O velho- Renê Paulauskas

Eu corro atrás das amigas da minha irmã como um velho desesperado. As meninas que vi crescerem e eu de tão miserável estado encontro agora em seus corpos jovens uma tara sem sentido ou pudor.
Pudesse beber um copo de água que refrescasse meu ânimo, caminhar de olhos abertos vislumbrando a praia, ainda no seio da vida achando que nunca acabaria o sol. Mas meus ossos já falam e a gravidade assenta meu corpo, fecho os olhos cansados e me tinjo de branco pra me esconder das multidões.

O que resta no porto são ilusões. Mosaico de pequenos enganos polinizados por brilho de um olhar jovem. Agora a carcaça retumba, atrapalha o trânsito, suja a vista. Quem dera fossemos todos jovens pra sempre, e estar sempre caminhando para o infinito, com desejos e angustias de um mundo vivo, seríamos tolos para sempre e teríamos ânimo para viver.

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