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Mostrando postagens de 2025

Vivendo a vida (poema)- Renê Paulauskas

Agora minha mente alcança  O vôo raso das garças  O beijo em câmera lenta dos afoitos O passo cansado de um velho E estou vivo Com corpo e espírito renovados Pra mais meio século do inimaginável  Esse mundo  Agora sei Da força desse animal faminto Indo e buscando Só para sentir algo Já fui louco Hoje são Mas tudo vivido Tudo necessário  O maior aprendizado  Está no olhar da criança  Que trago ainda Nesse corpo de meia idade  Para os que morreram no caminho Despertem, como Lázaro  Hoje há muito o que viver E sigamos juntos São Paulo, 08 de abril de 2025.

A elite e seus empregados - Renê Paulauskas

O ser humano médio prefere se ocupar, mesmo sendo pra ser explorado, do que ter tempo livre que o faça pensar em coisas como sua vida, a sociedade, etc. É uma sociedade que delega ao outro seu funcionamento. Que mal tem tempo de se informar sobre seu próprio mundo presente. Que se oxigena nas poucas horas de folga, antes de voltar ao cotidiano maçante de trabalho. Uma sociedade de corpos inconscientes que fazem girar o mundo do trabalho que é dirigida por uma elite que despreza essa mesma gente.

Pensando e agindo - Renê Paulauskas

As coisas não dependem de nossos pensamentos para acontecer. O mundo continua da onde parou independente de nosso otimismo ou pessimismo. E isso quer dizer que o que pensamos ou deixamos de pensar só pode trazer benefícios ou prejuízos a nós mesmos. Que nada do que passa nas nossas cabeças é tão importante que ultrapasse nossa mente e corpo.  Mas as coisas que fazemos além do só pensar podem influenciar outras pessoas e assim mudar, mesmo que parcialmente, alguma coisa em algum lugar. Esse movimento de afetar as pessoas é nossa pequena contribuição para o mundo que queremos.

Colapso da sociedade ocidental - Renê Paulauskas

O surto de depressão e ansiedade na sociedade ocidental vai muito além dos problemas pessoais de seus indivíduos. Tem a ver com a decadência do sistema capitalista, com o início do fim dos recursos naturais fundamentais para nossa sobrevivência e os eventos extremos do aumento na temperatura do planeta. Se não fosse a atual China socialista, renovando o capitalismo contemporânea, estaríamos sem saída alguma. Este cenário apocalíptico somado aos problemas individuais de cada um somatiza em ansiedade e depressão, como outras doenças mentais. Apesar do péssimo diagnóstico não temos ainda soluções para reverter tal cenário. Essa incerteza com o futuro só piora as coisas ainda mais.

Mulher fria- Renê Paulauskas

Como uma mulher fria você dizia saber tudo o que eu queria. Pra não me preocupar com seu desejo, que tudo estava bem.  Logo depois encontrou outro homem, esse sim com desejo e foi mais uma vez tentar o amor. De ciclo em ciclo te vejo tentando e me pergunto se nesse engasgar das horas não te dá vontade de parar. E seguir outra vida mais fácil, como ter vários amigos, que não dependem da paixão para se olhar. Mas você é teimosa, e segue fazendo o que tantos como você. Acredita no amor enquanto o corpo está quente e foge quando esfria. Não te culpo. A vida é o que é. Só não sei se quero, como você, passar por algo tantas vezes, que se desfazem como um nó, deixando tanto desgosto onde já chamou de amor.

Pequeno poder (poema) - Renê Paulauskas

Meus poder É uma intuição  Tão forte Que mais parece previsão  Nas horas e minutos Nos dias como serão Nas relações de afeto  Numa morte futura Nada posso mudar Apenas abreviar Com resigno ou lamento O que logo virá É pouco, eu sei Diante da vastidão do mundo  Antecipar Como o mundo irá me afetar.

Seres (poema) - Renê Paulauskas

Eu dependo de afetos Não minto Nada se faz sem esses seres do acaso Minha rota binária Com cada um Uma sede de alcançar o óbvio no improvável  Me descubro Onde posso Criando um terreno seguro Mas quando surto Sai do chão  Um terremoto tudo destruindo Alguns fogem Outros não  Só os mais fortes vão ficando Que afloram leves E aqui povoam Uma geografia de caatinga do meu sertão

Breve (poema)- Renê Paulauskas

Décadas para acabar E a ânsia de curtir  Antes que seja tarde Antes que tudo mude Meu pai morreu jovem Minha mãe foi jovem muito tempo E os velhos? Não existem? Meu avô foi velho Minha avó era velha e divertida  Minha bisavó era jovem, até demais Morreu depois de sua festa de cem anos Mas o que fazer Depois de não mais couber Onde exista vida E não puder enxergar Demorará Esse dia ainda Pois o que vejo Ainda me anima E se antes chegar Que seja como uma nuvem Que vem cobrindo Quase sem se notar.

O tempo e a memória - Renê Paulauskas

Na engrenagem da vida o tempo é peça fundamental. Marcador de histórias, que nascem, são vividas e morrem. Mas há outra peça fundamental que se encaixa ao tempo. É a memória.  Sem ela impossível acompanhar essa imensa engrenagem da vida. 

Sala fechada (poema) - Renê Paulauskas

Primeiro caíram todas as folhas A mesa já não era posta há anos  Até fecharem a sala definitivamente A tataravó falecera com cem anos A bisavó, com noventa Sobrara só a avó, os pais e netas Que de uma hora pra outra ficaram mudos.

Encarnado (poema) - Renê Paulauskas

É encarnada a carne Tão dura e dolorida  Porque dói na mente A mesma que sonha Fosse somente a carne Já desgastada e penosa Fria e ausente Mas a criança grita E degela a erupção  Da pele rompida Infeliz equação  O espírito e o corpo  Um prenúncio de morte No meu coração.

Naquela rua (poema) - Renê Paulauskas

Naquela rua não tinha nada Havia o eco que me engolia E eu sorria, sorria As tardes frias me possuíam Não para não dizer nada Mas pra não precisar nada falar Era a felicidade vaga A quietude das folhas  O entardecer de um dia frio.

Antes de dormir - Renê Paulauskas

Antes de dormir, deitado na cama, fecha os olhos e em silêncio começa a pensar nos mosquitos, nesses tempos de verão. Conforme os dias passam passa a percepção de que esses mosquitos sempre aparecem depois dele pensar neles. Às vezes consegue controlar sua vinda passando a não pensar neles. E um dia percebeu que assim como os mosquitos antes de dormir é a vida, esse sonho denso.