Sofia não queria nada daquilo- Renê Paulauskas
Sofia não queria nada daquilo. Adorava seu quarto com o
pôster dos Rolling Stones, Seus discos: Vinis; o abajur decorado por ela. Às
vezes uma reunião de amigos; o namorado Punk e um começo de vida feliz e
sincera.
De uma hora pra outra, aquela festa, sua vida havia virado
de ponta cabeça. A faculdade com trabalhos atrasados, atrasado também o
aluguel, o fim do seu namoro. Tudo aquilo foi um bom motivo para fugir de tudo
através daquele psicotrópico e amanheceu louca no jardim. Não entendia nada e
buscava tudo, se perdeu em tudo não achando nada. Foi indo junto aos colegas
que amanheciam da festa se perder em algum lugar. À noite estava tão perdida
que procurou a casa da mãe. Dormiu, voltou.
De novo foi pra faculdade, ver os colegas, fumar, beber. Às
vezes uma festa. Às vezes uma casa pra visitar, um ap. E tudo indo. Até que
teve que se mudar pra um bairro mais afastado pra poder pagar as contas. Uma
única amiga foi visita-la. Nem seu pai ou sua mãe após visitarem uma primeira
vez voltaram. Começou a ficar deprimida.
Passava cada vez mais horas na faculdade só para adiar a
hora de ter que voltar pra casa. Foi se perdendo aos poucos, fazendo cursos de
teatro, se juntando com os calouros em que dividia uma matéria de dependência.
Até que um dia, foi internada.
No diagnóstico: Transtorno Afetivo Bipolar. Teria que tomar
remédios até o fim dos seus dias. Mas isso era só o começo. Atravessara um
portal em que vira anjos e demônios de cores diferentes. Viu seus pais como
alienígenas antes de chegar o socorro. Acreditava poder voar dentro do
pronto-socorro psiquiátrico. E foi, obrigada a tomar remédios tão fortes, que
imaginou não ser possível mais raciocinar, tamanho seus efeitos de paralisarem
a musculatura.
Quando voltou pra faculdade mudou o tema da sua conclusão de
curso para: loucura e manicômios. Conseguiu tirar nove e meio sem precisar fazer
a apresentação, pois estava com uma inflamação no cóccix. Conseguiu se formar.
Nunca conseguiu emprego na área. Mas os delírios não sessaram com os remédios.
Eles iam e vinham. Tinha que aumentar as doses para controla-los.
Após dez anos. Não sabia mais o que fazer. Então passou a
descrever seus pequenos surtos num blog. Esse blog é mais acessado nos Estados
Unidos e ainda assim, cada vez com menos visualizações. Mas o que fazer? Se
você espera um final feliz, sintonize no último capítulo da novela. Isso aqui é
uma crônica.
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