Mancha- Renê Paulauskas

Minha mão está manchada, é preciso cortá-la mas não tenho corágem. Antes, meus pés foram manchados, suas solas tingidas de um preto que por mais que andasse descalço não saiam nem que as esfregasse com força. Meus pés foram tingidos muito cedo, sem que precisasse. Desde cedo luto, e não passa. Já lutei com quase todos que me mancharam os pés. Mais altos, mais fortes, mais velhos. No caminho dei socos até em quem amei um dia. Hoje estou mais velho, velho pra lutar. Tenho que aprender outra maneira de brigar. Mais calmo, menos impaciente, mas ainda de solas dos pés encardidas, me controlo, pra não ser eu a manchar os pés de outra pessoa. Mas é difícil, é uma coceira constante.

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