O Homem do Lixo (conto) - Renê Paulauskas
Ele pensava: Era gelado ou muito quente. Era dormente mas sem dormir direito. Era a fome constante e os restos na lixeira. Eram dores e confusão mental. Era ser invisível. Era ser odiado. Era o inverso da vida que tenho hoje. "Hoje sou reciclador de lixo remunerado. Tenho meu barraco. Tenho minhas coisinhas. Gosto do meu trabalho. É trabalho duro, mas como dizem lá no curso, tô ajudando a melhorar o mundo. Mulher e filhos não tenho. Sonho ainda em ter uma família. Não como aquela, de pai batendo na gente. Gente tem que ser respeitada, isso não se faz. Também não sou santo. Mexeu com meu cachorro viro bicho! Também tem que ter respeito com os animais. Aqui no morro tô até plantando uma hortinha. Vou trazendo da rua e planto tudo nesses vasos de plástico. Tá ficando bonito, não? Outro dia sonhei com minha mãe, faz mais de vinte anos que não a vejo. Desde que saí do interior até chegar aqui. Cidade grande, no começo era tudo novidade. Mas não tive onde ficar, logo fui me sujeitando.
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