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A morte (poema)- Renê Paulauskas

A morte choca Pois fica ali um buraco E a mente demora  A entender que não há mais vida Naquele corpo Tudo tão frágil  Nossa vida Mas logo desaparece E voltamos pro automático  Sempre indo Distraídos Como se fossemos eternos Até cair Levantar devagar  E viver em dois mundos Onde tudo flui  E onde não há vida Consciente de tudo Descansa seu corpo Até a próxima saída  Onde espera Não achar um gato morto Embaixo de seu automóvel 

O dia lá fora (poema)- Renê Paulauskas

O dia nasceu Agigantou-se pela tarde Puxando com raios solares toda sua gravidade E foi embora Eu preso aqui Qual um zumbi Vi tudo passar Sem nada fazer Olhos marejados de tanto olhar De mais querer De um quase tocar Viver por prazer E arde no peito O prumo cansado O destino falido Do dia lá fora Te espero outra hora!

Na cozinha (mini-conto)- Renê Paulauskas

Sentado em frente a mesa, com duas fatias de pão com manteiga na chapa e uma jarra de leite com chocolate quente, ia comendo os pães enquanto esfriava o leite até dar os primeiros goles. Foi assim que percebeu a ordem por trás das coisas. Tudo teria um modo certo de se acomodar no tempo e espaço. Porém a ação era necessária, aliada as condições naturais de temperatura e pressão, como as leis da física. Nesse momento não se sentiu só, mas em comunhão com o universo. Após acabar o lanche levou a louça até a pia, enchendo de água a jarra e o copo. Estava muito frio para lavar a louça.

Epifania invertida (mini-conto)- Renê Paulauskas

Ele sentia uma espécie de epifania invertida, explico. Acontecia das coisas aparecerem para ele depois dele as pensar. Isso causava uma pequena euforia e depois um breve mal estar. Como se as coisas não estivessem ordenadas em seu lugar. Isso acontecia com frequência, digo, a epifania invertida. Tinha duas teorias de como ocorriam. A primeira, de que esse mundo, diferente do que se imagina, é um sonho, e tudo decorre dos pensamentos.  Outra teoria, era de ele estava de alguma maneira ligado previamente aos acontecimentos futuros, num tipo de conexão sensorial com os acontecimentos desse mundo. Se sentia melhor com essa ideia, por ser menos radical e poder coexistir com um universo que existisse além dele. Mas de resto tinha uma vida normal, uma rotina leve e espírito tranquilo. Gostava de sua vida simples, de enxergar os detalhes das coisas e dar valor mais ao espírito do que as coisas materiais. Sentia-se bem com sua vida comum. Transparecia aos que não o conheciam, uma pessoa cen...

Psicofobia (poema)- Renê Paulauskas

A maioria dos meus amigos não entendem minha loucura Só os loucos entendem E isso é normal  Ruim é o preconceito  O julgamento como se você tivesse alguma culpa por ter surtado Isso magoa Porém não somos santos também  Também machucamos com nossa doença sem perceber  E é muito importante cuidar da saúde da mente pra evitar os ataques  Muitos se afastam Só restando quem realmente interessa Infelizmente ainda há muito preconceito 

Pregos (poema)- Renê Paulauskas

As palavras que machucam São como pregos Martelando em nossas cabeças  Dói na alma Pode vir de um amigo De um parente  Até de sua filha  Marca pra sempre Tirado o prego Fica um buraco Depois uma cicatriz  Que pode ainda doer Cuidar dessas feridas É trabalho  pra uma vida inteira Às vezes mais

A brisa da juventude (poema)- Renê Paulauskas

A brisa da juventude  É de uma intensidade E de uma inconstância  Que se fragmenta Em tantos pedaços  Que só  Uma vida inteira  Para juntá-los 

Em situação de rua (mini-conto)- Renê Paulauskas

Aqui em casa, eu e minha mãe, quase não saímos na rua. Hoje saí para pegar meus remédios diários e quando voltei reparei que tinha uma pessoa dormindo num colchão quase em frente de casa. Entrei pensando o que fazer, se dava assistência, oferecia uma água... Conversei com a vizinha e fiquei sabendo que a pessoa já estava lá há três dias, fiquei preocupado. Conversei com minha mãe e chegamos a conclusão que o certo era ir conversar e ver o que estava acontecendo. Levei uma garrafa de água e um sanduíche. Era um moço de uns trinta e poucos anos. Me chamou pelo nome, disse que era amigo da minha irmã. Pegou o colchão e pois na sombra e deu espaço para eu sentar. Disse que estava ali desde domingo, que lembrava da casa onde ele e as amigas da minha irmã brincavam de esconde-esconde. Que era irmão do Paulinho, filho do Jorjão, seu nome era Fernando, que morou aqui nessa rua até a adolescência. Que depois foi morar com uma tia e casa foi levada por uma enchente, tendo que morar na rua depois...

A guerra (poema)- Renê Paulauskas

Na guerra Quem perde É sempre o povo Que quase sempre Tem nada Ou muito pouco A ver com ela Se o mundo fosse justo Haveriam de guerrear Só os chefes das nações  Não existiriam tropas Só guerreiros naturais E o poder Estaria espalhado Distribuído  Em cada mãe  Pai Filho E amigos

Você (poema)- Renê Paulauskas

Tudo agora parece distante As pessoas, o mundo, a arte Como se restasse apenas um fio Onde respiro, penso, projeto  Um substrato longe da verdade O que é o mundo? O que são as pessoas? O que é arte? E me recolho à insignificância  Sento no chão  Respiro E me deleite com a magia De nada saber Até você me ligar

Violão (poema)- Renê Paulauskas

Minha arrogância  Foi querer tocar o violão  Sem nunca antes estudá-lo  Achei que seria fácil  Como a gaita Ou o improviso de letras e canções  Mas não  Se mostrou travado Limitado e fechado Com o tempo  Foi ficando mudo Quase sem função Encostado Hoje tenho por ele Um respeito profundo  O errado fui eu É um instrumento perfeito 

Portas da Percepção (conto)- Renê Paulauskas

I A Feiticeira  Tudo começou depois daquela maldita feiticeira me falar naquela noite que algo de muito ruim iria me acontecer.  Eu estava separado da minha mulher e de minha filha de dois anos, morando sozinho numa casa de fundo praticamente abandonada, o que mais de ruim poderia acontecer? Me desloquei de onde estava e fui o mais rápido para casa de meu pai, procurando segurança. Quando cheguei, estava com tanto medo, que um pequeno cachorro avançou em mim. ___Para Pluto! Estranho, ele nunca faz isso.___Disse a dona do cachorro. Entrei na casa do meu pai, não tinha ninguém. Ainda com medo comecei a rezar. Foi então que alguém entrou, era a empregada na cozinha. Fui conversar com ela e ela disse: ___Você é especial.___Me dando um beijo de língua. Me senti diferente. Uma espécie de euforia. E lembro que não dormi. Quando meu pai chegou de manhã ou estava totalmente delirante e falando sem parar. Foi o dia da final da copa do mundo. Estavamos na sala eu, papai e sua namorada e ...

Epifania (poema)- Renê Paulauskas

Lembro do meu primeiro milagre  Eu estava assustado De ter alcançado os céus  Tinha um hospício lá  Depois afundar no inferno  Tentei me matar De ser salvo pelos orixás  E voltar para casa Tão são e medicado  Que nunca mais vi mais nada Hoje sou poeta Pra tentar em vão alcançar  As coisas invisíveis  Desse mundo raso Não tenho vontade de voltar a ser cristo Esse tempo passou Mas a materialidade das coisas Às vezes cansa

Levemente (poema)- Renê Paulauskas

A vida é melhor que qualquer história  E pior também  Estou levemente embriagado Não o bastante  Pra variar minha escrita Essa que pouco alcança  A certeza dos astros  Nem a insignificância dos bichos das folhas Ou a minha própria  Que perdura no vazio  Nos segundos já contados Que ao encontrar outra figura Se espalha e transfigura Num oblíquo das horas Fundando a vida Que segue solta Até partir E ser Só Pulsando ativa Em sua rotina  Até o dia De voltar a sair E ser só E voltar a sair E ser  E voltar A só ser.

Meditação (poema)- Renê Paulauskas

Antes que a loucura te engula  Respire fundo Conte até dez Nem tudo no mundo  É o que parece Certezas atiçam Um corredor traiçoeiro  Que só leva a um lugar A falta de razão  Diga não! Respire fundo Não há mal que dure Ou perdure Tudo passa  Vai passar

Miguel (conto)- Renê Paulauskas

  Miguel   I Pequeno desenhista   Aos três anos viu seu pai traçar um círculo sobre o papel, puxar uma linha que se dividiu em outros dois traços, cortar essa linha acima por uma reta e fez dois pontos e um sorriso. Ao terminar o boneco desenhado parecia ter ganhado vida. Logo cedo ele queria aprender a fazer aquilo, desenhar. Conforme foi crescendo seu desenho foi melhorando. Ao aprender as palavras ia introduzindo junto aos personagens, criando cenas e depois cartuns.  Seu pai lia para ele os cartuns do Fradim, do Henfil, antes de dormir. Adorava, dava muitas risadas até pegar no sono. Passava horas criando histórias com desenhos e frases. Cenas que começavam com um desenho e acabavam virando piada de algo muito engraçado pra ele. Tinha já vários cadernos completos de desenhos. Quando via algum desenho, como um homem musculoso, pensava como desenhar os gominhos do abdômen.  Com sete anos, seu pai achava que não tinha mais o que lhe ensinar e o ...

O homem (poema)- Renê Paulauskas

Que grande bobagem o homem  insignificante ser nesse universo  Que reside num buraco negro Dentro de um multi verso  Mesmo assim acendeu a fagulha  Do possível fim da vida nesse planeta  O planeta há de se regenerar Mas o ser humano  Essa espécie vulgar Talvez sobreviva como seus ancestrais  Ratos no fundo da Terra 

Carne e azul (poema)- Renê Paulauskas

Aqui me escondo Atrás dessa pele grossa Desse corpo moribundo  Onde o vento  E as falésias Se chocam no mar azul  Sou como o violinista de Chagall Meio a meio Espírito e corpo Um dia o corpo fica  E vou Renovado e mais moço Seguir as delícias do corpo Mas que corpo? Acorda! Não é tarde Não é tarde ainda.

Marginais (poema)- Renê Paulauskas

Vivo na pele os marginais Os expelidos, arrancados, desprovidos Em suas chagas de violenta, violada e funda Desumanização  Para os que não olham os invisíveis Meu "Párias da civilização!" Nos amontoando em celas  pra deportação  Somos gente como vocês  Como há de ser toda gente De viver, amar, sonhar Por sermos de carne e espírito  Aos outros dou minha mão  Delicada, forte e certeira Como é cada mão Que se toca com afeto e aprovação 

Os gatos (mini-conto)- Renê Paulauskas

Os gatos dos vizinhos existem desde a época da nossa gata, Nina, que foi recolhida da rua pelo meu pai e minha irmã na casa do papai e trazida pra nossa casa quando minha irmã e a pequena gata preta ainda eram crianças.  Lembro que quando Nina cresceu um pouco e entrou no cio, fazia aqueles barulhos agudos e estava sempre pronta pra passear nos telhados, daqui ou dos vizinhos, que minha irmã não deixava, trancando-a a portas fechadas dentro de casa. Até um dia que Nina ficou grávida e nasceram três gatinhos que cresceram livres de telhado a telhado até sabe lá onde. Só nossa gata ficou. Minha irmã cresceu, saiu de casa, e nós ficamos com a Nina, que cuidava da casa e da intenção de invasão dos outros gatos dos vizinhos. Viveu até seus quase vinte anos. Foi aí, que os outros gatos, vendo a casa vazia, ou melhor, sem a Nina, começaram o ocupar o jardim da casa, e quando davam com nossa presença, saiam sorrateiramente. Essa relação não muito amigável entre os gatos e nós resultaram em...

Pequena luz azul (poema)- Renê Paulauskas

A letargia do conhaque amargo Deixa meu copo vazio  Minha alma Um copo vazio Desesperado em enche-lo  Paro num canto Sem poder cantar Escrevo Sem poder falar Quase catatônico  Viro poema de mim mesmo Mas ainda meio vazio Já um pouco cheio De alegria fugaz Como cabe nesse poema Então me volto e jogo tudo O silêncio  O copo A ilusão  E percebo uma luz ali distante  Pequena Confiante De que eu atravesse O terreno das ilusões  Multidões  E reserve um tempo pra nós dois O que farei Ninguém sabe Mas a pequena luz  Saberá 

Meus amigos (poema) - Renê Paulauskas

Meus amigos  Todos rotos, tortos, alquebrados  Como se saíssem do forno  Com seus dons especiais  Difícil viver assim  Como peças únicas  Que mal se encaixam no sistema  Mas tem tanto a contribuir  Para um mundo mais complexo Mas não digo de seus corpos Sim de suas mentes Que cada um com seu mundo Deixando o mundo muito melhor  Contribuem com sua visão  Que perfila o sistema  Mostrando todas as suas agruras Mostrando um caminho  Onde todos um dia poderão ali passar

Os dias- Renê Paulauskas

Os dias tem me comido pelo rabo. Da hora que acordo à hora de dormir a angústia das horas lentas. Nada a fazer, nenhuma tarefa a cumprir, só a dura passagem do tempo me prendendo num vazio. Não, não quero ser ocupado como os outros, que não tem tempo pra nada. Quero me ocupar com minha arte e outros que a influenciam. Conhecer outras pessoas. Falar outras línguas. Conhecer caminhos novos. Talvez para isso tenha que sair de casa. Mas onde ir? Quem irei conhecer, se todos estão ocupados em coisas que nem eles escolheram? Por esses motivos procuro nos livros, filmes e músicas o que irá me influenciar. E acabo quase não saindo, por comodidade, preguiça e economia. Quisera um mundo diferente, onde todos tivessem tempo de sobra, e saíssem pra se ocupar de coisas novas. Quem sabe um dia, nesse dia sairei.

Arte e entretenimento (ensaio)- Renê Paulauskas

Não há outra maneira de fazer arte que não seja sendo sincero. Expondo suas facetas, transbordando suas loucuras, harmonizando com seus sonhos o mundo crú e cruel.  Já o entretenimento, esse calçado no capitalismo, medido e controlado, carrega o feitiço da dormência, faz passar o tempo inerte, inconsciente. Gravita esse mecanismo no tempo certo de um ingresso. E o faz sempre que necessitar o bolso do capitalista.

Tarde (crônica)- Renê Paulauskas

Tantos livros no mundo, a maioria deles ruim. O mesmo em relação a filmes e séries. Meu medo é que essa máxima se encaixe em relação as pessoas também, estaríamos todos perdidos. Passo os dias nessa casa junto a minha mãe. Os dias que saio são refrescos dessa rotina monótona. Me entretenho escrevendo e compondo, sempre que bate a inspiração. Há seis anos não namoro e nem sinto falta. Sempre prezei mais as amizades do que as namoradas, que ao contrário dos amigos, sempre foram embora. A família é nosso alicerce obrigatório. Tem um peso diferente, mais pesado e consistente. Esse ar carregado, de relações que dão suporte à nossa vida, tantas vezes frágil e combativa. Os filhos, diferente dos pais, são o deleite nos dias bons e a maior preocupação nos ruins. Pelo menos eu em relação com minha filha tem sido assim. Mas sortudo que somos, tem sido de maioria beneficos. O leve cansaço da minha idade, traz preguiça e conformidade nos dias dentro de casa. Quando saio é para coisas específicas o...

Pés descalços (poema)- Renê Paulauskas

A vida parada Calada Querendo morder Tantas tardes devotas Querendo algum prazer A sinuosa curva A língua mal falada A tarde embriagada Mas meu corpo meio tonto Cansado de coisas febris  Pede descanso Pede sossego  Pede abrigo E meus pés descalços  Querendo ficar aqui Onde a sala Onde a calmaria Encontrou seu lugar 

Delírio e realidade- Renê Paulauskas

Se um louco fala: "que se apaguem as luzes!" E coincidentemente acontece um blackout, não há nada que prove que não foi ele o responsável pelo apagão, a não ser a imensa maioria das pessoas levadas pela norma que diz: "isso é impossível". Não quero dizer que de fato o homem foi responsável pelo apagão, mas provoca-los demonstrando como a simplicidade em negar tal possibilidade também é frágil e não passa de opinião sem provas. Nos dois casos é uma questão de crença. No louco, a de seus poderes. Nas pessoas em volta, no materialismo puro e simples.  O que acontece com pessoas que entram em surto psicótico é um achatamento de sua realidade externa a ponto de tocar sua realidade interna. As alucinações podem ser entendidas por esse processo onde o delirante projeta coisas a partir de sua mente como se fossem reais. Por isso os antipsicóticos são tão importantes para pessoa voltar a enxergar o mundo como algo externo à ela. E assim ter seu universo interno protegido.  M...

Dia ruim- Renê Paulauskas

Tem dia que dá tudo errado, não tem como dar certo. Só depois de um bom banho, por uma roupa limpa para dormir e relaxar até a hora de ir pra cama. Fazer o que? Tem dia que é melhor nem sair. Melhor ficar em casa. Somente o necessário. Paciência. A vida tem desses dias. Tem dias que nem o texto sai bom.

Violência - Renê Paulauskas

Nada causa mais impacto do que a violência. Está nos telejornais, nos filmes e séries, e nos aflige nas relações com os parentes, as pessoas, próximas ou não, nas guerras, instituições totais etc. A violência faz parte da vida nesse planeta, isso é óbvio. Mas cultivala em pequenas caixinhas, como em filmes e séries pode ser um problema. Claro que há muito o que se elucidar sobre esse tema, e nesse ponto de vista devemos nos informar cada vez mais. Não é o que vejo nas telas, só uma maneira de assegurar a atenção do espectador da maneira mais direta, precária e burra.

Terceiro mundo - Renê Paulauskas

Viver nesse universo capitalista decadente do terceiro mundo não é tarefa fácil. Ter que optar entre o estresse de ser explorado numa empresa, ou o tédio da ociosidade até chegarem as contas pra pagar. No capitalismo precarizado em que as pessoas mal tem tempo para se informar no dia a dia. Onde uma quantidade enorme faz entregas e serviço de táxi por aplicativo. Outra parte é autônomo, vendendo desde comida à serviços de estética. E a maior parte trabalha por um salário mínimo seis vezes por semana, mal tendo tempo pra se cuidar. Fora os desempregados. Essa música caótica embala pais desesperados, filhos delegados à avós, e esses sem tempo para cuidar da própria qualidade no fim da vida. Enquanto os super ricos tem uma vida de férias permanentes e uma riqueza que pode sustentar seus luxos por centenas de gerações. É preciso taxar os super ricos e redistribuir esse capital acumulado por uma exploração capitalista desumana e voraz. Investir na educação, dês da básica até a universidade....

Trabalho- Renê Paulauskas

Se todas as empresas capitalistas se transformassem em cooperativas, seria um ótimo avanço para diminuição da desigualdade de renda. Mas ainda sim teria exploração do trabalho maçante e repetitivo. A substituição da mão de obra por robôs só pode ser aceita assegurando um salário aos antigos empregados afastados.  Um mundo de ócio também não é bom. O ideal seria uma rede de oferta e demanda de serviços suprindo todo tipo de necessidade humana.

Eureca!- Renê Paulauskas

Vou falar sobre quando uma pessoa sofre um trauma e desenvolve uma doença psiquiátrica como bipolaridade. Nesse ato do trauma psicológico acontece uma mudança em sua mente.  Falando em termos fora da psiquiatria e da psicologia, é como se o mundo interno da pessoa se fundice com seu universo externo. Coisas incríveis, como a pessoa adivinhar coisas como as horas, ou até eventos futuros, podem estar associados a essa fundição das duas realidades. É possível a pessoa diagnósticada receber uma super dose de antipsicóticos e após uma década ou mais, sair desse estado. Voltando ao normal a pessoa sente uma segurança e proteção que foi rompida pelo trauma e consequentemente desenvolvimento do quadro psiquiátrico. Evidentemente as pessoas que desenvolvem essa doença já tem uma predisposição genética.

Vivendo a vida (poema)- Renê Paulauskas

Agora minha mente alcança  O vôo raso das garças  O beijo em câmera lenta dos afoitos O passo cansado de um velho E estou vivo Com corpo e espírito renovados Pra mais meio século do inimaginável  Esse mundo  Agora sei Da força desse animal faminto Indo e buscando Só para sentir algo Já fui louco Hoje são Mas tudo vivido Tudo necessário  O maior aprendizado  Está no olhar da criança  Que trago ainda Nesse corpo de meia idade  Para os que morreram no caminho Despertem, como Lázaro  Hoje há muito o que viver E sigamos juntos São Paulo, 08 de abril de 2025.

A elite e seus empregados - Renê Paulauskas

O ser humano médio prefere se ocupar, mesmo sendo pra ser explorado, do que ter tempo livre que o faça pensar em coisas como sua vida, a sociedade, etc. É uma sociedade que delega ao outro seu funcionamento. Que mal tem tempo de se informar sobre seu próprio mundo presente. Que se oxigena nas poucas horas de folga, antes de voltar ao cotidiano maçante de trabalho. Uma sociedade de corpos inconscientes que fazem girar o mundo do trabalho que é dirigida por uma elite que despreza essa mesma gente.

Pensando e agindo - Renê Paulauskas

As coisas não dependem de nossos pensamentos para acontecer. O mundo continua da onde parou independente de nosso otimismo ou pessimismo. E isso quer dizer que o que pensamos ou deixamos de pensar só pode trazer benefícios ou prejuízos a nós mesmos. Que nada do que passa nas nossas cabeças é tão importante que ultrapasse nossa mente e corpo.  Mas as coisas que fazemos além do só pensar podem influenciar outras pessoas e assim mudar, mesmo que parcialmente, alguma coisa em algum lugar. Esse movimento de afetar as pessoas é nossa pequena contribuição para o mundo que queremos.

Colapso da sociedade ocidental - Renê Paulauskas

O surto de depressão e ansiedade na sociedade ocidental vai muito além dos problemas pessoais de seus indivíduos. Tem a ver com a decadência do sistema capitalista, com o início do fim dos recursos naturais fundamentais para nossa sobrevivência e os eventos extremos do aumento na temperatura do planeta. Se não fosse a atual China socialista, renovando o capitalismo contemporânea, estaríamos sem saída alguma. Este cenário apocalíptico somado aos problemas individuais de cada um somatiza em ansiedade e depressão, como outras doenças mentais. Apesar do péssimo diagnóstico não temos ainda soluções para reverter tal cenário. Essa incerteza com o futuro só piora as coisas ainda mais.

Mulher fria- Renê Paulauskas

Como uma mulher fria você dizia saber tudo o que eu queria. Pra não me preocupar com seu desejo, que tudo estava bem.  Logo depois encontrou outro homem, esse sim com desejo e foi mais uma vez tentar o amor. De ciclo em ciclo te vejo tentando e me pergunto se nesse engasgar das horas não te dá vontade de parar. E seguir outra vida mais fácil, como ter vários amigos, que não dependem da paixão para se olhar. Mas você é teimosa, e segue fazendo o que tantos como você. Acredita no amor enquanto o corpo está quente e foge quando esfria. Não te culpo. A vida é o que é. Só não sei se quero, como você, passar por algo tantas vezes, que se desfazem como um nó, deixando tanto desgosto onde já chamou de amor.

Pequeno poder (poema) - Renê Paulauskas

Meus poder É uma intuição  Tão forte Que mais parece previsão  Nas horas e minutos Nos dias como serão Nas relações de afeto  Numa morte futura Nada posso mudar Apenas abreviar Com resigno ou lamento O que logo virá É pouco, eu sei Diante da vastidão do mundo  Antecipar Como o mundo irá me afetar.

Seres (poema) - Renê Paulauskas

Eu dependo de afetos Não minto Nada se faz sem esses seres do acaso Minha rota binária Com cada um Uma sede de alcançar o óbvio no improvável  Me descubro Onde posso Criando um terreno seguro Mas quando surto Sai do chão  Um terremoto tudo destruindo Alguns fogem Outros não  Só os mais fortes vão ficando Que afloram leves E aqui povoam Uma geografia de caatinga do meu sertão

Breve (poema)- Renê Paulauskas

Décadas para acabar E a ânsia de curtir  Antes que seja tarde Antes que tudo mude Meu pai morreu jovem Minha mãe foi jovem muito tempo E os velhos? Não existem? Meu avô foi velho Minha avó era velha e divertida  Minha bisavó era jovem, até demais Morreu depois de sua festa de cem anos Mas o que fazer Depois de não mais couber Onde exista vida E não puder enxergar Demorará Esse dia ainda Pois o que vejo Ainda me anima E se antes chegar Que seja como uma nuvem Que vem cobrindo Quase sem se notar.

O tempo e a memória - Renê Paulauskas

Na engrenagem da vida o tempo é peça fundamental. Marcador de histórias, que nascem, são vividas e morrem. Mas há outra peça fundamental que se encaixa ao tempo. É a memória.  Sem ela impossível acompanhar essa imensa engrenagem da vida. 

Sala fechada (poema) - Renê Paulauskas

Primeiro caíram todas as folhas A mesa já não era posta há anos  Até fecharem a sala definitivamente A tataravó falecera com cem anos A bisavó, com noventa Sobrara só a avó, os pais e netas Que de uma hora pra outra ficaram mudos.

Encarnado (poema) - Renê Paulauskas

É encarnada a carne Tão dura e dolorida  Porque dói na mente A mesma que sonha Fosse somente a carne Já desgastada e penosa Fria e ausente Mas a criança grita E degela a erupção  Da pele rompida Infeliz equação  O espírito e o corpo  Um prenúncio de morte No meu coração.

Naquela rua (poema) - Renê Paulauskas

Naquela rua não tinha nada Havia o eco que me engolia E eu sorria, sorria As tardes frias me possuíam Não para não dizer nada Mas pra não precisar nada falar Era a felicidade vaga A quietude das folhas  O entardecer de um dia frio.

Antes de dormir - Renê Paulauskas

Antes de dormir, deitado na cama, fecha os olhos e em silêncio começa a pensar nos mosquitos, nesses tempos de verão. Conforme os dias passam passa a percepção de que esses mosquitos sempre aparecem depois dele pensar neles. Às vezes consegue controlar sua vinda passando a não pensar neles. E um dia percebeu que assim como os mosquitos antes de dormir é a vida, esse sonho denso.

Sonhe!- Renê Paulauskas

Muito se crítica os sonhos de cada um. O que não se fala é que nesse mundo capitalista só tem chance de sonhar quem é privilegiado. O pobre tem que trabalhar a vida toda, na maioria das vezes sem descanso, se acostumando com a dura realidade esmagadora, que é sobreviver a todo custo. Para sonhar é preciso ter uma vida, uma perspectiva. Mas contra tudo e contra todos ainda existem aqueles que sonham, mesmo contra as intempéries. São eles juntos que nos dão alento para seguir em frente. Salve os sonhadores desse mundo! Só sonhando é possível haver transformação.

Vida II- Renê Paulauskas

Estar vivo com todas as funções em dia é superior a mais eloquente poesia. Estar saudável e espirituoso é o maior bem da vida. Dela se retira todo o estímulo para a arte. Através dela se multiplica a vida, que corre como um rio traçando novos caminhos através do solo que encontra. Esse precioso bem: a vida, há de sempre existir. Não importa as intempéries, riscos e perigos. Há de se adaptar, se não por ela mesma, através da tecnologia.

Redes sociais - Renê Paulauskas

 Hoje a régua me derrubou. Ela que mede tudo. Veio até mim e disse: "está abaixo da medida". E me encolhi em minha insignificância definida. Vendo como ainda podia respirar mesmo assim. Em como as réguas nos regulam no dia a dia. Em como tentamos nos destacar.  As réguas só servem pra medir a média, o medíocre. Para coisas criativas ela não tem valor. É preciso força para ir contra as regras. Mas vale.  Não quero ser régua pra ninguém. Quero ser aceito, curtido. Como somos reféns desses novos tempos de redes sociais. Como isso nos faz mal. Como deixamos de viver.

Pés descalços- Renê Paulauskas

 Sonhei que estava andando e percebi que estava descalço. Em seguida achei meu tênis, mas com um tom diferente. Uma moça saiu atrás de mim dizendo "pega ladrão!". E eu corri, pois não tinha outro tênis para usar. Fico pensando quanto esse sonho não é a realidade de tantas pessoas. Que roubam comida por estarem famintas e são encarceradas sem direito a defesa num julgamento justo. Victor Hugo escreveu "Os Miseráveis" exatamente com essa entonação. Mas aqui no Brasil o problema é ainda maior. Desde a escravidão os negros no Brasil não tem direitos civis como os brancos. Isso é um horror que carregamos em pleno século XXI.

Anjos tortos- Renê Paulauskas

 O mundo não acordou com meu grito. Só fiquei mais rouco e impotente. Meus versos tronchos não foram abençoados. Meu alaúde foi quebrado. E segui um anjo torto. Sem lugar, um tanto castigado. Na berlinda, no meio de tantos outros anjos desgraçados. Putas velhas, moradores de rua, artistas sem grana, marginais de toda parte. Nossa música não é ouvida. Sim, confundida com o barulho da avenida, dos carros, buzinas, transeuntes de toda parte. Da onde pisam apressados os bem afortunados e dalí saem cansados. Esquecidos, ignorados ou maltratados, já não cantamos, só vivemos sem sermos escutados.

Arte- Renê Paulauskas

 Na maior parte das coisas a nossa volta há arte. Os designers dos produtos que consumimos. A arquitetura, por mais simples que seja, das casas, edifícios etc. Os roteiros super bem escritos por trás de filmes, séries e novelas. Sem contar a grande arte dos artistas estabelecidos que nos circundam. E os artistas marginais? Tem este nome justamente por não estarem nem no ramo como meros operários, nem conseguiram um lugar ao sol. São anônimos que vez ou outra conseguem algum lugar que os dê algum destaque. É a maior parte dos artistas. É o lugar por onde todo grande artista já passou. E o lugar onde a maioria vive sem nunca ser descoberto. Os caminhos existem, mas nem sempre são dados para esses eternos sonhadores. Às vezes falta-lhes algo. Uma direção, um apontamento de um artista mais experiente, algo que lhe renda trabalhar e ser conhecido. Caso contrário, o simples cansaço do dia a dia, enterra suas forças na miséria de uma vida triste e desvalorizada.

Folha de papel - Renê Paulauskas

Engrenagens corroídas em meu sangue. Faço tudo da melhor maneira possível. Mas a ave desgovernada no meu cérebro voa cada vez mais alto. Já não sinto medo, não tanto. A folha rasga na minha frente de modo tão claro e definitivo que sinto meu corpo relaxar. Não haverá novos tempos, novas horas. Seremos poupados de tudo. Todo sofrimento, físico, psíquico, social, político. Não seremos livres. Simplesmente não existiremos. Não existe vida sem sofrimento. Essa vida na Terra é um eterno sentir fome, matar pra comer, ter desejos e perpetuar a espécie. Esse ciclo se perpetuou por milhões de anos. Até que interferimos inconsequentemente e desequilibramos o clima, pondo assim uma pedra na evolução e no mundo como conhecemos. Só nos resta aceitar. Como uma folha de papel caindo no asfalto. Sentir o brilho do sol cada vez maior. E a beleza das paisagens que dão lugar à desastres naturais. Perceber a beleza da vida na Terra, mesmo com fome, guerras, doenças e miséria. Ver tudo o que o ser humano c...

Sonho- Renê Paulauskas

Quando criança perguntei para o meu pai, em frente ao mar, se a vida era um sonho. Hoje tenho certeza que sim. Segundo os cientistas de hoje, a vida na Terra, animal, vegetal, no solo e nos mares, não deve passar de 2100.  Já me perguntei: Qual a probabilidade de ter existido vida na Terra. Ou de ser um ser humano em meio de tantas espécies. E agora, depois de milhões de anos de vida nesse planeta, a vida acabar justo na minha geração. A resposta é simples: Não nos contaram a verdade. Mas sigamos, essa distopia fajuta, que mais parece um pesadelo.

Pontos de luz - Renê Paulauskas

 Passei metade da vida olhando aquele pequeno ponto de luz, às vezes azul, outras amarela, raramente branca. Imaginava, quando surgia o brilho, ser fotografado por ela, compondo ao longo dos anos uma espécie de cronologia dessa minha vida. Por crer assim, também tenho na vida, minha mais fiel busca e saída. Como se viver fosse espontaneamente a arte mais completa das artes, a minha história de vida. Que não pode ser vista por grandes feitos, grandes obras. Mas nos olhos de cada qual encontrei e entrei pela sua memória. E pelos pontos de luz.

Anônimo (poema) - Renê Paulauskas

Não vim pra esse mundo Fazer sucesso Mudar o mundo Nem muito dinheiro  Vim pra cá Descansar No meio da catástrofe da vida Pra quando eu voltar Ter sabido como é ser assim Um mundo de sonhos  Anônimo 

Pés brancos (poema)- Renê Paulauskas

Morte Só vejo a morte chegando Subindo a serra Com seus pés brancos descalços Quem dera já estivesse aqui Poderia partir E recomeçar  Mas sinto sua presença  Ainda longe Mas presente Um ponto certo a me entregar Mas não hoje Por enquanto  Procuro vida embaixo das pedras Atrás dos móveis  E me escondo  Num espelho maldito  Que tudo sabe Sem nada dizer.

Tédio (poema)- Renê Paulauskas

Óh, hora maldita! Hora que não passa! Tua engrenagem de segundos está travada Dessa locomotiva vã que é o mundo sem paisagens Quero engolir tudo ao meu redor Todos os sinos Todos os sois e luas E caminhos ainda novos Mas quando chego cansado No dia seguinte Lá estou eu à engrenagem engasgar.

Matriz (poema)- Renê Paulauskas

Os gênios Os medíocres Os vassalos Os revoltosos Todos eles bons Todos eles ruins Quisera o mundo  Não fosse a matriz De todas as almas Encarnadas Quisesse um dia só  De puro brilho de liberdade Não seria o jegue levando no lombo Não seria o negro falado e mal visto  Seria um mundo novo Mas é mesmo falso este mundo O que nos impõe  É tamanho De crueldade  E vileza  Tamanha a natureza  De tal desplante  Rompendo a pureza Olhos da carne Gritando por nós Mas o bicho homem Sem nenhuma voz.

Mental na Política - Renê Paulauskas

 Falo hoje de como a esfera mental influência na tomada de decisões, e ao mesmo tempo, como somos bombardeados de coisas que influenciam nosso mental. Falando de política, através do mental, são definidas ações que impactam outras pessoas, definindo assim uma política através do mental que pode ser iniciado por um processo de estímulos, idéias, desejos... O processo pode ocorrer de fora pra dentro também. Quando somos bombardeados de informações afim de exercermos uma resposta. Isso vem ocorrendo na política por modo de veiculação de informações falsas afim de disparar ações esperadas após serem absorvidas por pessoas sem preparo para refutalas. Enquanto não tivermos pleno conhecimento desse mecanismo, nada poderemos fazer para nos proteger desse tipo de abuso. A política hoje está imersa nesse campo mental. Essa é a nova Hera da política dos tempos atuais.

Resumo de uma história - Renê Paulauskas

 O que é isso, essa história de vida terrena sem grandes aventuras ou desastres que valha a pena ser contada? Ainda pequeno tive a sensação de ser de outro mundo, mesmo não sabendo de qual. Me escondia na imaginação fértil me distraindo comigo mesmo. Inventava lugares, criava histórias. Difícil era me prender nas coisas reais.  Na escola, estudar, não estudava. Passava de ano em recuperação, com o caderno cheio de desenhos no lugar das matérias. Mas quando tinha que fazer um desenho para um cartaz, sempre tirava dez. Mesmo na escola de desenho que meu pai me colocou, nunca fui muito disciplinado. Mas foi lá que me destaquei. Na adolescência fui fazer teatro. Mas mais ficava operando o som do que atuando, além de desenhar o cartaz da peça. Quando finalmente me apresentei como ator, vi que não era o que queria, e voltei para a escola de desenho. De lá virei assistente de um cartunista de que era fã. Foi rápido, pouco mais de um ano. Mas aprendi o essencial para me tornar um prof...

Amém - Renê Paulauskas

 Hoje eu relaxei, me juntei aos idiotas e disse amém. Amém pra sociedade injusta que pune pela cor da pele e absolve pelo montante em dinheiro. Amém para o capitalismo que enterrou nosso futuro sem volta depois de impactar o meio ambiente. Amém pra aqueles que tem fome, que não tem esgoto nem acesso a água. Amém pro pastor corrupto. Especializado em tirar o dinheiro dos ignorantes e fazer suas cabeças. Amém aos padres pedófilos. Tirando a inocência de uma vida. Desgraçando do fim ao começo. E amém aos idiotas como eu, que acreditam no direito à alienação deixando o mundo como está.

A Pedra e a Criança (Poema) - Renê Paulauskas

 A palavra Já não dizia Calada Rocha fria Entre os gatos  Esperando sentado Atento e relaxado O próximo ato Sem saber a vida Sem nem dar por sorte O destino ia se fazendo E o tempo tecendo a morte Mas quando distraía Era a pura vida tinindo Nem sabia do que ria Como criança sorrindo.

Artistas- Renê Paulauskas

 O mundo é um lugar talhado pela exploração e subserviência em todos os sentidos. Existem os capitalistas (poucos) e um mundo inteiro de explorados (trabalhadores). Enquanto a imensa maioria gasta energia em como se adequar para ser absorvido em sua mão de obra pelas indústrias e empresas. Do outro lado, existem as pessoas que se especializam em um método próprio, que também será absorvido futuramente pelos capitalistas, se tiver êxito. Assim nasce o trabalho de vários artistas, obcecados em criar. Pessoas que tem, ou inventam, tempo livre para serem elas mesmas (um mundaréu de coisas) que elas pensam, sentem ou refletem em suas breves histórias de vida. Esse perfil de gente, tem um quê de inconformado com seu exterior. E se conseguirem ficar firmes em suas convicções, não desistindo, ou se entregando à exploração, o supérfluo e enganoso, se tiver êxito, conseguirá mudar o mundo. Até as engrenagens do sistema aproveitarem a novidade afim de lucrar com a novidade.

Silêncio - Renê Paulauskas

Ouvir alguém requer silêncio. Silêncio para digerir as palavras. Silêncio para refletir, só depois falar. Poucas pessoas fazem isso. Por isso o mundo é um lugar, quase sempre, sem fala, e muito barulhento.

Senso comum - Renê Paulauskas

 O senso comum é mediano e implacável. Mediano, porque nunca é o aprofundado, sempre o mais imediato. Implacável, pois todos, usamos sem perceber ideias de senso comum, nem que seja para aprofundar uma questão ou outra. O senso comum está em todos nós. Numa ideia pré concebida, numa primeira impressão, e assim vai. Talvez tenha algo de primitivo, algo intuitivo. De todo modo, somos reféns dele. E talvez, entendendo seu poder, possamos ser menos oprimidos por pessoas sujeitas ao senso comum sem se darem conta.

Caminho das letras- Renê Paulauskas

 Caminho de pedras tem sido o desenvolvimento da minha nova arte. Não a do desenho, que teve início com os primeiros passos por meu pai, depois a escola de desenho e por último ter sido assistente de um grande cartunista. Já a nova arte, das letras e da composição, tem sido feita quase sem apoio, sem escola, sem mestres.  Não sei bem porque, mas tem sido mais difícil achar um caminho nessa nova arte. Tem sido muito solitário. Talvez só me caiba o assento de um amador nessa função de escritor e compositor.  Por enquanto luto. Pouco a pouco, sem gastar toda energia duma vez. Me exercitando. Mesmo sem mestres, escolas e colegas. Um caminho solitário, mas não sem inspiração.

Ideias em si- Renê Paulauskas

 Cada coisa traz pelo menos uma ideia em si. Por exemplo, uma criança traz a ideia de esperança por ter ainda muito tempo de vida pela frente. Existem também as ideias do inconsciente, as dos arquétipos e símbolos de nossa mente. E ainda a razão de como as coisas funcionam no seu ordenamento material, físico e prático. A loucura pode ser entendida como um encharcamento de ideias relacionadas a símbolos interiores, mais ideias egocêntricas e paranoides sem a estrutura racional que ordena o funcionamento das coisas. Dessa maneira é capaz de se fazer várias viagens ao interior psíquico e ter descobertas incríveis.  O problema, após essas experiências, e ter voltado para o mundo racional, é não conseguir encaixar mais as "viagens" no seu mundo regido por uma lógica mais materialista. Assim fica-se dividido entre dois mundos. O dos símbolos e da materialidade das coisas. Até conseguir encaixar, ou não, cada coisa em seu lugar.

Caixas- Renê Paulauskas

 Num planeta uma coisa chamada vida se desenvolveu por um sistema de reprodução e alimentação onde uns comiam os outros. Bilhões de anos após essa cadeia ter iniciado, uma forma de vida se destacou. Viviam agrupados aos milhões em pequenas caixas donde saiam para serem agrupados em tarefas ditas por outros em troca de crédito para comida, roupas e pagar os recursos das caixas de moradia. Esses seres tinham criações de outros seres só para se alimentarem. Assim como criavam uma enorme quantidade de produtos para gastarem com seus créditos. Quase não saiam de suas caixas fora dos dias em que faziam tarefas para os de caixas maiores, que também faziam tarefas para outros que viviam em caixas ainda maiores e que viviam de caixas gigantescas de onde vinham e eram fabricados os créditos. Se agrupavam em pequenos bandos de parentes consaguineos ou de pares em casal ou até mesmo sozinhos. As relações afetivo- sexuais desses seres tem início pelos símbolos sonoros desenvolvidos por um filam...

Castelo de Areia- Renê Paulauskas

 Ele chegava em casa, tirava a roupa e tomava um banho. Em seguida punha um pijama e chinelos. Sentava na poltrona da sala e ficava somente com as imagens dos objetos em volta, luzes e sombras e o barulho de sua respiração junto aos ruídos da vizinhança. Um pensamento ou outro passava pela sua cabeça, mas nada que o perturbasse. Nunca fizera yoga, nem curso de meditação. Achava ridículo alguém achar que, ficar olhando os objetos da sua sala sem muito o que pensar, fosse algo digno de elogios ou algo parecido.  Mas em outras horas era tragado por seus pensamentos onde sua aparência era de quem estava fora do ar. Ao mesmo tempo tinha uma mente limpa que era carregada por pensamentos complexos. Tinha muito tempo livre, e às vezes, não sabia o que fazer com o excesso de horas do dia. Pensava: "seria tão melhor se as pessoas trabalhassem menos e tivessem mais horas pra si". Para ele, inclusive.  Se sentia às vezes afastado do mundo. Como se tivesse numa redoma de vidro. Como s...

Carnaval do Capeta- Renê Paulauskas

 O evangélico abstêmio sai de casa para ir à igreja. O ônibus muda o trajeto por conta dos bloquinhos de carnaval. Desce e vai a pé. Uma loira de mini saia o para no caminho dizendo "Gostei!" Passando a língua nos lábios e sorrindo. Ele segue seu caminho pensando "Isso é coisa do demônio". Para pra comprar água de um ambulante que diz "Só tem cerveja!". Segue em frente naquele calor do cão, pensa "Faltam só quinhentos metros" quando vê a rua de acesso fechada. O bloco de carnaval o atropela. Passam a mão na sua bunda. Despejam bebida em sua boca. Seus olhos arregalam. Solta um riso demoníaco e pega um latão, beija na boca dos transeuntes. É levado pela multidão. Furtam-lhe a carteira e o celular. Passa mal no caminho. Vomita. Furta uma vodka, sai correndo bebendo no caminho. Fica aceso como um capeta. Dá uma risada demoníaca que ecoa no carnaval.

Materialidade das Coisas (conto) - Renê Paulauskas

Começou a perceber que as coisas tinham uma materialidade além de seus pensamentos. Uma formiga minúscula apareceu em sua mão. E em vez de olha-lá com calma e atenção, a matou. Em seguida reapareceu e a matou de novo. Já tinha visto deuses africanos, o espírito do seu pai, não poderia refutar tais visões jamais. Mas duvidava que hoje em dia as teria. Assim teve medo de renunciar tais visões. Mas acreditar no invisível ficou cada vez mais distante. E ficava contente que fosse assim. Enfim tinha um mundo em seus pés. Poderia desbrava-lo mesmo estando na meia idade. II A única mulher que às vezes desejava conhecera ainda criança, bem antes de se tornar mulher. Seu desejo era não por seus tributos pessoais, apesar de se tornar uma mulher muito bonita. Mas sim por ter sido durante longo tempo ela a deseja-lo. Sua primeira namorada também a conseguiu assim. Depois de saber de seu interesse a procurou e começaram a namorar. Já a moça, tinha tido uma filha e se casado. Parecia que não havia mu...

Acordado- Renê Paulauskas

 Lembro desde pequeno dos pregadores no varal e dos pregadores no chão, como se existisse um enigma a ser desvendado, se deveria ou não recolhe-los do chão e po-los no varal. Hoje penso menos nisso e minha resolução é por motivos mais práticos que abstratos. Me perdia horas em possíveis significados de sonhos. Fazia questão de lembrar das histórias como se fossem tão importantes como as acordadas. Mais novo ainda acreditava estar sonhando acordado. Duvidava da realidade como se tudo fosse um grande sonho impossível de se acordar. Hoje duvido muito dos meus sonhos, os interpreto como impulsos de descargas neurais enquanto o cérebro se reequilibra energeticamente. Acho que perdi um pouco meu lado mais da fantasia, mas me fez bem, eu era muito avoado.

Nosso Tempo - Renê Paulauskas

 Se pudéssemos nos afastar por um momento da nossa época para fazer uma análise de suas características, poderíamos dizer que nosso tempo é marcado por uma visão como se tivéssemos chegado no fim de todas suas possibilidades.  Como se tivéssemos chegado ao fim, da arte (como se todas possibilidades estivessem esgotadas), da vida (pelos eventos climáticos extremos), da sociedade (desinformação e fascismo). Assim o ser humano não vendo um futuro recorre a fuga, ora pela fantasia, ora desinformação (em formato de informação) deixando de lado o que seriam as coisas do mundo de fato gerando uma sociedade cada vez mais alienada e individualista dominada por quem controla o capital, a política e a informação. Numa zona cinza onde o capitalismo gera impacto ambiental e o mundo busca alternativas para não elevar ainda mais o clima extremo, a política se divide entre a consciência pela ciência e a barbárie pelo fascismo neo liberal. Como sairemos desse período negro, não sabemos. Talvez...

Saúde Mental - Renê Paulauskas

 Lá fora o mundo gira sobre forças materiais, leis da física, relações sociais, política, economia etc. No mundo interno o funcionamento das coisas tem haver com mundo mágico, afetos, crencas, superstições etc. É um mundo externo funcionando a todo vapor por pessoas movidas internamente por questões subjetivas às vezes só discutidas em análise. Saber equilibrar esses dois mundos é o sentido que carrego há anos, sabendo do perigo de um mundo engolir o outro, seja através do material, pelo excesso de trabalho. Ou pelo espiritual, gerando a loucura. Os dois efeitos colaterais se manifestam na falta de saúde mental. Que para estar equilibrada requer equilíbrio entre os dois mundos. Os remédios ajudam, análise faz parte, mas se o mundo interno não está funcionando bem de modo saudável, certamente não funcionará também na vida social. Do mesmo modo o excesso de trabalho pode deflagrar diversos transtornos mentais, que depois viram entraves para continuar a trabalhar. Pelo menos na mesma ...

Loucuras juvenis- Renê Paulauskas

 Nós pedíamos moedas para minha mãe para beber um litrão no bar mais barato do bairro. Éramos felizes com quase nada. Nos bastava os amigos, as amigas, como ela e a juventude.  Ela era sete anos mais velha do que eu, mas se sentia uma velha ao meu lado. Nos conhecemos por intermédio de uma outra amiga, maluca e ninfomaníaca, por quem eu estava interessado. Nos conhecemos no bar porão Lá Pe Jú perto da rua Augusta. Beijei ela na frente da ninfo pra fazer ciúmes. Perguntei "pra minha casa ou pra sua?". Ela falou que morava com o marido, mas estavam separados, foi aí que o caldo entornou. Meses depois estávamos os três: eu, ela e o marido como melhores amigos, comendo, bebendo, escrevendo, fazendo arte, os três. Mais tarde ainda descobri que ela falava pro marido que nós dois éramos somente bons amigos. E falava pra mim que estava separada quando não estavam. Ela estava apaixonada e eu só queria diversão. Um dia saímos eu, a ninfo, um amigo escritor e ela. Fomos num bar na Augus...

Vinil (conto) - Renê Paulauskas

 Vinil era um jovem inteligente que adorava contar suas histórias de ter prestado o Exército no fim dos anos noventa.  Seus amigos o adoravam e contavam que adolescente ele escalava o prédio em que morava na avenida Pompéia até seu apartamento no quinto andar. O conheci na escola de desenho por um amigo em comum. Conversamos rapidamente mas logo me convidou pra sair junto com sua amiga. Fomos numa Have no Bexiga. Passei meio mal e disse a ele que estava indo embora. Ele disse: __Vai com meu carro! __ Eu não sei dirigir. __ E rimos. II Vinil começou a me visitar em casa. Eu contava os sonhos que tinha tido com riqueza de detalhes. Ele falava das viagens que tinha tido com ácido. Até que depois de um tempo ele começou a falar umas coisas sem sentido. E começou a piorar. Eu não sabia bem o que estava passando com ele e preferi me afastar. III Longos anos se passaram até que o reencontrei, quando já estava terminando a faculdade. Trocamos telefones e marcamos de nos encontrar. Fiq...

O Homem do Lixo (conto) - Renê Paulauskas

 Ele pensava: Era gelado ou muito quente. Era dormente mas sem dormir direito. Era a fome constante e os restos na lixeira. Eram dores e confusão mental. Era ser invisível. Era ser odiado. Era o inverso da vida que tenho hoje. "Hoje sou reciclador de lixo remunerado. Tenho meu barraco. Tenho minhas coisinhas. Gosto do meu trabalho. É trabalho duro, mas como dizem lá no curso, tô ajudando a melhorar o mundo. Mulher e filhos não tenho. Sonho ainda em ter uma família. Não como aquela, de pai batendo na gente. Gente tem que ser respeitada, isso não se faz. Também não sou santo. Mexeu com meu cachorro viro bicho! Também tem que ter respeito com os animais. Aqui no morro tô até plantando uma hortinha. Vou trazendo da rua e planto tudo nesses vasos de plástico. Tá ficando bonito, não? Outro dia sonhei com minha mãe, faz mais de vinte anos que não a vejo. Desde que saí do interior até chegar aqui. Cidade grande, no começo era tudo novidade. Mas não tive onde ficar, logo fui me sujeitando....

Ele- Renê Paulauskas

 Ele andava hora olhando pro chão, hora pro céu, e achava graça nas pombas e seu jeito mímico de andar. Era tímido, guardava o mundo pra si. Falava pouco, era um bom ouvinte, mas ficava irritado com pessoas que falavam demais. Mesmo assim, tinha com seus poucos amigos, uma grande dedicação. Com um amigo, conheceu uma garota. Ela era punk. Se encontraram algumas vezes até começarem a namorar. Ele dava vazão a um espírito novo de aventura onde iam. Ela era baixista e quando não estavam em shows estavam namorando em lugares proibidos. Foi ficando corajoso, mas ainda com traços de timidez.  Passaram um ano entre viagens, shows e sem esperar, ficaram grávidos. Para ele foi de longe o dia mais feliz de sua vida, para ela, nem tanto. Mesmo assim juntaram as trouxas e foram morar juntos.  O bebê nasceu, ou melhor, a bebê. E o casal começou a dar sinal de suas primeiras falhas. Ciúmes excessivo por parte dela e perderam a casa onde moravam. Já em outra casa, ele cuidava de tudo. A...

Vida- Renê Paulauskas

 Hoje senti uma coisa que a muito tempo não balbuciava: "Tá valendo a pena viver a vida!". A filhota estudando, a irmã trabalhando, eu desenhando... Mãe e avó se dando bem... Até a tia virou advogada...  Os amigos também. Os melhores outsaiders do planeta. Gente talentosa, que faz as coisas com amor. Seja na economia solidária, na sociologia, nas artes, no meio ambiente ou na aldeia. Hoje consigo enxergar um novo mundo, porque ele está dentro de mim. Tarefa nossa continuar germinando e adubando esse solo. Pra que nasçam novos frutos para o jardim.  Até o governo está reconstruindo o Brasil, mais um motivo pra ficar otimista. Tudo na direção certa. Quem sabe esse povo não volte a ser o povo mais feliz do mundo...  Quem sabe as guerras cessem... A gente consiga controlar o super aquecimento global... Diminuam as desigualdades... Não exista mais fome... São sonhos, que não existem sem utopias, algo que valha por que lutar. Sem isso, sem isso, nada vale a pena. Pouco val...

Fim?- Renê Paulauskas

 O mundo trocou o afeto por curtidas. As pessoas agem como se só elas existissem, pouco importa o outro, lembrem de mim.  Criamos uma sociedade de psicopatas mimados. Ninguém mais quer um mundo melhor, não se for depender do meu sacrifício. Em troca, todos querem sucesso individual. Como isso pode dar certo?! As redes sociais deixaram o planeta solitário e despreparado. Jovens hoje não sabem o valor de uma amizade, preferem se comunicar com suas redes, formadas por gente tão solitária e despreparada pra viver no mundo como eles próprios. Mas já tá todo mundo viciado, o estrago já tá feito. Posso estar sendo pessimista demais, mas acho que acabamos de entrar no fim da humanidade, pelo menos se tivermos como referência o que ela já foi.

Bolhas- Renê Paulauskas

 Bolhas. Bolhas que não abrem, bolhas. Pela qual se protege. Bolha, como a bolsa uterina onde podes sonhar. Pra que não sintas a acidez do mundo de fora. Te protege em teu casulo eterno, pouco importando se vais ou não um dia voar. Te esconde com só seus deletos, pra caminhar nesta bolha, eterna bolha.