizonte salmão dourado que se desanuvia no porvir.
Com muitas oscilações foram se aprimorando nos seus ofícios e muitas portas se abriram para eles.
Já adultos estavam bem encaminhados; faziam música e artes plásticas respectivamente- era como se o inferno se evanescesse e um Paraíso na terra se engendrava..
Casaram; tiveram uma filha chamada Yasmin e hoje vivem da sua arte, se viram como podem sempre correndo atrás.
Quem diria: da podridão ao perfume, pois uma mão foi estendida a eles. Se fosse assim sempre não teríamos tantos delinquentes e sim renascidos das cinzas como o pássaro Fênix.



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