Minha irmã e as palavras - Renê Paulauskas

Minha irmã mais nova começou a falar muito cedo. Com ainda um ano, no colo de nossa mãe, disse: A lua não parece um queijo? Já maior, na pré escola, a vi conversando com uma colega de um jeito tão complexo para uma criança de quatro, cinco anos, que fiquei meio assustado. No ginásio defendia os colegas injustiçados, nessa época nossa mãe imaginava que ela seria diplomata. Quando entrei na faculdade, era ela, do ginásio, que fazia a correção ortográfica dos meus trabalhos. 
Mas por desvio do destino, fui eu que, por prazer, mais acabei exercitando a escrita na nossa família. Não que não acredite no potencial da minha irmã, mas acho que talvez, por ela ter tido o domínio tão cedo, seja pra ela, menos mágico do que é pra mim.
Talvez, do mesmo modo, fez-se o destino meu pai ilustrador e eu, que começara tão cedo a desenhar, encontrasse nas palavras e nos sons um modo particular para me expressar. A arte tem mais a ver com a vontade do que com a técnica funcional. E sobre minha irmã, ela virou atriz.

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