Epifania invertida (mini-conto)- Renê Paulauskas

Ele sentia uma espécie de epifania invertida, explico. Acontecia das coisas aparecerem para ele depois dele as pensar. Isso causava uma pequena euforia e depois um breve mal estar. Como se as coisas não estivessem ordenadas em seu lugar. Isso acontecia com frequência, digo, a epifania invertida. Tinha duas teorias de como ocorriam. A primeira, de que esse mundo, diferente do que se imagina, é um sonho, e tudo decorre dos pensamentos. 

Outra teoria, era de ele estava de alguma maneira ligado previamente aos acontecimentos futuros, num tipo de conexão sensorial com os acontecimentos desse mundo. Se sentia melhor com essa ideia, por ser menos radical e poder coexistir com um universo que existisse além dele.

Mas de resto tinha uma vida normal, uma rotina leve e espírito tranquilo. Gostava de sua vida simples, de enxergar os detalhes das coisas e dar valor mais ao espírito do que as coisas materiais. Sentia-se bem com sua vida comum. Transparecia aos que não o conheciam, uma pessoa centrada, responsável. Já os íntimos sabiam que aquilo era só uma primeira impressão. Mesmo assim guardava essas epifanias invertidas como quem esconde um defeito ou algo que não pudesse provar. 


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