Trabalho- Renê Paulauskas

 Hoje estou em casa. Um bom domingo para descansar. Amanhã não trabalho, o mundo também não deveria trabalhar. Ou apenas poucas horas, mais tempo livre do que trabalho. Quando tinha dezessete anos trabalhava como assistente de um cartunista de que eu era fã. Mal via a hora de chegar segunda feira para aprender coisas do ofício. Era muito bom, aprendi muito. Trabalhar deveria ser isso, ou quase não trabalhar.

Depois de adulto, após passar quinze anos fazendo caricaturas, e hoje, estando dez anos quase parado, não tenho muitas ilusões em relação ao trabalho. Tentei algumas vezes entrar no meio editorial como ilustrador, e percebo, é um meio muito fechado, onde as relações sociais falam mais alto que o talento muitas vezes. Meu pai era ilustrador. Se tornou por ter contatos que o indicaram para o serviço, mas tinha muito talento também. Eu o ajudei a ilustrar vários livros, antes e depois de ser assistente do cartunista Spacca. Meu pai falava pra mim: "Você tem que tomar um café com os editores." Nunca tive muito jeito pra isso. Ilustrei dois livros, um com meu pai e outro sozinho.

Para tentar outras áreas, imagino ser mais complicado ainda, com empecilhos parecidos, tendo eu, as mesmas dificuldades, principalmente, a social. Que em parte é responsável por minha personalidade, em parte, por pertencer a uma classe média baixa, onde as relações influentes estão longe dos nossos contatos. E por outro lado fico muito bem com isso, podendo ter uma vida mais original e verdadeira.

Ultimamente os trabalhos que faço é ajudar aqui em casa a cuidar da minha avó, que esse ano faz noventa anos. Um trabalho diário que vem reintegrando ela, que como eu, tem transtorno Bipolar, à nossa família. Não vejo trabalho mais digno do que esse. E a vó vem melhorando dia a dia.

Fora isso escrevo, como aqui. Desenho quando me pedem. E gosto de compor. Mas é quando não estou trabalhando, quando estou vivendo, que as coisas acontecem.

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